Brandon on
Por mais que meus pés andassem, por mais que eu dissesse que era tudo coisa da minha cabeça, que eu estava bem, minha mente insistia em me prender num labirinto sem fim, eu estava suando, estava enlouquecendo, e não sabia como dá um fim a tudo o que me amedrontava. Eu nunca soube lidar com medo, então sempre o guardava para mim, eu podia jurar que estava fazendo 40ºC, em plena Nova York, por mais que a cidade ganhasse os primeiros blocos de neve, tudo o que conseguia sentir era um tremendo calor, eu já tive isso antes, assim como sentia a amargura em minha boca, ou a sensação de formigamento no corpo, isso era eu, o menino perdido voltando.
__Só mais um minuto Carter__ A miha voz saiu abafada pela intensidade do meu medo, a calmaria que se encontrava nas ruas estavam piorando tudo, como se eu fosse o único a perder algo nessa noite, olho pro céu em busca de algum tipo de conforto, se eu estava voltando para aquele tempo, eu esperava que pudesse tê-lo, mas não havia nada, apesar de tudo o céu de Nova York continuava acinzentado, eu estava sozinho.
Eu não tinha noção de que horas eram, ou em que lugar estava, mesmo sabendo que estava longe da quinta avenida, sabia que não estava distante o suficiente de casa. Maldita noite, malditas lembranças.
Flash back on
__ Eu tenho que ir mesmo?__ Pergunto enquanto minha mãe ajeita o nó da minha gravata, seus olhos desviam dela, e se concentram nos meus, ela sorria, admirada por ter seu pequeninho vestido em um terno.
__É noite de Natal Brandon__ A voz dela sempre foi capaz de me animar, tinha orgulho de ser tão importante para ela, e admirava o quão linda ela era, desde dos pés a cabeça, eu a amava e não tinha duvidas sobre isso__ Toda a família esta reunida, temos convidados a sua espera.
Pela primeira vez eu quis ficar sozinho.
__Vai ter muita gente ?__ Pergunto na esperança de ouvir um não, eu nunca entendi o porque de tantas pessoas reunidas, ou como se num passo de magica a nossa casa parecia ficar pequena em noites como essa, mas isso também nunca foi um problema pra mim, porque significava que por algumas horas eu não seria a única criança.
Como se percebesse meu desanimo, minha mãe me puxa para mais perto dela, passando sua mão pelo meu rosto, como se procurasse algum indicio de que eu estava doente. Por fim ela diz:
__É véspera de Natal Brandon, papai noel e pisca pisca, você ama essa noite, ama presente.
__Eu sei__ Não conseguindo disfarçar o cansaço na voz. Ela me encara no fundo dos olhos, a preocupação estampada nos seus, eu queria sorri para ela, mas não podia, algo estava errado, e eu não sabia o que era.
Então três leves batidas surge na porta nos despertando, acompanho a troca de olhares entre meus pais, ele sorri para ela como se quisesse tranquiliza-la e depois direciona para mim.
__Aconteceu algo?__ Podia notar que ele se esforçava para esconder a preocupação__ Como você esta lindo campeão__ Ele diz me pegando no colo.
Eu forcei um sorriso e acompanhei meus pais, eu até cumprimentei a todos e os desejei um feliz natal, mas nem a casa decorada, com pisca pisca e pinheiros por toda parte me animou, eu estava jogado no sofá com uma tremenda dor de cabeça enquanto observava todo mundo se divertir, também sentia as pálpebras pesadas, mas me recusava a sair dali sem ver a chegada do papai noel. Esse sempre foi o meu plano primeiro presentes depois sono, eu só precisava descansar um pouco.
Flash back of
Sento num banquinho em alguma rua desconhecida, eu precisava descansar.
__São apenas lembranças Brandon__ Digo apoiando a cabeça nas mãos, os cotovelos nas pernas olhando pro chão, olhando pro nada, sem se importar com o frio, sem se importar com ninguém__ Esta tudo bem, você tem que esta bem__ Foi mais um pedido de ajuda do que uma afirmação.
Estava claro que eu estava preso no passado orando para que ele não voltasse. Escuto meu celular tocar no bolso, e antes que dou por mim meu dedo estava pressionando o botão de desligar. Era Renata, e eu saberia que ela ficaria puta, mas no momento eu estava fugindo, fugindo de tudo que me levava pro passado, eu estava fugindo dela.
