Wild Ones - VI

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Vatra Dornei, Romênia

18 de fevereiro

Eleanor

Acordo de repente com a luz que entra entre as madeiras que formam o barracão. A manhã chegou de repente e parece quente. Quente demais. Assim que me sento e esfrego os olhos vejo a palha remexida e a ausência de Kat. Eles a levaram antes de amanhecer de novo e desta vez eu estava exausta demais para acordar com o movimento. Enfio as unhas nas mãos para não explodir de raiva. Se eu pudesse eu já teria derrubado cada pedaço de madeira desse barracão e destruído qualquer um que tentasse tocar em Kat com as minhas próprias mãos, mas é claro que eu não posso. Só vampiros podem entrar e sair daqui sem serem conduzidos, o que é outro dos motivos pelos quais eles costumam deixar Kat machucada demais para sair.

Fico de pé e começo a andar pelo barracão para esticar as pernas. Chuto o chão enquanto ando fazendo buracos maiores do que o esperado que resultam em uma poeira absurda. Me imagino chutado a cara de cada dos membros do clã romeno. Me imagino destroçando eles de dentro para fora, arrancando cada órgão não vital, antes de arrancar o coração e entregar para os lobos que eles sempre mantem por perto. Assim que penso neles, ouço um uivo. Cada pelo do meu corpo se arrepia. Nenhum lobo uiva de dia, mesmo que ainda seja muito cedo. No mesmo instante sinto minhas veias ferverem.

A pedra de safira sobre meu coração esquenta e eu puxo a corrente para olhá-la. Não que eu precise olhar para ela para ver o que minhas veias já acusam e meu pescoço já clama: Está negra. Kat está sangrando. Minha visão fica vermelho escuro e eu corro até a porta do barracão, mesmo sabendo que não vai levar a lugar nenhum. Rosnado desesperados escapam dos meus lábios conforme minhas mãos arranham uma parede invisível que recobre as paredes de madeira. É infrutífero, não tem como eu alcançar a porta real abri-la e sair. Mas eu não paro. Continuo arranhando pelo que parece horas e gritando até minha garganta doer. Eu ouço pessoas se aproximando, risadas de desdém e amaldiçoo toda sua existência e cada respiração que eles dão. Meus pulsos doem e eu desejo que eles quebrem, mas não paro. Não posso parar. Chega ao ponto de eu não saber mais porque estou fazendo aquilo, só sei que preciso.

A razão me atinge quando outra parte do meu corpo começa a doer e eu percebo que machucaram Kat em outro lugar. Um grito aterrorizado sai de minhas entranhas, tão gutural que nem reconheço como meu, tão alto que faz com que os lobos voltem a uivar. Minha alma estúpida me prende aqui. A mesma alma que é a razão pela qual Kat está sendo torturada enquanto eu permaneço viva. Indestrutível. Deslizo pela parede e caio no chão com um baque. Minha raiva se transformou em lamento, meu corpo agora pertence a minha tristeza. Minha maldição se tornou quem eu sou. Por meio segundo, uma faísca dentro de mim, eu me permito imaginar o que aconteceria se eles vencessem. Se eu me permitisse morrer. Kat morreria no segundo seguinte, mas ela deixaria de sofrer. Eu poderia pensar em uma opção para que a alma dela fosse salva. Talvez... Talvez eu pudesse negociar sua alma, em troca da minha vida. Ela teria paz e o Inferno teria o fim da luta que estão tentando evitar. O fim do Réquiem.

O meio segundo vai embora em um instante. É de Kat que eu estou falando. Ela não quer paz. Ela não quer grandes atos em nome de sua felicidade. Ela quer grandiosidade, vitória. Ela tem orgulho do que fez e do que criou. E eu sou uma dessas coisas. Desistir não é uma opção. Deixar que eles vençam muito menos. Salvar Kat não é enviar sua alma para o céu. É mandar a alma de seus inimigos para o inferno. E eu farei isso não importa o que aconteça daqui em diante.

Esse pensamento parece acalmar algo dentro de mim. Alcanço a pedra em meu pescoço e respiro fundo. Sei que eles não vão matá-la. Eles querem que eu me mate antes e eu não vou deixar isso acontecer. Mesmo que ela esteja machucada e sangrando, em breve trarão ela de volta e a deixarão sofrer em paz. E então eu darei um jeito para que ela melhore. E pensaremos juntas em uma forma de sair daqui. Repito isso para mim mesma mil vezes, de olhos fechados e tentando ignorar a dor que percorre meu corpo indicando os lugares onde Kat sangra. Pescoço e barriga. Não sei o que fizeram com ela, mas algo dentro de mim indica que provavelmente tem algo a ver com os lobos.

As Crônicas de Kat - A História CompletaOnde histórias criam vida. Descubra agora