Brandon on
Eu nunca acreditei muito no amor, nas coisas que ele fazia ou do poder que ele possuía. Eu nunca amei ninguém. Porque amar é uma total perda de tempo. Você nunca será amado da forma que deseja e sempre amará mais do que queira sentir. Nesse jogo corações são partidos e vidas são esquecidas. Aqui corações realmente doem mesmo sabendo que isso é impossivel perante a medicina. Cientistas afirmam que apenas o cérebro é capaz de senti emoções, o coração apenas o expressa. Então por que doe tanto a parte esquerda do meu ser? Por que o meu coração vai do zero a mil por segundos? Mas eles também dizem que o amor é o remédio para todas as feridas. Que ele é a solução pro mundo, a luz no fim do túnel. Eles costumavam dizer isso quando eu entrava numa salinha branca e me colocavam sentado numa poltrona. Eles falavam comigo sobre como o dia estava belo. Sobre como incrível estava o azul no céu, mas eu nunca prestei atenção, porque meus olhos sempre estavam grudados na moça de branco, ela sempre me oferecia um sorriso que acalmava o meu ser, e durante aquele sorriso eu conseguia controlar a minha respiração e a palpitação do meu coração.
"__Olá Brandon__ A voz dela me lembrava a paz, a mesma que eu tanto procurava sentir, o tom azul claro no seus olhos era o mesmo que eu imaginava no céu que eles tanto pintava para mim __Como você está hoje?" Eu tentei tantas vezes sorrir e forçar as palavras saírem pela minha boca. Eu realmente desejava responder aquela pergunta mas toda vez que ela era dita todo mundo parava o que estava fazendo e me encarava, eu tinha medo dos olhares deles. Medo de que minha resposta não fosse aquilo que eles quisessem escutar.
Eu só não queria ver minha mãe chorar como ela fazia toda vez que erámos levados pra uma salinha e um cara sempre dizia algo que a fazia chorar eu odiava ele. Eu também odiava ver o desapontamento nos olhos do meu pai e avôs toda vez que eu dizia que doía algo em mim. Então eu aprendi a guardar tudo pra mim mesmo. Desde da dor a perca de cabelos que caia conforme eu jogava futebol, eu parei de jogar eu parei de brincar.
"__Tudo bem Brandon" Ela novamente sorria e segurava minha mão, eu acompanhava ela sentar ao meu lado, mas a paz do seu toque era mais rápida que a velocidade da luz.
"__Não vai doer campeão" eu queria contrariar ela, queria dizer que sim doía, sempre doeu. Doía a cada agulhada a cada espiro que sempre saia sangue da minha garganta. Doía quando eu forçava a respiração, doía quando eu falava e doí agora. Mas eu sempre segurei as pontas. Eu sempre repetia que tudo acabava, tudo tinha um fim, então a minha dor também teria eu só tinha que aguentar mais um minuto e tudo ficaria bem "é só uma agulhada Carter, você vai superar. Afinal um Carter sempre supera". "É o amor Brandon" Renata sempre dizia a mesma coisa enquanto eu segurava sua mão. Eu sempre perguntei como ela aguentava tudo aquilo sem nunca reclamar, gritar ou chorar, mas ela sempre dava a mesma resposta. Então eu a admirava, eu admirava a coragem que ela tinha sempre bancando a forte mas eu sabia que as coisas não estavam bem, não poderia estar. Eu não estava bem, o irmão dela não estava bem, ela não estava bem ninguém estava bem e eu sabia que ela iria desabar em algum momento e isso acontecia todas as noites e foi nesse instante que eu percebi que amava Renata. Foi segurando o seu mundo que eu me senti necessário. Renata via em mim o que ninguém jamais viu, pra ela eu era além do menino doente ou do amigo do Jake, do garoto que esbanjava a morte, que estava mais pálido a cada dia que se passava, do garoto que fedia de tantas sessões de quimioterapia. Eu tinha pouca idade mas foi a primeira vez que experimentei o amor, um amor que não fosse o que eu sentia pela minha familia. Eu tinha três amuletos da sorte que sempre me apoiavam, a mulher de branco que passava a noite comigo e me levava pra ver as estrelas, a que me ensinou tudo o que sempre tive de amor e meu eterno companheiro de doença. Falar do Jake não machuca mais, eu já nem me lembro do seu rosto e vagamente me recordo da rouquidão da sua voz. Jake virou uma mera lembrança que se apaga conforme o tempo passa. Eu me odeio por isso, porque eu sei que daqui alguns anos eu não lembrarei dele. Eu me odeio porque estraguei com o nosso único laço, Jake morreu a muito tempo. Tempo demais pra uma pessoa que tinha apenas oito anos. Mas Renata ficou. Ela era a copia dele, a mesma cor de cabelo o mesmo olhos acinzentados, o mesmo sorriso e eu me convenci de que estava tudo bem. Que nada tinha