Graz, Áustria
25 de maio de 1885
Diário Kat
Eu sou muito boa em protelar. Nem sempre, mas a maioria das vezes. Levou quase cinco anos até algumas das mais poderosas e talentosas vampiras do mundo perceberem que eu estava apenas as enrolando, então acredito que mereça crédito.
- Então, podemos falar sobre o que somos agora? – Sophie disse depois de reunir todas sutilmente na cozinha.
Nós estamos na cabana onde minha mãe e eu fomos sacrificadas. Não posso chamar esse lugar de lar, mas como última bruxa Petry esse lugar pertence a mim. Por isso eu passei os últimos quatro anos, limpando e organizando todo o lugar com a ajuda de Ellie, Sophie e Anika.
Agora nós temos quatro quartos limpos e arejados, uma cozinha arrumada e espaçosa, uma sala aberta – todos os móveis da sala foram queimados -, e uma biblioteca que nós chamamos de "Sala Secreta" que além dos grimórios, livros e diários possui todos os elementos de rituais das bruxas da família.
Nós também queimamos todos os itens pessoais das bruxas que já viveram aqui, principalmente os da minha mãe. A casinha de dejetos também foi queimada e uma parede inteira teve que ser destruída e reconstruída por causa dos corpos presos lá dentro. Levou três meses para construirmos um jardim na parte da frente, onde as bruxas geralmente eram enterradas. E para terminar contratamos – bem, Sophie contratou – pessoas para pintar toda a casa, exceto a Sala Secreta.
Também achamos dinheiro suficiente para fazer roupas novas na cidade, e comprar sapatos novos também. Sophie se envolveu com as pessoas da cidade, mas só Ellie tem coragem de sair para caçar, enquanto eu me enterro na melancolia de não poder transformar ninguém.
- O que você quer dizer? – Perguntei.
Sophie estava usando um penhoar, sentada a janela de uma forma nada recatada. Não que isso fizesse diferença para mim ou para Ellie, que estamos com ela há um bom tempo, mas Anika ainda tem muitos resquícios da sua vida humana na corte austro-húngara e fazia caretas sempre que ela deixava mostrar o que não devia – como o joelho.
- Já faz quase 5 anos que Pierre foi embora, Anika está aqui e a maldição de Kat se transformou em algo muito mais sério. E aqui estamos nós sem saber se pertencemos à Morte ou ao Inferno. Terminamos tudo e o que eu quero fazer é ir embora dessa maldita cabana e transformar algumas vampiras!
Eu e Anika falamos ao mesmo tempo:
- Transformar algumas vampiras? – Perguntei franzindo a testa.
- Eu pensei que você gostasse da cidade! – Anika disse, chocada.
- Não, Annie, eu não gosto. Eu passei os últimos anos tentando, com muita força, mas eu simplesmente não nasci para Graz.
- Você cresceu em uma cidade que é metade do tamanho dessa aqui. – Anika disse cruzando os braços e se aproximando de Ellie, inconscientemente.
- E uma das partes boas em ter virado vampira é que eu não vou ter que passar o resto da vida em um buraco como esse. Quer dizer, só faz 12 anos que eu fui transformada, um dia eu posso até me estabelecer em uma cidade pequena e ter uma vida imortal tranquila, mas eu quero garantir que eu vou ter matado pelo menos 50 pessoas de cada nacionalidade antes de pensar no assunto.
Como eu dei uma risada que saiu pelo nariz, Sophie pareceu se lembrar da minha pergunta.
- E é Kat, eu quero transformar vampiras. Ellie tem uma, porque eu não posso ter?
- Ei, Anika é vampira de Kat! – Ellie protestou, levantando os braços.
Mas Anika está parada atrás dela, com as mãos em seus ombros, como se fosse uma criança pedindo proteção.
- Ah, por favor. – Sophie diz cruzando as pernas o que faz Anika gemer - Anika é quase sua bonequinha já que seu filho foi embora.
- Eu transformei Anika para Kat!
- O sangue nela ainda é o seu, a morte dela ainda veio pelas suas mãos e a fidelidade dela ainda é sua. E mais importante uma das últimas lembranças dela é o sangue de Kat a machucando, então o último eco de sentimento não foi exatamente um sentimento positivo sobre Kat. O que nos leva ao principal: a maldição.
- Maldição que só começou porque você virou vampira. – Ellie disse, fria.
- Eu não pedi para morrer e muito menos para ser batizada, então não jogue isso contra mim. Então... - Ela fez uma pausa dramática e olhou bem para mim - Todas nós sabemos que Ellie deve morrer. O que estamos esperando?
Anika apertou o ombro de Ellie e eu cruzei uma perna sobre a outra, esperando Ellie explodir. Mas a vampira simplesmente se virou para mim e fixou os olhos azul gelo nos meus:
- É, Kat, o que estamos esperando?
- Não vou matar você, Ellie.
Anika suspirou, aliviada e Ellie ergueu a sobrancelha.
- E vai fazer o que? Passar a vida toda sendo meio vampira?
- Eu vou achar outra forma, mas eu não vou dar à Morte o que ela quer outra vez. E muito menos fazer o que Pierre mandou, porque ele mandou.
Sophie balançou a cabeça, fazendo o penhoar se abrir, mas os cachos caíram sobre o decote.
- De que diabos você está falando?
- Eu sei que vocês pensaram sobre tudo durante esse tempo, mas não tanto quando eu. Passei últimos dias na Sala Secreta, lendo a história de algumas das minhas antepassadas. Decidi que não vou dar ao Inferno e nem à Morte o que eles querem, não interessa a parte de mim que eu tenha de sacrificar.
Ellie não se permite mostrar o que estava pensando.
- E quanto a tudo que você prometeu a Deyah?
- Eu vou cumprir, só vai levar mais tempo do que o esperado. Eu vou fazer do meu jeito, sem precisar de ajuda da Morte.
- O maior defeito de uma bruxa é o orgulho. – Anika disse ainda com a mão sobre o ombro de Ellie.
Sophie riu.
- Você não era uma boa bruxa, era?
Ela deu de ombros.
- Mamãe nunca me deixou praticar tanto quanto eu queria.
- Você tem tanto a aprender, querida. Tanto.
Maebashi, Japão
1º de julho
- Qual era o último nome da mãe?
- Ela nunca disse. Mas não era daqui, isso eu posso garantir.
O bebê magrelo apenas olhava em volta, como se a conversa não tivesse nada a ver com ela.
- E o primeiro nome?
- Juliette. Pelo menos foi o que ela disse. Mas nós não podemos dar esse nome ao bebê! Já é um nome desgraçado por si só!
- Você quer vender essa criança e mal sabe quem ela é. Ela é desgraçada.
- Apenas escolha outro nome.
- Certo. Naomi, então. Quer dizer aquela que agrada. O dinheiro vai me agradar e muito.
- Bem, eu gosto desse.
- Ótimo. Então você vai vendê-la ou não?
A recém-nomeada Naomi foi passada à mulher de vestido colorido que a criou pelos 15 anos seguintes.
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As Crônicas de Kat - A História Completa
VampireConheça Katerina, uma vampira criada à força na Europa do século XIX por uma mãe bruxa desesperada em sua busca pela imortalidade e seus segredos. Kat sobreviveu por muito tempo se considerando nada além de um ser inferior do Inferno, destinada apen...