Nosferatu - II

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Este capítulo exigiu complicada pesquisa. Quase nada do que está descrito aqui foi documentado, pelos mais diversos motivos. Muitas entrevistas foram necessárias para que uma narrativa coerente conseguisse ser montada; e ainda assim, detalhes importantes permanecem omissos e possivelmente só poderão ser contados em outros capítulos.

Relato a caminho da Romênia

1873

- Eu nasci para ser um sacrifício. Minha mãe garantiu que tudo na minha vida fosse preparado para que eu fosse nada além de um perfeito sacrifício. Imaculada. Katerina.

"O único problema é que eu era mais poderosa que o esperado. Eu conseguia aprender os feitiços mais complicados desde bebê. Costumava passar noites e mais noites na floresta, brincando com os elementos. Os espíritos falavam comigo o tempo todo e se tornaram meus melhores amigos.

"E com muito poder, é claro, vem muita vaidade. Eu sabia que era um sacrifício. Eu sabia do meu destino final. Eu só tinha nascido para aumentar o poder da minha mãe. Mas não estava disposta a abrir mão da minha vida pelos poderes dela.

"Comecei a alimentar sonhos. O único lugar que eu conhecia era Graz e eu odiava Graz. Tudo era tão devagar. A única animação acontecia quando a família real visitava a cidade, o que só aconteceu uma vez enquanto eu ainda era viva. E eu nem morava em Graz, eu morava em uma cabana nos arredores. Eu queria conhecer o mundo e ver até onde teria poder nele.

"Inocentemente, contei para mamãe isso tudo. Esperava que ela desistisse de seus planos ao saber minhas aspirações. Claro que eu não sabia do tamanho dos planos dela. Ela pretendia muito mais do que simplesmente me matar. E para isso pretendia me colocar em meio à guerra de duas das maiores forças do universo, enganando a Morte no processo."

Viena, Áustria

1º de novembro de 1880

Diário de Kat

Eu nunca tive uma chance real de conhecer o país onde eu nasci. Fiquei presa naquela cabana até os 10 anos e depois fui mandada para a Romênia, só conseguindo pensar por mim mesma na década de 50, quando fui para a Rússia. Logo, a única parte da Áustria que eu conheço é Graz, cidade que nem se equipara a grandeza de Viena.

Viena é uma cidade cheia de vida e cheia de verde. É como qualquer capital do mundo, cheia de pessoas com pressa, cheia de histórias e de uma energia pulsante mágica que me deixa encantada... Mas deixa Ellie sutilmente entediada.

- Não é como Paris. – Ela disse de dentro do cabriolé, arrumando as meias e ajeitando o vestido. – E é mais frio.

- E cheio de pessoas gritando nessa língua estranha. – Pierre concordava, fazendo uma careta.

- É esloveno. – Respondi com o rosto colado na janela, observando a rua – Mas não se preocupe, a maioria das pessoas fala alemão.

- O país não tem sequer uma língua oficial. – Sophie comentou de lado.

Eu bufei.

- Se gostam tão pouco da Áustria deveriam ir para outro lugar!

Eu sabia que os três pares de olhos me encaravam de seus lugares, mas nem me dei ao trabalho de olhá-los.

- Nós não vamos a lugar nenhum sem você, Kat. – Sophie disse serenamente, depois de um tempo.

- Eu não estou forçando ninguém a nada. Não deveriam ficar aqui contra sua vontade.

Então o cabriolé parou, na frente do palácio. Aparentemente, a família real tinha saído a passeio e agora voltava para casa, saudando os súditos e por isso causando um caos na rua. Eu coloquei a cabeça para fora da janela e encarei o cortejo.

As Crônicas de Kat - A História CompletaOnde histórias criam vida. Descubra agora