This is my history

A morte vem cedo demais

Brandon on

Talvez você já tenha ouvido várias histórias sobre como a morte machuca, como é difícil seguir em frente, como parece não ter um fim a dor que sente, todos nós já assistimos alguém sofrer, já fomos plateia de uma dor sem fim, e no fim tudo o que sabemos é que ninguém nunca soube explicar a morte, ninguém nunca lhe mostrou o caminho a ser seguido, ninguém nunca secou suas lágrimas quando você se escondia, ninguém nunca tomou o seu lugar para que tudo voltasse ao normal, mas ninguém também nunca nos prometeu um final feliz, uma vida perfeita, somos posto num campo de batalha em busca da sobrevivência, e nesse campo chamado vida, cometemos erros e acertos, nos apaixonamos e nos desapaixonamos a qualquer minuto, mas em nenhuma aula nos foi ensinado a forma correta de partir, o modo menos doloroso de dizer adeus. As pessoas ao seu redor não vão durar pra sempre, mas mesmo sabendo disso, você nunca vai estar preparado.
 Maju era a prova real disso, não importava quantos passos ela dava em busca da reconstrução, em busca de estancar o buraco que estava cada vez maior, faltava Felipe em sua vida. Faltava aquela pessoa que a mantinha de pé, o seu porto seguro, mas olhando aqui de fora, sendo a plateia dessa peça dolorida, pude perceber que não era somente ela que estava em fragmentos, Vitor nunca estancou nenhum buraquinho sequer, ele sempre esteve partido, sempre tentando encontrar o seu melhor amigo, Carol, Fernanda, Júlia e Larissa estavam tão perdidas, eu sempre soube que elas não estavam nada bem, talvez elas apenas tenham disfarçados a dor melhor, se esforçando pra não parecerem fracas, porque essa parecia a melhor solução, quando você finge a si mesma que não há um mundo ruim, e que tudo é apenas um pesadelo, você meio que se convence de que a pessoa amada nunca morrerá, de que um dia as coisas voltarão ao normal, e o tal trem retornará a sua viagem e quando você por o pé na estação lá estará ele te esperando de braços abertos e com um sorriso que compensará toda a jornada, mas não é bem assim, não haverá um dia melhor amanhã, o sol não terá o mesmo calor e as estrelas não brilhará na mesma intensidade, porque o mundo não é mais o mesmo, não possui o mesmo sentindo, e você já não tem aquela vontade de ser feliz.  
 Escutei uma vez que as faltas são o que te torna real, que não te priva do esquecimento, que te deixa "saborear" todos os sentimentos, é através dos buraquinhos que você se reinventa, se levanta e te mostra o caminho a seguir, pra mim tudo isso são meras palavras para amenizar a dor da perda, para esconder a verdade, aquela verdade que te mata a cada dia.  Nessa peça sem Felipe, ambos estão perdidos, sem saber qual caminho percorrer, Maju está se desfazendo nos braços de Vitor, as meninas perdidas em lágrimas, e Vitor está tão sozinho que chega sangrar os olhos de quem vê, os personagens principais sem saber o que fazer, faltava o protagonista, aquele que diria o que deveria ser feito, qual caminho a ser tomado, o remédio que daria um fim a tudo isso, ambos se olhavam mas nenhuma palavra era dita, como se ao fazer o simples gesto de falar os  levariam ao dia trágico, minha mãe sempre me disse que esse dia existia, e que não importa o que aconteça as vezes falar não é a melhor solução, porque não existe palavra que possa oferecer uma esperança. Todo o hall de entrada os observava, como se eles fossem um episódio de uma série famosa, e posso jurar que ninguém daqui imagina como deve está sendo pra eles, olho pro meu anjo, ela esta malditamente sofrendo, perdida em lembranças, a dor estampada na perda, ela nunca quis isso, nunca soube lidar com a ideia de viver nesse mundo sem ele, procuro pelas meninas e lá estão elas todas borradas em lágrimas, e aquelas garotas de mais cedo, todas risonhas e alegres já não estão mais aqui, olhando pra essas cinco garotas, percebo que de fato eu não as conheço, eu não faço a mínima ideia de quem seja Maria Julia e suas amigas. Todos os meus amigos estão parados ao meu lado, sem expressar nenhum sentimento, eles nunca souberam lidar com isso, mas os conheço o suficiente pra saber que preocupação é o estado que os encontram.  Como se não existisse mais ninguém Vitor se senta na frente de Maju e a olha no fundo dos olhos.
