Possíveis despedidas

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Brandon on

16 anos atrás

Não é como se você pudesse corrigir seus erros, como se a vida te desse uma segunda chance para ser feliz, como se ela tentasse de todas as formar te fazer um pedido de desculpa, algumas coisas simplesmente são do jeito que são, algumas cicatrizes são invisíveis ao olhos humanos, mas o fato de você não pode enxerga-las não significa que elas não existem, as piores cicatrizes são invisíveis, Brandon Carter sabia disso, ele sabia de coisa que uma criança de seis anos não deveria saber, ele poderia detalhar perfeitamente o quão dolorido estava a sua costa, e poderia descrever a sensação horrível de não poder mais correr ou até mesmo andar por muito tempo, ele poderia te contar sobre uma dor que nem mesmo um adulto suportaria, mas você não acreditaria em uma dor que não pudesse sentir, você não poderia imaginar o quão triste ele se sentia quando uma mecha de seu cabelo caia, mas mesmo assim, mesmo lidando com sentimentos que ele não deveria sentir ele se esforçava o máximo para não deixar as pessoas preocupadas, eu não entendia o porque disso, não entendia como uma criança poderia ser tão pura e inocente em meio a todo caos, afinal ele era a pessoa que precisava de ajuda, eram suas lágrimas que deveriam ser secadas por alguém e não o contrário, não cabia a ele o papel de ser forte, de ser o porto seguro de alguém, mas estava nítido que Brandon era o coração de uma familia danificada, de uma familia movida ao dinheiro, os pais deles nunca souberam deixar o trabalho de lado até que esse pequeno tesouro chegou em suas vidas, Brandon foi o milagre que sua mãe não poderia ter, foi ele que devolveu a ela os seus sonhos de menina, foi ele que despertou em seu pai o sentimento de proteção, Brandon concertou cada buraquinho de sua familia com suas maneiras de agir e sorrir, ele era o espirito de paz que tanto seus pais quanto seus avôs ansiavam, porque ele não se importava com o nome que possuía, ele só queria brincar de futebol no meio da sala de sua mãe com o seu pai, queria ajudar Maria a cozinhar porque ele apreciava todos os momentos em que tinha sua companhia, aquele pedacinho de gente queria poder assistir seus desenhos preferidos ao lado de um anjo que ele amaria para sempre, Brandon queria poder correr pros braços de seus avôs e contar a eles sobre suas aventuras, ele queria poder sair com suas avós e comprar todos os tipos de doces possíveis, ele só queria ser uma criança, mas ele não teve essa oportunidade, e agora ele olhava pro nada, ele havia forçado seus pés caminharem até a janela, sua ultima sessão de quimioterapia tinha sugado sua força, mas ele não queria perder o dia na cama, mesmo que sair para fora não fosse uma possibilidade ele admiraria o sol pelo vidro blindado de uma janela escura, seus pais haviam solicitado um quarto onde as crianças e pessoas não pudessem o enxergar, Brandon era imensamente grato a isso, porque assim ele não teria que se preocupar em se esconder, ele poderia voltar a sonhar sem se interrompido por uma risada ou um olhar de repulsa. Mas não havia sol do lado de fora, não havia crianças brincando e rindo no parquinho, não havia pais sentados em seus bancos conversando sobre assuntos aleatórios, o rugido da porta despertou sua atenção, Lily estava encostada no batente da porta, observando uma criança que ela havia aprendido a amar, em sua mão estava um grande copo de milk shake que Brandon poderia jurar ser de flocos... ele amava flocos porque podia pensar que o branco da massa era neve e os pequenos blocos de chocolates eram as montanhas que um dia ele iria escalar. Ele observou sua tentativa fracassada de parecer calma, enxergou o medo que ela tinha de perde-lo por de trás do sorriso que ela o oferecia, Lily por vez não sabia o porque daqueles sentimentos, não conseguia compreender porque seus pés se recusavam a andar em sua direção, eles trocaram um longo olhar, Brandon não se esforçou para esconder suas feridas, seus medos, ele deixou tudo a mostra, estava cansado demais, não tinha mais força para ser forte, ele só queria que alguém o visse verdadeiramente nem que fosse por um segundo, Lily sentiu seu coração se espatilhar enquanto encarrava aqueles olhos azuis, ela se sentiu inútil e se odiou por ver seu menino sofrendo, por não poder fazer nada para curar suas dores, mas não foi isso que a mantinha presa, o que a mantinha paralisada era a tremenda vontade de ser normal que o mini Carter tinha em seu olhos, a esperança de poder ser o que ele tanto desejava, ele sonhava em ser uma criança sem dor, ele tinha esperança de que no fim ele sobreviveria, de que haveria um dia em