Flash back on
__Brandon__ A voz de Maria surgia de algum canto do quarto__ Cadê você?
Minha cabeça latejava, meu estomago revirava, apoiando as mãos no vaso no exato momento em que sinto mais uma onda de náuseas.
__Estou aqui Ma__ Consigo dizer segundos antes de por para fora tudo o que sobrou da ceia.
__Meu menino__ Maria caminha em direção ao armarinho pegando uma toalha e a mergulhando na água gelada__ Faz muito tempo que você esta aqui?
Eu sabia que ela estava tentando parecer calma, mas também sabia que estava preocupada, se não soubesse, percebi no exato momento em que nossos olhares se encontraram.
__ Sim__ Digo sentido o gélido da toalha em minha cabeça, as lágrimas escorrendo sobre meu rosto__ Eu estou com medo Ma.
__Não precisa meu amor__ Ela me envolve em seus braços, e por aquele minuto eu me senti como se não precisasse de mais nada, eu estava bem__ Provavelmente você comeu algo que não te fez bem__ Ela se afasta em direção a banheira a preparando__ Venha, vou te lavar e depois vamos descer para tomarmos café com sua familia.
__Estou sem fome__ Digo entrando na água__ Posso ficar na cama hoje?
__ É natal meu amor__ Ela simplesmente diz isso, como se isso fosse o suficiente para me animar, eu odeio natal.
Flash back of
Eu esperei o papai noel na noite de natal dos dois próximos anos. Eu esperei por um milagre durante quatro anos em todas as noites e todos os dias. Eu esperei que o milagre fosse eu e quando ele aconteceu eu tive medo, porque com a cura veio a incerteza. A possibilidade de reviver o pesadelo num futuro, com chances piores de cura, eu não quero que o tempo volte, eu não quero passar por tudo de novo, eu só quero a minha vida de novo.
__Brandon mano até que fim te encontramos__ A voz cansada de Aaron me desperta de meus pensamentos.
Não percebi o quão ruim estava até que encontrei com os olhos de Kyle, ele estava preocupado, por motivos diferente dos outros cara.
__Cara a Maju vai ficar bem__ Anthony tentou me ajudar, sorri para ele, era bom saber que um de nós dois ficaria bem no fim da noite.
__Brandon você esta me assustando__ Henrique disse me olhando, procurando por algum indicio.
__Aconteceu algo?__ Vejo Diego se sentar ao meu lado enquanto fala.__ Caralho Carter você esta suando.
__Por favor__ Digo me forçando a olhar para eles__ Não me chamem de Carter, pelo menos não agora.
O olhar preocupado de meus amigos me fez sentir culpa eles só estavam querendo me ajudar.
__Desculpa__ Digo olhando pra baixo novamente__ Eu só preciso de um minuto.
Eu não esperei por uma resposta, sabia que eles entenderiam, mas também sabia que eles não iriam a lugar algum, mesmo que eu suplicasse esses eram os meus melhores amigos, minha segunda familia, e familia não abandona quem precisa de ajuda.
Kyle continuava a me observar, como se tivesse ligando os pontos, descoberto a última peça do quebra cabeça.
__Não é a Maju__ Ele diz me fazendo o observar__ Você não esta assim só por causa dela né? Você sempre soube que ela ficaria bem__ Ele para por um segundo apenas me analisando, vejo um sentimento diferente em seus olhos, pena talvez, sinto meus olhos se lacrimejarem, eu não poderia mentir__ É o seu passado que te atormenta?__ Confirmo com a cabeça__ Sinto muito.
__ Eu estou com medo Kyle__ Digo ignorando todo mundo, focando apenas nele__ Eu não posso voltar pra lá. Eu já estive lá.