mudado, desde que eu tenha Renata ao meu lado eu não precisaria dizer adeus a ele. Mas ela também mudou, não tinha mais o cabelo da cor de ouro e nem a mesma inocência nos olhos. Renata estava abrindo mão dele. Estava dizendo adeus as únicas coisas que o mantinha vivo em nossa memoria. Renata estava se tornando parecida comigo e sem perceber Jake se tornou apenas um figurante em nossa vida. Então a culpa me consumia todos os anos no dia do seu aniversário. Eu sou um monstro e ninguém vai mudar isso. Eu abandono quem me ama. Foi assim com o Jay, com a mulher que eu acreditava ser um anjo, porque na minha cabeça apenas anjos amaria alguém como eu, foi assim com a Renata. E eu me perguntava se seria assim com Maju. Ela estava em pedaços na minha frente se desmoronando enquanto lutava contra o medo e se entregava as memorias, estava claro que suas cicatrizes estavam sendo abertas e sagrando "Me diz Carter, do que vale se entregar ao amor sabendo que ele vai te ferir?", "São dores Carter, elas devem ser sentidas". Eram os meus medos gritando pra mim mesmo o que eu pensei ter superado.
Flash Back on
__Um dia Brandon você vai encontrar o amor.
Deixo que uma gargalhada escape de mim. A água escorrendo pelo meu cabelo enquanto esfrego o rosto com as mãos. Fecho os olhos e levanto a cabeça dando acesso a água sobre o meu rosto, com a ponta da língua sinto uma gotícula d'água.
__Eu não amo Renata__ Digo sentindo seus olhares sobre mim, sobre a minha costa __Pensei que você soubesse disso.__ Com olhos concentrados nela, vejo ela mergulhando sobre a água cristalina da piscina.
__É claro__ Ela sorri, um sorriso cínico__ Como você diz mesmo, em Carter?
__Amor é uma total perda de tempo__ Dizemos em uníssono, o barulho da risada tomando conta do espaço.
__Você ainda irá amar alguém Carter, escute o que eu estou te dizendo.
__Você esta parecendo a Ma com essa sua paranoia de amor__ Dou um pulo na piscina e a encontro segundos depois, puxo-a para um abraço apertado e depois deixo minha mão descansar em sua cabeça __ Coloca nessa cabecinha que eu não amo.__ Me afasto dela e me preparo para mais um mergulho__ Brandon Carter não ama ninguém.
___Você me ama Brandon?!?
Flash Back of
Eu nunca respondi isso. Nunca disse a minha melhor amiga que eu a amava, não até que eu a perdi. Nunca disse ao Jay que o amava, eu era pequeno sim, mas eu já sabia do perigo que o amor significava, mas eu deveria ter dito, porém o medo era maior, eu acreditava que no momento em que eu dissesse isso ele iria partir pra nunca mais voltar. Eu tinha medo porque toda vez que minha familia dizia que me amava, o cara de branco que fazia minha mãe chorar, havia acabado de sair e sempre me olhava como se fosse a última vez, então o Amor era algo ruim pra mim. Menos quando a mulher de branco entrava com um copo grande de milk shaike e sentava nos meus pés, a gente passava o dia inteiro assistindo Teletubbies, ela me contava sobre o dia dela e me fazia cafuné, eu não precisava dizer a ela que algum lugar em mim doía, ela sempre sabia e parecia ter os melhores abraços do mundo. Ela dizia que me amava com aquele sorriso que me enchia de esperança e não esperava que eu dissesse o mesmo, ela só sabia que eu fazia. Então eu esperava que os outros também soubessem disso. Eu esperava tanta coisa da vida, mas aquele mini Brandon não conhecia o mundo, ele não sabia que do lado de fora daquelas paredes brancas as pessoas levantavam da cama mesmo doente e seguia o percurso, ele não fazia a mínima noção de que os corações eram partidos, de que as pessoas também tinham medo de dizer adeus, mas que elas diziam, ele não imaginava que ali, sobre um céu ensolarado ou chuvoso as pessoas diziam as outras que as amavam, e isso era uma ótima noticia, ele nem sequer lembrava que um dia teve uma casa que não fosse o hospital, também não tinha como saber que esse tal amor poderia acabar do nada, e que quando isso acontecia as pessoas se machucavam, mas aquele Brandon já conhecia essa parte do amor, ele já conhecia o suficiente da dor pra saber que talvez você não tenha mais nem um segundo quem dera um amanhã, ele também sabia que não importava quantas vezes as pessoas dissessem que não iria doer, em alguns segundos ele estaria sofrendo tudo de novo, mesmo pequeno ele sabia o significado da palavra morte, e ele tinha medo disso, ele chorava escondido e implorava pra Deus por misericórdia, ele dobrava seus joelhos e se forçava a ficar ali mesmo que a dor piorasse, ele já tinha se acostumado com ela, mas se recusava a aceitar a morte.
