Deixar as coisas acontecerem

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"O problema de seguirmos em frente está em todas as coisas boas que ficam pra trás"

Maju on

 Eu sabia que estava na hora de colocar o trem novamente no trilho, era hora de se reerguer, de começar a lutar pelo os meus sonhos, era hora de começar a viver, eu tinha que seguir com a minha vida, tinha que sair desse apartamento e ir a luta, não podia mais ficar aqui parada desejando uma outra vida todos os dias, Vitor estava certo, nós dois teríamos que seguir em frente, não importava que a maior parte de nós estivessem sido destruídas, que nenhum dos dois quisessem estar aqui. Havia uma dura verdade nas palavras dele na noite passada, Maria Julia e Vitor Menezes haviam sido abandonados no passado, não erámos mais aqueles adolescentes, somos novas pessoas que precisam descobrir o que fazer com a vida. 
  E era isso que eu iria fazer, eu iria arrumar todo esse caos que minha vida se tornou, iria limpar a bagunça e ajeitar tudo, comecei ligando pros meus pais, fazia tempo que eu não conversava com eles, eu precisava de tempo, precisava me distanciar de tudo, mas agora preciso conversar com eles. No terceiro toque minha mãe atendeu, pela rapidez presumi que ela estava com saudades.
__Maria Júlia. Filha é você?__A doce e aconchegante voz da minha mãe invadiu o outro lado da linha, e um buraco enorme de saudades invadiu meu peito.
__Sim mãe sou eu.__ Digo, a voz um pouco tremula de tantas saudades.
__Meu amor está tudo bem com você?__Ela agora estava preocupada, e eu conseguia imaginar a expressão que tomou conta do seu rosto agora, nesse último ano e  meio era assim que ela se sentia sobre mim, sempre preocupada.__Você precisa de alguma coisa?
__Eu estou bem mamãe.__Digo na intenção de acalma-la.__ Só estou com saudades da senhora e do papai.
__O meu pequeno anjo, também estamos sentindo a sua falta.__Ela diz incapaz de esconder a emoção que transborda no seu tom de voz.__Como vão as coisas por ai?
__Vão bem.__Digo imaginando todas as novidades que tenho pra contar.__Nova York é incrível.
__Eu sabia que você iria adorar morar ai, mas me conta, conheceu bastante pessoas e lugares por ai?
__Sim, já fomos praticamente em todos os pontos turísticos e outros lugares, e também já fizemos algumas amizades.
__Com os meninos não é?__Ela pergunta me deixando curiosa, como ela poderia saber disso, se eu nunca falei dele.
__Sim, como a senhora sabe sobre eles?__Pergunto por fim.
__As meninas, elas tem me ligado durante todo esse tempo pra me contar as novidades, e sobre como você está.
 É claro que elas estariam, elas estavam cuidando de mim, o tempo todo, estavam deixando eu me readaptar a essa nova vida do meu próprio jeito mas estavam me olhando de longe, prontas para me socorrerem quando eu cair, pra secar todas as minhas lagrimas e me  reerguer.
  Haviam tantas coisas pra serem ditas por ambas as partes, durante esse tempo que ficamos longe uma da outras criamos novidades e agora assunto era o que não nos faltava. Era bom poder conversar com a minha mãe, ela sempre foi o meu porto seguro, a pessoa a quem eu confiei todos os meu segredos, a quem eu sempre pedia colo e me sentia segura. Ela me escutou contar sobre o novo apartamento, sobre as meninas e sobre as nossas aventuras em Nova York, escutou quando eu falei sobre os meninos, inclusive de Brandon, e eu escutei ela falar sobre a rotina no hospital sobre como os seus pacientes ocupam a maior parte do seu tempo, sobre como papai continua o mesmo desde que me mudei e que mês que vem os dois iriam inaugurar outra clinica, contamos tudo o que nos aconteceu durante esses meses que ficamos longe sem manter contato. Mas minha mãe sabia das recaídas que tive, as minhas amigas haviam contado a elas sobre todas as vezes que eu deixei a dor transparecer, e o mais importante, a minha mãe me conhecia, ela sabia que nem tudo estava ok, ela havia presenciado tudo, desde do dia em que eu contei a ela sobre o esbarrão em um garoto no mercado, até o dia em que embarquei pra outro país, ela havia vivido todas as fazes do meu relacionamento, ela melhor do que ninguém sabia da dependência que a sua única filha tinha, ela conhecia o nome do meu vicio, e sabia também que eu nunca me curaria. Não importasse o quanto eu tenha evitado o assunto durante a nossa conversa não poderia escapar agora, ela queria falar sobre isso e sinceramente eu também.
__E como você está se sentindo sobre o meu pequeno menino?__ Era assim que ela sempre se referiu ao meu Fe, minha mãe nunca o chamou de Felipe ele era o seu pequeno menino. Era mais do que um genro, ele era o seu segundo filho.
 Eu porém não sabia como responder a essa pergunta, eu me sentia de tantas formas, a minha vida estava uma bagunça, mas nada comparado ao que eu sentia em relação ao Felipe.