que ele amanheceria e sua pele não fosse mais gélida, que o sangue não saísse mais, que não houvesse mais manchas, um dia onde sua cor morena tivesse voltada, um dia onde ele não teria mais que dizer adeus aos cabelos, Lily tinha lido suas cartas, tinha percebido que sua intuição era verdadeira, Brandon não estava melhorando, ele estava piorando cada vez mais, ele só estava se fazendo de forte. A conversa com Jacke retornou em sua memória, eles não sabiam mais o que fazer, ela tinha certeza que Jacke e suas previsões estavam erradas, mas olhando para aquele anjo ferido Lily desejou nunca tê-lo conhecido, desejou que Brandon não tivesse nascido, ela desejou não sentir essas coisas, mas ela não poderia fazer nada, no outro lado do cômodo Brandon a olhava com os olhos mais puro e verdadeiro que um ser humano já direcionou a alguém, ele queria dizer a ela que ele estava bem, que ela não precisava chorar, mas ele sabia o quão ruim era esconder as lágrimas das pessoas, ele só queria saber o porque dela está chorando, mas ele não tinha força para abrir a boca e formar uma palavra se quer, não tinha nem força para estender os braços para que ela pudesse abraça-lo, ele não tinha energia nem mesmo para chorar, mas ele havia entendido o motivo das lágrimas de seu anjo, ele sabia que estava morrendo e não a culpava por deseja-lo não ter o conhecido, por desejar que ele não tivesse nascido, Brandon tinha os mesmos pensamentos naquele dia, tinha a mesmo vontade súbita de nunca ter conhecido ninguém. Lily ainda continuava intacta procurando formas de dizer a ele que as coisas não melhorariam, ela não queria machuca-lo e tirar suas esperanças, mas também não queria mentir a ele, ela sabia que ele descobriria a verdade, ele tinha a incrivel habilidade de enxerga-la nos olhos humanos, ela só não queria se despedir, mas o seu mundo se escureceu não havia mais chão sobre seus pés quando anjo pequeno forçou um sorriso e apesar de toda dor que sentiu ele sussurrou um pedido de desculpas, ela sabia que aquilo tinha doído, ela só não sabia como conseguiria sobreviver num mundo sem ele, ela não conseguia formar um único pensamento que não tivesse sua presença. E derrepende ela soube que independente do que o acontecesse ela sempre se lembraria dele, ele sempre seria o seu milagre porque Brandon era com certeza um milagre, ela retribuiu o sorriso e deixou que o copo de milk shake que tinha trazido a ele caísse no chão, ela só queria abraça-lo, queria passar todo tempo possivel e impossivel ao lado do ser mais incrivel que ela já conhecera. Brandon analisou Lily correr em sua direção sem fazer nada enquanto uma lágrima solitária descia sobre seu rosto, aquilo com certeza era uma das diversas despedidas que ele teria que fazer
 Atualmente
A mensagem de Kyle me lembrou das diversas ligações de Maju ignoradas por mim, ele havia me dito que ela tinha perguntado a ele o que eu tinha, que eu deveria contar a ela sobre tudo, mas eu não faria isso, eu não a colocaria nessa história, Maju merecia ser feliz e me ter em sua vida não daria a ela essa felicidade, eu roubaria seu final feliz, e eu estava eternamente grato a vida por ter se desculpado com ela, por ter trazido Felipe de volta, eu estava feliz pelos dois, por não terem que fazerem despedidas, estava feliz por Vitor, mesmo que não o conhecesse suficiente Vitor sempre mereceu ser feliz, ele não merecia se culpar por algo que não cabia a ele, ninguém merecia e eu certamente estava contente pelos brilhos nos olhares das meninas, vê-los felizes me dava uma certa sensação de paz e saber que apesar de tudo, de toda dor que Maria Julia e Felipe Mendez tinham enfrentado eles superaram tudo me dava a esperança que eu também poderia encontrar o meu milagre, Maju era dona de uma força que ela nem imaginava ter e certamente não precisava de mim para ficar bem, ela já tinha encontrado o remédio para suas dores, ela não teria mais que se preocupar em como seguir em frente, Maju não possuía mais cicatrizes, sua história tinha voltado a ser como era antes, eu só era uns meros capítulos na vida daquele anjo, Maju havia entrado em minha vida para lembrar-me que não tem como abandonar o passado, que ele sempre acharia uma forma de encontrar-nos, eu era grato a ela por tudo, por me fazer sentir, por me trazer de volta a vida mas eu não poderia encara-la, olhar naqueles olhos azuis só me machucaria, me faria lembrar que eu possuo sentimentos  e eu não posso lidar com eles, não agora, não quando eu ainda nem encontrei uma forma de lidar com tudo que sinto, mas eu sabia que ela merecia uma resposta, sabia que não poderia fugir para sempre. Olho para baixo deixando o celular de lado e focando em mim mesmo.