Flash Back on
__ Eu sabia que te encontraria aqui__ A voz que me acalmava não estava ajudando hoje, eu só queria ficar sozinho__ Esta doendo né campeão?__ Eu não disse nada, porque o simples fato de falar doía__ Por isso você fugiu?
Balancei a cabeça, a dor não era o motivo de eu estar aqui olhando pras estrelas como se elas fossem a minha salvação.
__ Aconteceu alguma coisa Brandon?__ O tom da sua voz estava preocupado, eu odiava isso, odiava quando as pessoas vinham a mim preocupadas, mas eu não tinha esse direito, não poderia odiar alguém.
__Papai e Mamãe estavam chorando hoje__ Digo a voz um pouco lenta__ O cara de branco novamente os fizeram chorar Lily__ Olho pra ela, os seus olhos estão concentrados em mim, sua mão quente me faz perguntar se algum dia as minhas também foram assim__ Eu estou tão mal assim?
Lily nunca soube mentir, ela se esforçava mas seus olhos sempre as entregava, eu passei acreditar neles, não importava o que as pessoas me diziam eu só acreditava se os olhos dissessem a mesma coisa. Aperto sua mão, torcendo para que ela continuasse.
__Desculpe campeão__ Sua voz sai tremula e ela desvia o olhar de mim, não preciso vê-la pra saber que ela esta chorando. Todo mundo esta chorando hoje. Eu só torcia pra que as lagrimas levassem embora o sofrimento deles.
__Tudo bem Lily, eu já sabia__ Digo deixando que as lágrimas tomam conta de mim.__ A dor não vai passar né? Eu não vou sarar.
Ela tenta dizer algo mas fecha os olhos e a boca logo em seguida.
__Quanto tempo Lily?__ Seus olhos se abrem e se focam em mim__ Pelo menos eu não vou sentir mais dor?
Desvio o olhar dela e me concentro nas estrelas, o céu estrelado sempre foi a minha rota de fuga, eu amava sentar nesse banquinho e procurar por estrelas cadentes ou por constelações.
__Sabe Brandon?__ Sua voz esta delicada novamente, olho rapidamente pra ela antes de desvia o olhar__ Por cima daquelas estrelas existe alguém__ Ela me puxa pra mais perto, o dedo indicador apontado pra cima, um sorriso tomando conta dos seus lábios__ Alguém que conhece o mundo inteiro e todas as estrelas, alguém que conhecia você antes mesmo de você nascer__ O tom de admiração em sua voz é o suficiente pra fazer com que meus olhos o procurem.
__ Ele vive no céu Lily?
__Sim campeão, ele é dono de todos os anjos.
__Então você o conhece?
Uma gargalhada toma conta dela, e eu sorrio, sorrio porque a Lily cheia de vida esta de volta.
__Eu gostaria Brandon, mas apesar de você achar que sou um anjo eu sou apenas um ser normal__ Ela diz segundos antes de beijar o alto da minha testa e me pegar no colo__ Mas voltando ao assunto, Ele é capaz de todas as coisas basta você pedir e acreditar. Não importa o que o cara de branco diz, ou que você se sinta pior a cada dia que se passa, você só tem que fechar os olhinhos e dobrar os joelhinhos e pedi para que ele te cure Brandon, assim como eu faço toda noite e toda vez que você entra naquela salinha, assim como os seus papais e avôs fazem, você só tem que acreditar campeão, só tem que aguentar mais um minuto como eu sei que você vai.__ Ela fica quieta me olhando intensamente__ Eu sei que doí Brandon, doí mais do que possa suportar, eu sei que seus cabelinhos estão caindo, que você tem ficado mais doente, que você odeia a palidez do seu corpo ou as mãos frias que tem, todo mundo sabe campeão, mas você tem que aguentar, porque quando tudo acabar você vai ficar bem campeão.