__É a hora de nos contar a parte feia da história cunhadinha__ Sua voz soa tão perdida e fraca que faz lembrar daquelas cenas de filme de drama onde você descobre que alguém especial não está mais por perto e você nunca mais poderá revê-lo, me pergunto qual mentira bonita será dita agora para consolar, mas me dou conta de que entre eles não acontece esse tipo de coisa.
__Você não precisa saber disso cunhadinho__ Ela diz rasgando o coração de cada um deles.__Vocês não precisam saber disso, esse pesadelo é meu.
__Nunca foi Maju, eu sei que você irá me rasgar em um bilhão de pedaços, eu sei que meu mundo vai acabar assim que você abrir a boca, mas está tudo bem, eu aguento isso Maju, eu destruo o meu mundo se isso for curar o seu.
__Eu estou com medo Vitor, medo de que quando eu contar a verdade, contar aquilo que só eu sei, o pesadelo acabe__ Ela solta uma risada amarga e irônica.__ Porque quando esse pesadelo acabar, tudo acaba Vitinho, todas as lembranças que me prendem a ele, eu tenho medo de que quando transformar isso em palavras estarei dizendo adeus ao amor da minha vida, e não quero me despedir, eu nunca quis.
__Maju o que te prende ao Felipe não são as lembranças daquela maldita noite, nunca foi, o que prende vocês dois é o amor que ninguém nunca irá ter__ Vitor acaricia o lado esquerdo de seu rosto, limpando com o dedão sua lágrimas__ Era a forma como vocês pareciam ter sido feito um para o outro, você era o mundo dele Maju, e por mais que ele tentasse Felipe nunca imaginou amar outro alguém, ele sempre foi seu, e você sempre será dele, o que te liga a ele é esse amor que não para de crescer dentro de você. É só um pesadelo Maju você precisa continuar.
__Eu acho que ele sabia, pra ser sincera acho que nós dois sabíamos__ Ela levanta o olhar para o céu, como se estivesse falando com as estrelas e não com o melhor amigo de seu Felipe__ Tudo o que eu lembro é que em um instante eu estou dizendo que o amo e na outra um carro nos atinge com tudo, eu vi o exato momento em que Felipe perdeu o controle e a Mercedes capotou por diversas vezes, eu lembro do barulho dos vidros quebrando, lembro de ter gritado bastante e o gosto de sangue em minha boca, então tudo apagou.__ Ela leva as duas mãos a cabeça, as lagrimas se intensificando e o choro aumentando, ela olha pro céu mais uma vez antes de virar em nossa direção, ela está quebrada, nunca ninguém esteve tão mal quanto ela__ Eu desmaiei Vitinho, eu o deixei lá, sozinho, enquanto o carro capotava, mas ele não me deixou, ele me chamou Vitor, eu ouvir a dor em sua voz, o quanto ele estava se sacrificando pra que eu acordasse, ele estava sem ar, as palavras se arrastando, mas mesmo assim, ele estava tentando ser forte.
 Vitor se levanta e em questão de segundos a tem em seus braços, as meninas estão todas sofrendo, ambas escutam calada, Larissa abraçada em Fernanda, Carol em Júlia, procurando algum tipo de conforto, algum indicio de que sim, isso tudo é um pesadelo e que quando eles acordarem, tudo estará como era, Felipe não terá partido e eles poderão voltar a ser aquilo que costumavam ser.
__Ei eu estou aqui pequena, tô segurando o seu mundo lembra?
__Quando eu acordei a primeira coisa que vi foi um Felipe desacordado, coberto de sangue, ele estava horrível Vitor, havia cacos de vidros enfiados em sua barriga e em suas pernas, o rosto estava todo cortado, ele respirava com dificuldade, eu soube ali Vitinho que seria o fim, fiquei parada vendo-o agonizar em dor, por onde olhava só tinha sangue, quando ele acordou seus olhos estavam fundos, como sempre ele tentou sorrir, mas dessa vez não havia o branco dos dentes perfeitos__Ela para de falar e volta a olhar pro céu__ Sua boca estava cheia de sangue Vitor, vocês não tem noção do quão machucado ele estava, e mesmo assim, mesmo sofrendo, sem ar, com dor, ele lutou por mim, pra ele estava tudo bem morrer, com tanto que eu ficasse bem, ele estava com medo, mas foi ele que me acalmou, foi ele que me disse que era só um pesadelo, era apenas uma tempestade ia passar, eu só tinha que ser forte e sair dali. Ele me segurou em seus braços enquanto eu apaguei.
  Vitor não diz nada, as lágrimas escorrendo pelo seu rosto é o único indício de que ele ainda esta aqui, de que está criando a cena em sua cabeça, todos eles estão, todos se perguntando o porque, o porque de Felipe ter morrido.
 As vezes as perdas costumam ser mais marcantes do que as recompensas, porque no fim, quando o mundo desaba sobre você, não são as memórias boas que lhe vem a mente, são exatamente aquelas que mais te marcou, aquelas que cortam mais profundo a sua alma, que te rasga em mil pedacinhos, aquelas que abrem o buraco que você tanto lutou para  preenche-lo. A morte no fim sempre será um mistério, não há uma explicação que faça doer menos, que te faz aceitar, você vive em espera dela, mas quando ela acontece você percebe que não importa o tanto que esperou ela veio cedo demais, e você nunca estará pronto.