Nova Orleans, Estados Unidos
12 de dezembro de 1997
Diário de Kat
Eu preciso admitir: a casa que compramos para viver em Nova Orleans é maravilhosa. Possui dois andares: no de cima ficam os 10 quartos, coloridos e decorados ao bel prazer de cada uma das donas, no de baixo ficam a sala, o salão de baile, a sala de jantar, a biblioteca – ou cela de Pierre se preferirem – e a cozinha.
A sala de visitas é nosso lugar preferido. Ficamos quase o dia todo ali, conversando, lendo, fazendo brincadeiras e às vezes costurando com Ellie. Os invernos na Louisiana são tranquilos, perfeitos para passar um tempo relaxada à luz da lareira... De dia, é claro. A noite a coisa muda totalmente de cenário.
Festas da alta e baixa classe dominam as noites de novembro e dezembro em Nova Orleans. Boates são dominadas por música alta e envolvente e por milhões de corpos desesperados. Salões de jantar de classe alta ficam cheios de pessoas bem vestidas, música clássica e do som de taças de champanhe sendo chocadas umas contra as outras. Nós dez nos revezamos entre um tipo de festa e o outro a cada noite. Temos passe livre para qualquer boate e somos as primeiras a receber convites para as festas da alta classe. Todos querem exibir as irmãs Hass em sua casa, a família mais quente da cidade, a mais conhecida.
Tudo começou nove meses atrás. Nunca íamos as dez até a próxima cidade que invadiríamos, sempre enviávamos duas de nós para dar uma geral na cidade antes que pudéssemos entrar e descobrir se conseguiríamos o que precisávamos lá. Para Nova Orleans era a vez de Sophie e Charlottie. Elas demoraram um dia a mais que o combinado, que já era uma semana. Mas antes que pudéssemos nos preocupar, elas voltaram, ambas com roupas novas e um brilho no olhar que eu não via no rosto delas há muito tempo.
- Nova Orleans é... – Sophie suspirou, deixando a paixão pela cidade transbordar. Soph tem sentimentos apenas pelas coisas certas. – A Paris do século XIX. Bem, como me contaram que Paris era no século XIX. Bailes tomam conta das ruas, mulheres bem vestidas e cheias de joias passeiam para lá e para cá. Homens brancos e mestiços todos muito bem-apessoados andam pelas ruas assobiando e balançando o chapéu. É claro que existe muita coisa moderna lá, carros, semáforos e coisas do tipo... Mas as pessoas! – Mais suspiros – Ah, as pessoas parecem congeladas no tempo, tão encantadoras quanto eram cem anos atrás. E a maior parte delas fala francês! – Ela foi até Ellie e apertou suas mãos entre as dela – Ah, Ellie, você iria adorar. Ou melhor, você vai adorar! Nós vamos? Não vamos? – Ela pousou os olhos sobre mim ao dizer isso, implorando por uma confirmação.
Mesmo que todas as vampiras do Exército, até mesmo Ellie, não estivessem completamente encantadas com essa descrição, eu não saberia dizer não àqueles olhos turquesa. Viemos então para Nova Orleans. Pierre reclamou, dizendo que aquilo ali era igualzinho à velha Orleans, que era um saco. Ninguém se importa com a opinião de Pierre, então dissemos para ele calar a boca e nos seguir.
Primeiro ficamos em um hotel, o que já chamou atenção, porque nós dez nos apresentamos como irmãs, com o sobrenome Hass. Explicamos que só tínhamos o pai em comum, ele havia tido várias mulheres e dos mais diversos países europeus. Todas elas acabaram morrendo e por fim, papai morreu, deixando-nos com um grande legado que não queríamos dividir, já que somos muito unidas. Sophie deixou claro também que estava a procura de uma casa grande para morar em Nova Orleans, o que deixou todos que ouviram essa história muito felizes. No dia seguinte, já éramos assunto.
Todos os olhares se viraram para nós quando saímos para o café da manhã. Não comemos nada, é claro, mas era incrível ser o centro das atenções e o tema dos cochichos enquanto agíamos de forma leviana, como as ricas jovens que somos. Assim que saímos compramos um carro, ou melhor, uma limusine. Pierre, que aprendeu a dirigir na Rússia, se transformou em nosso motorista, mas as mãos de Sophie ficavam a todo tempo perto do pescoço dele, ameaçando tocá-lo caso ele tentasse tomar essa posição como liberdade. Ele parecia cada vez mais cansado, cada vez menos ele mesmo. Não tinha nada a ver com o menino que nos traiu e fugiu e nem com o jovem soldado ferido que foi carregado até nosso apartamento em Genebra. Ele era um demônio inocente que finalmente descobrira o que aconteceria caso todos os vampiros voltassem a ter almas. Seu ódio era distribuído entre Sophie, Anika e agora Tatiana, que ao contrário do que ele queria, se ligou muito mais a Ellie do que a ele.
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As Crônicas de Kat - A História Completa
VampireConheça Katerina, uma vampira criada à força na Europa do século XIX por uma mãe bruxa desesperada em sua busca pela imortalidade e seus segredos. Kat sobreviveu por muito tempo se considerando nada além de um ser inferior do Inferno, destinada apen...