Eu já não consigo mais enxergar o caminho a minha frente...
O frio da noite me castiga de uma forma cruel e os meus pés descalços já não conseguem mais sustentar o peso do meu corpo fatigado, que vaga sem sentido pelas ruas esquisitas da cidade em que fui jogada para ter minha vida levada sem maiores explicações.
Meus pés formigam e meus tornozelos queimam a cada toque do meu calcanhar no chão encrespado.
Diminuindo o ritmo das passadas, sinto a extensão dos pés até os joelhos enfraquecerem, me desequilibrando no mesmo segundo que a dor aguda se concentra no único lugar que tem a função de me manter em pé.
Resmungo interiormente quando o desiquilíbrio quase me faz cair, mas, por sorte, consigo estender o braço e apoiar a mão em uma das árvores frondosas, que fica bem em frente a uma casa com uma mureta baixa. Por ter um muro pequeno, da para ver o espaço com uma jardinagem, e, um banco cumprido cercado por flores, deixando-o diferente e característico.
Respiro fundo e acabo tossindo em seguida, sentindo a garganta seca implorar por alguns goles de água.
Minha mente já não está mais atenta e disposta a cooperar com a minha situação, e misturado com as dores físicas, está ficando impossível continuar andando sem rumo, para achar algo que não faço a mínima ideia do que seja.
Quando corri daquela intensidade animalesca, que se propôs a ter um pingo de bondade, só conseguia seguir os meus instintos de desaparecer dali e sumir de suas vistas, não me importando, em um primeiro momento, com o que a sua presença e palavras fizeram lá, no fundo da minha alma.
Correndo, pensei desorientada que o melhor lugar para me esconder, enquanto esperasse seu carro passar pela rua, seria na lanchonete onde tudo começou a desandar.
Eu sei... Ideia péssima, mas que na hora parecia a mais inteligente. Afinal, seria impossível correr sem destino, sabendo que no meio do caminho ele toparia comigo e se me visse, poderia voltar atrás com sua decisão e me matar ali mesmo na calçada da rua deserta.
Por isso, em meio à confusão das ideias, e do senso, empurrei a porta e ela emperrou menos da metade. Do jeito que eu estava não conseguia pensar claramente no porquê da dificuldade de abrir, e meus olhos aturdidos por tudo que estava acontecendo, não focaram no detalhe nada imperceptível.
Mesmo escutando um barulho de coisa quebrando, forcei ao máximo e passei.
Na mesma hora que pisei no chão da lanchonete, fez-se um barulho igual ao do que fazemos quando pisamos em uma poça de lama.
A superfície plana estava extremamente escorregadia e foi isso que me despertou, tensionando meu corpo no mesmo instante. A realidade do que havia acontecido ali começou a cair sobre mim, e foi nesse momento que o cheiro de ferro entrou quando inalei profundamente, não querendo acreditar no que estava acontecendo.
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A VINGANÇA DO CAPO - PARTE 1
Romance"Todos têm o seu lado obscuro que - desde que tudo dê certo - é preferível não conhecer. " E é a partir disso, que entraremos na mente e vida do Mikhail Kutner. Obrigado a amadurecer antes mesmo de aprender a ler, Kutner precisou fugir de uma vida...