 A palavra scars  cobria uma parte da pele minha no antebraço direito eu havia passado as ultimas meias horas me torturando em um estúdio de tatuagem, queria sentir a sensação de ser picado e não sentir nada, mas eu senti a porra de cada agulhada, no antebraço esquerdo havia tatuado a palavra Hope um pouco para baixo eu tinha marcado sobre a pele a data 22/05, o dia em que eu recebi a noticia que havia sido curado, na região lombar o lugar ao qual eu fazia várias sessões de quimio eu havia frisado a palavra miracle, todas elas com um significado a mais para mim, olhando para cada tatto nova que eu havia adquirido eu só conseguia pensar que havia faltado uma. We might fall de Ryan Star soava pelo bugatti veyron me fazendo me prender em lembranças, lembranças das quais eu queria desesperadamente fugir, eu não precisava delas, não precisava lembrar do meu passado, eu já o havia nítido sobre o meu corpo, e com certeza não me esqueceria deles, mas eu não possuía mais o controle de mim mesmo, eu não poderia decidir o que sentir ou até mesmo o que lembrar, já havia anoitecido quando deixei o carro na garagem, as escadas me pareceram o caminho certo a percorrer, eu analisei cada detalhe de cada andar, o modo como as portas de todos apartamentos pareciam formar um incrivel quadro, a parede decorada que cobria a escadas, as luzes que se acendia conforme você andava, eu sorri ao me lembrar de como meus pais discutiram com os arquitetos, eles queriam algo perfeito, e nada parecia ser o suficiente para eles, eu me lembrei de quando eles me disseram que tudo isso era meu para mim fazer o que quisesse, eu era dono de um império que só estava começando, depois do edifico Carter meu pai e eu havíamos trabalho num segundo edifício em Los Angeles, o plano era ter uma sessão de edifícios Carter pelo mundo, já havíamos construído três na Europa, Londres, Paris e Madrid foram as cidades escolhidas, eu tinha um plano de abrir um logo na Alemanha, e na Grécia, mas agora olhando para o primeiro deles eu só conseguia me perguntar o porque disso, para que construir um império sem deixar um herdeiro? Para que me entupir de dinheiro se no fim ele não irá trazer o que eu preciso?    Estava preso no meu pensamento que não havia notado mais nada, até que escuto o ranger de uma porta, o mesmo ranger que ouvi no dia em que Lily estava me observando, uma onda de arrepios percorre sobre meu corpo me despertando uma onda de medo, meu mundo se desfez  no exato momento que ergo o olhar e encontro os olhos de Maju, ela me observava atenciosamente, eu tentei sorri, tentei dizer qualquer coisa mais eu não conseguia dizer nada, a minha única intuição me dizia para correr, para ir embora e deixa-la para trás, mas eu estava cansado de fugir.
__Anjo__ Digo com as voz abafada.
__Você não atendeu minhas ligações Brandon.__Ela diz dando os primeiros passos fechando a porta de sua casa.
__Eu sei... Sinto muito por isso__ Desvio o olhar dela, eu não diria a ela o motivo de tê-la ignorada.
__A gente precisa conversar__ Ela diz me fazendo erguer o olhar para ela, eu não sabia sentimento que predominava em minhas íris mas foi doloroso o suficiente para faze-la parar.
__Por favor__ Imploro__ Eu não quero conversar, não agora.
__A gente realmente precisa conversar Brandon.__ Ela diz caminhando em minha direção e me puxando pra um abraço apertado.
Me afasto dela segundos após, os olhos de Maju estão preocupados, eu odeio isso, odeio ser o motivo de sua preocupação.
__Por favor Maju__Digo encarrando qualquer coisa menos ela__Eu sei que precisamos conversar, eu realmente sei__Paro passando a mão sobre a nuca__ E eu prometo que iremos conversar, mas não agora... tem coisas que eu preciso resolver primeiro, coisas das quais você não precisa saber... Por favor Maju.
 Sem dizer mais nada me afasto e sigo em direção ao meu apartamento.


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