Flash Back of
Eu acreditei nela, eu passei a pedir pro papai do céu todas as noites para que ele me curasse, pra que levasse embora toda a minha dor ou que pelo menos não deixasse que minha familia e Lily sofresse, eu comecei a acreditar nas minhas palavras, acreditar que além das estrelas existe alguém que me escutava, então eu comecei a sonhar com um futuro, com o dia em que eu sairia daquele lugar e poderia comer tudo o que quisesse, com dia em que eu não sentiria mais dor, e não veria meu cabelo cai, eu comecei a acreditar que eu poderia voltar a jogar bola e brincar novamente, eu acreditei que faria todas essas coisas com Jake ao meu lado, mas ele morreu quando todo mundo achava que ele tinha se curado, e com ele foi todas as minhas esperanças embora, mas eu ainda tinha Lily, eu tinha a minha familia que nunca parou de acreditar eu tinha uma garotinha que me fez prometer que não a abandonaria, eu tinha uma razão pra lutar pra não desistir. Mas hoje, nesse exato momento, vendo a Maju sofrer, eu volto a ser aquela criança que não sabia de nada, mas que acreditava que o amor só te fazia sofrer, e assim como eu aquela criança não quer vê-la sofrer, aquela criança quer olhar nos olhos delas e dizer que tudo vai ficar bem, que ela esta bem, que a dor não incomoda tanto quando você começa a aceita-la, mas esse Brandon não pode dizer isso, porque ele nunca experimentou essa dor, ele não sabe a sensação que é perder alguém que se ama, ele não sabe o que é esperar por alguém todos os dias em vão, ele parou de se importar com isso conforme ele descobriu o mundo, e só percebeu o quanto isso machuca quando encontrou cinco garotas e um garoto tentando de alguma forma compreender o porque, o porque de alguém feito Felipe ter partido, " As vezes campeão o papai do céu recolhe os anjos cedo demais" Foi isso que Lily me disse quando Jay morreu, foi isso que todo mundo queria que eu acreditasse, eu só desejava que tanto Maju e Vitor quanto as meninas não tivessem que passar por isso, eu só desejava que Felipe não tivesse naquele carro, ou que o papai do céu não fizesse questão de tê-lo ao seu lado, só desejava que ele tivesse aqui agora abraçando Maju e curando as suas feridas, porque ele é o único remédio que ela precisa, desejava que ele não virasse lembrança na cabeça deles. Tanto esse Brandon quanto o mini Brandon desejava o mundo diferente, onde as pessoas não tivessem que chorar, ou continuar a vida como se nada tivesse acontecido, ambos queriam que o Peter Pan tivesse aparecido na janela do seu quarto no dia que descobriu estar doente e o levasse pra terra do nunca, porque ele sabia que não recusaria, mas ele aprendeu que não importava quantas vezes ele esperasse, o tanto que pedisse ou que todas as janelas estivessem abertas, ele nunca apareceria, porque o mundo não é aquele pintado nos seus filmes e historias preferidas, não existe super herói vestido na sua armadura, não existe uma forma de se livrar do sofrimento, as dores devem ser sentidas, e o mundo vai continuar, ele também sabe que não importa o quanto você peça pra ter um fim, ou repita que tudo vai passar, algumas coisas simplesmente não passam, e ele também sabia que Maju nunca iria se curar, aquela ferida nunca seria estancada e o vazio sempre iria ficar maior, não seria diferente com Vitor, ele não estava bem e eu também sabia que as meninas não estavam melhor, eu podia enxergar isso nos olhos delas, se tinha uma coisa que havia aprendido na vida é que algumas pessoas sabem esconder melhor aquilo que sente, algumas pessoas preferem esconder pra si a dor, mas ele também sabia que uma hora as muralhas iriam cair e elas estariam tão perdidas, ele desejava que os seus melhores amigos estivessem ali pra elas, mas ele também desejava que eles não se machucassem, porque ele sabia que no momento em que os meninos vissem as suas namoradas sofrendo isso machucaria eles, no fim Brandon só desejava que não houvesse mais dor, porque ele sabia o quão ruim isso pode ficar.
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Teen FictionMaju é uma adolescente de 18 anos, que sonha em conquistar o mundo. Uma garota linda, meiga, educada, divertida, que conta com 4 amigas fiéis. Pais atenciosos, e um namorado perfeito. Ela sempre teve tudo o que quis, e levava uma vida perfeita, até...