Réquiem - III

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9 de julho

Kaylee

– E você acha que viveria com ele mesmo com todas as suas cicatrizes? – Amelie pergunta, me encarando com o olho direito, enquanto o esquerdo está fechado por causa da luz do sol.

Ela então faz uma pausa, como se tivesse esperando por uma reação negativa depois de falar sobre as cicatrizes, mas eu não me importo de que falem a respeito. O meu problema são os olhares. Quando começam a encarar meus braços ou falam comigo como se tudo que conseguissem ver fosse alguém para sentir pena. Isso me incomoda e me deixa com uma raiva assassina, que infelizmente precisa ser controlada na maioria das vezes.

– Eu estava contando com o arrependimento dele ou uma crise de meia idade. O plano era destruir a casa por dentro, se é que você me entende. Mas foi um plano idiota, a ideia de me matar enquanto destruía as bruxas era bem melhor. Minha raiva era delas, ele era apenas um fraco.

Estamos deitadas na grama do jardim dos fundos da casa dela, aproveitando o sol. Ela esparramada com a barriga para cima. Eu de barriga para baixo, a observando com os cotovelos sobre a grama. Eu não sei dizer como exatamente me tornei próxima de Amelie, mas quando todas nós fomos a uma reunião dos Apreciadores da Arte do Sangue, ela demonstrou maior interesse em mim que nas outras vampiras do Exército. Apesar de esquecidas pela cidade, nós nos tornamos uma espécie de lenda entre o seleto grupo de estudiosos de vampiros e até mesmo o grupo de Amelie, formado depois de nossa saída da cidade, parecia bem interessado em saber porque tínhamos tido coragem de voltar a Nova Orleans apenas 17 anos depois do massacre. Interessados até demais.

– Você sequer o procurou, depois de ir embora. – Ela diz, simplesmente, depois de um tempo.

– Por que eu faria isso? Como eu disse, ele foi um fraco, que me desprezou tanto que me entregou para suas maiores inimigas.

– Você não teve interesse sobre seus irmãos e irmãs?

– Não. O conceito de família muda quando nos tornamos vampiras. A maioria de nós acabou matando nossos pais, por motivos diversos. É quase parte da linha da vida para nós treze. Não sei porque você quer tanto saber sobre isso.

Ela se vira e fica na mesma posição que eu, abrindo os dois olhos escuros.

– Tudo sobre você me interessa, Kaylee Jones.

Reviro os olhos.

– Claro que sim, você é uma estudiosa de vampiros.

– E você não fica nem um pouco interessada em saber porque entre 13 vampiras para estudar, eu escolhi você?

– Eu penso mais em como você nunca se perguntou porque eu me aproximei de você tão deliberadamente, considerando o que sabe sobre vampiros que se aproximam de humanos.

Ela dá de ombros, o que é um movimento estranho por ela estar apoiada sobre os próprios cotovelos.

– Eu sei me proteger.

Caio na gargalhada.

– Disso eu duvido.

Amelie está chateada quando eu paro de rir, o que me entedia. Quando me chamou para um chá, há alguns meses, eu pensei que ela fosse me encher de perguntas sobre Kat e sobre o Exército. Pelo contrário, quando passou das perguntas educadas sobre a minha estadia em Nova Orleans e indicar onde eu poderia conseguir doadores "irresistentes", ela só fez perguntas sobre mim e sobre minha antiga vida. Eu não sei o que possivelmente ela poderia estar tentando conseguir com isso, não me importo de falar sobre Cianne, apesar de minha existência como humana ser enxergada através de um espelho. Falar sobre isso não vai criar um laço entre nós porque laços com vampiros só são criados através de ligações de sangue e... Desvio de um pensamento improvável e me coloco de pé.

As Crônicas de Kat - A História CompletaOnde histórias criam vida. Descubra agora