Capítulo 28

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Doze dias

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Doze dias...

Doze longos dias dentro desse lugar pequeno e enjoativo. Eu não saia do quarto, apenas quando o Adan dizia que eu precisava tomar um pouco de ar e esticar as pernas  para não acabar tendo algum problema circulatório por viver sentada ou deitada.

Nos primeiros três dias, ainda não tinha percebido a dimensão de tudo que estava acontecendo. Não tinha caído a ficha de que estava dentro de um navio, carregado de corpos mortos e em estado de decomposição. E, pior... eu, que vivia em um lugar sem muita emoção, seguindo regras e fazendo tudo corretamente, acabei matando alguém.

O quão isso é absurdo? É tão inacreditável, e quase impossível, que a minha ficha só foi cair, três dias depois dentro desse navio terrível. À medida que a realidade ia caindo por sobre minha cabeça, os danos físicos começaram a ficar bem aparentes. Passei a sentir fortes dores de cabeça, suava e sentia meu coração acelerar como se tivesse em uma sala quente e fechada, que me sufocava e tentava me jogar lá para baixo, mostrando os flashes das cenas mais horríveis que já presenciei. A cena dos corpos sendo arremessados, a cabeça da mulher caindo aos meus pés, o olhar vazio do homem que eu matei... matei... Isso nunca vai sair da minha cabeça. Para piorar, a solidão e a falta de uma pessoa para conversar e me distrair, me fez lembrar coisas que não deveriam ser lembradas.

A real é que passei os três dias negando, e achando que tudo não passava de um sonho ruim. Não tinha como tudo acontecer assim de uma hora para outra, era isso que uma parte em mim teimava em dizer. Essa parte que me deixa mais forte e disposta a enfrentar o mundo, dizia que tudo não passava de uma alucinação, mais uma ilusão feita por mim mesma para fugir dos meus pesadelos reais...

Teve uma época não tão distante, que as alucinações eram a minha porta de saída. Eu sentia a necessidade de me desligar, pedia a cura para me livrar da realidade do meu passado, das ameaças, dos toques, da dor que ele me fazia sentir se eu não dissesse sim. Quanto mais negava, mais insano ele ficava e fazia tudo mil vezes pior. Mas se eu for parar para analisar, mesmo cedendo para não ter que sofrer mais, ainda doía. Porque além da dor física, tinha a mental, e essa... Essa é a mais fodida. É a dor mental, que te faz cair, te faz paralisar e ter raiva de ainda respirar. É essa bendita dor mental, que te mata pedaço por pedaço a cada dia. Basta vir as lembranças, os flashs do olhar, das mãos grandes e assustadoras percorrendo o seu corpo, e do chiado que saia dos seus lábios pedindo silêncio. Basta pensar, que sua alma vai sendo sugada para o fundo, e se você não tiver forças suficientes para não cair, é aí que tudo desmorona e você passa a não só viver em um abismo escuro, como também vai atrás de meios para finalizar com tudo.

E eu não vou mentir que tive meus momentos de fraqueza e tentei desistir de tudo. Seria tão mais fácil se eu só não existisse mais... Não seria um peso na vida de ninguém e ainda conseguiria a minha tão sonhada paz. Desde que me entendo por gente, não houve um dia se quer de tranquilidade. Sempre vivi em meio ao medo. Ao receio de alguém vim e me maltratar de novo, tirando o equilíbrio que venho buscando depois que o Fabrizio me tirou de casa.

A VINGANÇA DO CAPO - PARTE 1Onde histórias criam vida. Descubra agora