__Como alguém se sente quando perde o amor da sua vida?__ Pergunto, eu precisava que alguém me definisse, que alguém desse nome ao que eu sinto.__ Eu não sei como me sinto mamãe, eu estou tão perdida.
__Eu sei meu bebe.__Ela diz como se tentasse me confortar.__ Você ainda sente a falta dele?
__Todos os segundos, eu sinto falta dos beijos, dos sorrisos, dos abraços, da voz rouca, e dos olhos, eu amava aquele par de olhos azuis.__ Paro de falar lembrando de todas as vezes em que me perdi naquele par de olhos, de todas as vezes que Felipe conseguia me tranquilizar com apenas um sorriso, ou de todas as vezes em que ele me pôs em ordem com apenas o som da sua voz rouca.__Eu ainda não aprendi a viver sem ele mamãe.
__Você nunca irá aprender meu amor, não é como se existe alguma formula, você irar se acostumar com isso.
__Vitor disse que devemos encontrar uma maneira de seguir em frente, que não é justo com a gente, mas acho que nem ele acredita nas próprias palavras, eu vejo nos olhos dele, vejo como ele não superou a perda, e de como a dor coroe cada parte do corpo dele.
__Vitor era muito apegado ao amigo, eles eram inseparáveis, vocês três eram grudados um no outro, Felipe era tudo na vida dos dois, e vocês dois eram tudo pra ele, meu bebe, vocês três esperavam outro rumo, queriam outra vida, nenhum de vocês estavam preparados pra se despedir, e agora bom vocês estão sendo forçados a viverem outra historia, outra etapa da vida.
__Eu preciso ajeitar a minha vida mamãe, preciso tomar um rumo estou cansada de me sentir perdida, de não me sentir no controle de mais nada, eu quero me formar ser alguém, quero voltar a ser feliz, mas eu não faço a mínima ideia de como vou ser feliz novamente, se não tenho o meu tudo do meu lado.
__Maria Julia você tem que entender que o que você viveu com o Felipe não vai voltar a se repetir, por mais que você tente, não irá voltar, infelizmente meu doce, aquilo que você conheceu, aquela felicidade aquele amor que vocês dois viveram aquela vida que você tinha ao lado dele não ira se repetir, talvez o que te deixa perdida, é o motivo pelo qual você está lutando, talvez você não esteja procurando uma forma de seguir em frente, de se redescobrir, talvez você esteja procurando fazer o impossível, talvez você esteja lutando pra voltar a ser aquela velha Maju, aquela que tinha uma vida perfeita, aquela que tinha o amor da sua vida ao seu lado, talvez meu anjo seja hora de repensar as suas escolhas, de se deixar levar de rever seus planos, de fazer novos sonhos de construir uma nova história.
___E o Felipe mãe. O que irá acontecer com ele? Qual o espaço dele nessa minha nova vida? Qual o papel dele nessa história?
__Bom...__Ela solta um longo suspiro, e sei que ela esta imaginando ele, minha mãe simplesmente amava aquele garoto.__ Felipe sempre vai ser o garoto que esbarrou com você em um corredor do mercado, o garoto que te segurou aquele dia e que não te deixou cair, o garoto que te dava os beijos mais apaixonados do mundo, te envolvia em abraços apertados e gostosos, que dormia ao seu lado, que dividia uma coberta e um sofá contigo, o garoto que te acompanhou no seu primeiro baile, que foi o seu príncipe na sua festa de 15 anos, que deixava você ganhar no futebol, e que te colocava pra dormir com um beijo na testa todas as noites, que te olhava como se você fosse a pessoa mais linda e perfeita desse mundo, o menino que pediu a sua mão e roubou o seu coração, que dançou contigo debaixo da chuva e disse que você era a  pessoa mais linda que ele conhecia, meu amor ele sempre vai ser o garoto que te amou mais do que todos e mais do que tudo, que te transformou na princesa da vida dele, e ele sempre vai ser a pessoa que você vai amar em todos os momentos, o grande amor da sua vida, a pessoa que você vai amar mais do que é permitido mais do que qualquer outra. Mas está na hora de você criar novos personagens, novos momentos, de criar novas lembranças, de deixar que outras pessoas conheçam e experimentem as sensações que é viver ao seu lado, que você deixe que um outro garoto conheça o gosto dos seus beijos, a sensação de dormir do seu lado, de te abraçar apertado, de dizer que te ama, de você ser o mundo de um outro alguém de você se permitir amar outra pessoa, mesmo amando Felipe, e sendo fiel ao que sente por ele, esta na hora de apertar o play e deixar que o filme da sua vida continue, e consequentemente novos sorrisos surgiram, novas historias se criaram e novos amores apareceram, e Felipe continuará sendo o que ele sempre foi.
  Minha mãe estava certa, eu poderia amar outro alguém, poderia namorar outra pessoa, e poderia ama-lo de todas as formas possíveis, e mesmo assim continuar sendo fiel ao que eu sentia ao meu Fe, porque o que eu sentia por ele nunca morreria, nunca acabaria, mesmo que surge um outro alguém um outro amor, eu precisava criar uma nova história, precisava apertar o play e deixar as cenas do meu filme se desenvolver.
__Você está certa, chegou a hora de deixar as coisas acontecerem.


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