__Você não vai__ Ele diz tentando nos convencer, mesmo sabendo que nunca estive ileso a isso.
__Eu jurei que são apenas lembranças. Que não tinha nada demais lembrar do passado, mas eu as enterrei, prometi nunca mais voltar para revive-la, mas de repente tudo o que vejo é o mini eu, estou revivendo tudo, tentando loucamente achar uma formar de parar as lembrança, de sufocar os meus medos, mas nada, só piora... E apesar de fazer tempo, de eu ser apenas uma criança, eu lembro, eu lembro de tudo, lembro dos primeiros sintomas na véspera do natal, de como eu estava cansado e com medo naquele noite, lembro das manchas, do sangue, do cabelo caindo, das agulhadas, da dor, da morbidez que me encontrava, é como se eu tivesse vivendo tudo de novo, eu sou capaz de sentir e de ver as manchas, e tenho que passar a mão diversas vezes no cabelo pra me certificar que estou bem, de que eles ainda continuam ali, que não estão caindo__ Sorrio, um sorriso triste, olhando para todo eles__ Eu não quero passar por tudo de novo, não quero desapontar minha familia, não posso deixar que a Re passa por tudo isso, ela só tem a mim, e eu certamente não preciso dos olhares deles sobre mim, eu não quero ser o motivo de pena de ninguém.
Paro sentindo dificuldade para respirar, eu pensei que desabafar com eles me faria bem, mas falar sobre os meus medos, parece dá vida a eles.
__Você esta bem mano__ Aaron diz na esperança tola de me ajudar.
__Não Aaron, eu não estou, e se isso não for apenas lembranças eu nunca mais vou poder sentar no lado de fora durante o dia, porque o sol talvez me faça mal, eu não vou poder mais jogar futebol__ Digo com as lágrimas escorrendo pelo meu rosto__ Muito menos sair para festa com vocês, e a gente nem vai poder ficar no mesmo ambiente, porque vocês não aguentariam o meu odor, eu não vou mais ter cabelo Kyle__ Digo olhando pro meu amigo, suplicando por ajuda__ E provavelmente eu vou ficar mais branco do que esses blocos de neve, eu vou parecer um zumbi, as pessoas vão ter medo de mim, e eu não vou poder fazer nada, não vou poder dizer o quanto isso doe, não vou ter o meu anjo me abraçando forte enquanto o sangue mancha toda a minha roupa, eu não vou ter a Renata me dizendo que tudo irá ficar bem, e pior eu não terei o Jay passando por isso comigo, me dando esperança de um futuro, eles vão me trancar num quarto de hospital por anos, enquanto falham miseravelmente em busca de uma cura, minha familia vai desmoronar e eu irei passar por tudo isso sozinho, perdido em lembranças, suplicando por mais um minuto, eu não vou contar a ninguém, porque é assim que sou, egoísta demais para contar a alguém, eu vou afastar todo mundo porque não vou querer ver vocês sofrendo, porque apesar de ser um adulto eu ainda sou uma criança que já passou por isso, eu olho pro espelho ou pro celular e tudo o que vejo é aquele mini eu morrendo de medo, me vejo caminhando pelos corredores de hospitais e sinto a mesma coisa que ele, eu sinto medo, medo de que nunca tenha um fim, me vejo aproximando de outras crianças e me lembro de vê-los correndo para longe com medo, como se eu fosse um monstro, como se não soubesse disso. Me pego esperando pelo papai noel na esperança de que ele finalmente tenha trazido o meu final feliz. Eu irei negar qualquer tipo de amor, porque para aquele mini Brandon amor é uma forma de destruição e eu não posso culpa-lo por isso afinal sempre que ele ouvia as palavras "EU TE AMO" ele tinha a impressão de nunca mais iria ouvi-las novamente. Eu estou com medo Diego, realmente estou e tudo piora quando me cai a ficha de que não estou ileso, de que posso passar por tudo isso de novo __Olho pra baixo, para as minhas mãos, me perguntando se elas ficaram geladas novamente__ Uma vez me disseram que eu era uma milagre__ Levanto o olhar para encontrar Anthony__ Qual é a probabilidade de eu ser outro milagre Anthony?__ Vejo-o abrir a boca e fecha-la, desviando o olhar para Henrique.
Eu sabia o motivo disso, o pai de Henrique era medico, o que facilitava saber seus pensamentos.
