Réquiem - II

23 5 0
                                    

12 de dezembro

Naomi

– Os tempos mudaram. – Tatiana diz, por trás da xícara de café, aproveitando o aroma – Os grupos de adoradores de vampiros estão cada vez mais conscientes dos seus próprios poderes e não mais adoram-nos como deuses. Ouvi até mesmo que sangue de vampiro está a venda.

Ela está me contando sobe a visita que fez a um dos grupos de debate sobre vampiros que conhecemos em 1997. Estamos no Cafe du Monde com pedidos que não vamos consumir, mas gostamos de mostrar que podemos comprar.

– Nós não devíamos ter voltado. – Eu digo, com um suspiro.

– Não acho que teríamos conseguido parar Kat. – Tatiana responde, dando de ombros – Ela tomou a decisão e tenho certeza que existe um motivo por trás disso.

– Sempre existe um motivo por trás do que Kat quer fazer e nós nunca sabemos qual é ele até que ela queira.

Ela concorda com a cabeça. Ficamos em silêncio encarando nossas xícaras, as duas pensativas. Dois carros passam devagar pela rua e eu acompanho eles com o olhar até desaparecem.

– Ela nos diria se já tivesse encontrando a família de Deyah, certo? – Tatiana pergunta, depois de um tempo.

– Talvez. A menos que tivesse um motivo para não fazer isso.

Ela suspira.

– Por que nada é fácil com Kat?

– Não sei, mas aparentemente lidar com isso é um extra vem com o sangue da transformação.

Ela concorda outra vez e passa o indicador pela xícara delicadamente – o café já está ficando frio. Eu hesito por um instante, mas resolvo dizer sem medo:

– Posso fazer uma pergunta que ninguém jamais faria no Exército?

– Se você não se importar com uma resposta completamente honesta. – Ela diz, sem olhar para mim.

– Quanto você confia em Kat?

Ela ergue os olhos escuros para os meus.

– Quanto você confiaria em uma garota mimada e cheia de si que por uma combinação do destino não tem sentimentos e é uma criatura do Inferno? – Sorrio timidamente e isso a instiga a continuar: – É claro que eu sou leal a Kat. E devo muito a ela. E acredito em seus planos e ideais, confiando minha vida a ela. Também acredito no quanto ela nos preza e confia em nós. Mas eu estou consciente o tempo todo de quão fácil seria para Kat acabar com todas nós nessa brincadeira. E eu sei que ela também percebe isso em nós. – Ela dá de ombros – E quanto a você?

Eu penso um pouco.

– Eu vou com o fluxo e confio porque tenho que confiar para me manter segura. Eu sei que Kat não deixaria que nada acontecesse conosco, não porque se importa, mas porque nos considera dela. Além disso, não consigo parar de pensar em como a vida eterna seria entediante sem Kat e o Exército.

– Talvez – Tatiana diz, com um sorriso – Mas a verdade é que você não pediu por isso. E nem eu.

Me arrumo na cadeira.

– Você se arrepende?

– Não, eu gosto dessa vida. Além disso, me arrepender de quê? Eu fui transformada porque estava morrendo. Não tive uma opção. Mas também não tive uma opção a respeito dos caras que invadiram minha casa e mataram todos que moravam lá. Estou vivendo e pensando, então não vou jogar isso fora. Mas não vou mentir sobre querer saber o que escolheria se uma opção me tivesse sido concedida.

As Crônicas de Kat - A História CompletaOnde histórias criam vida. Descubra agora