__ Se eu tiver câncer novamente, eu vou ficar diferente Henrique, você não vai me reconhecer, chegará um tempo em que eu não vou mais sair da cama, que não irei mais falar para evitar a dor e o cansaço, eu terei que me alimentar por sonda e enfrentarei todos os tipos de dor, quimioterapia, cirurgia e transplante possíveis e impossíveis, certamente meus pais vão ter que contratar alguma equipe extra para cuidar de mim 24 horas por dia, inclusive me dar banho, eu vou estar morto só que vivo, e não existe coisa pior. Eu sei que já disse isso, mas é verdade eu não quero passar por isso de novo, eu não sei se conseguiria. Se eu me afastar de vocês, me desculpem, vocês vão cansar de me ouvir pedindo desculpa, mas preciso que saibam que em todas elas eu realmente sentirei muito, eu nunca soube lidar com os meus medos, e me sinto culpado por ver as pessoas ao meu lado sofrendo, se afastar é o meu mecanismo de proteção, eu não posso sentir culpa, eu certamente me afastarei das meninas e se romper qualquer tipo de laço com elas, quero que vocês digam a elas, que não faço por mal, elas merecem ser feliz, e me ter por perto impediria que elas encontrassem a felicidade, vocês irão descobrir que eu tenho um jeito protetor com os outros que fala mais alto que minha razão. Eu não quero me afastar, e tentarei não fazer, mas se eu me afastar não desistam de mim__ Eu suplico olhando para cada um deles__ Eu irei precisar de vocês. E provavelmente vocês serão as únicas pessoas com quem eu conseguirei desabafar, mas não quero que se sintam obrigados a ficarem ao meu lado, se em algum momento vocês sentirem que não aguentam mais, não pensem duas vez antes de partir, vocês merecem mais e não os culparei por isso, só quero que vocês fiquem bem. E se eu realmente estiver doente, se eu não conseguir passar por tudo isso de novo, eu suplico para que vocês não abandone a Renata, ela não é um monstro como parece ser, ela só é sozinha, só tem a mim, e em parte eu sou o único culpado por ela ser assim.
Olho para cada um de meus amigos, notando cada traço de preocupação que existe, as vezes lembranças são sinais de que o passado não é tão passado assim
Maju On
Eu ouvi uma vez que quando você deseja muito alguma coisa seu cérebro tende a criar isso, ele cria o que você deseja, e você tem a sensação de aquela ilusão criada é verdadeira, e algumas delas são realmente muito parecidas com a realidade, tornando dificil distinguir o que é real, todo mundo alguma vez na vida já teve essa sensação seja um sonho muito lucido que você teve e passou horas depois tentando descobrir se era real, a impressão de ter visto algo em um minuto que desaparece no outro, ou a sensação de ter escutado alguém te chamar sem que ninguém realmente tivesse, isso acontece porque nosso cérebro tende a nos pregar algumas peças... e nesse exato momento eu tinha certeza de que o meu estava me pregando a pior delas.
Aqueles olhos inconfundíveis de Felipe estavam a apenas alguns metros de distancia, a imensidão azul estava agitada como um mar revolto, escuros como a noite fria, mas mesmo assim eles estavam magníficos, havia um brilho forte de medo em seus olhos, ele estava assustado e desesperado. Seu rosto estava impecável, completamente diferente da ultima noite que o vi, não havia cortes e nem sangue, ele estava limpo e sereno, um belo contraste para a expressão em seus olhos, seu cabelo continuava do mesmo jeito, uma bagunça que ninguém nunca iria conseguir ajeitar, seus fios castanhos caia por todos os lados conforme o vento os atingia. Seu corpo mantinha o mesmo formato da ultima vez que o vi, era um corpo musculoso mas magro, ele vestia uma calça jeans preta e uma camisa de manga longa mas fina branca, ele me parecia tão real e ao mesmo tempo tão intocável. Eu tinha certeza que minha mente estava me iludindo, isso não tinha como ser real, Felipe estava morto, e mortos não voltam, isso era apenas uma brincadeira do destino, uma lembrança do que eu havia perdido.
A imensidão azul agitada focou em meus olhos, me atraindo para o seu mundo e eu me perdi lá dentro, me perdi em uma profundeza gritante.
VOCÊ ESTÁ LENDO
This is my history
Teen FictionMaju é uma adolescente de 18 anos, que sonha em conquistar o mundo. Uma garota linda, meiga, educada, divertida, que conta com 4 amigas fiéis. Pais atenciosos, e um namorado perfeito. Ela sempre teve tudo o que quis, e levava uma vida perfeita, até...