Capítulo 47

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"O problema não são as cicatrizes. O problema é olhar para elas e lembrar de quem as deixou"

 O problema é olhar para elas e lembrar de quem as deixou"

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Respirar nunca foi tão ruidoso como está sendo agora...

Ao movimentar o meu peito e expandi-lo na tentativa vã de procurar o ar, parece que cada partícula do meu corpo reage negativamente, em uma súplica para conter esse movimento natural de quem está vivo.

Vivo...

Solto um gemido e forço meu corpo a ficar inerte no chão ainda frio, e afasto as mãos do meu rosto e sou atingida completamente pelo clarão dos raios baixos da luz do sol.

Está tão frio...

Abro os olhos contidamente, uma, duas, três, quatro vezes até me adaptar ao ambiente iluminado. Vejo que estou deitada e encolhida em um lugar afastado de onde me lembro ter ficado, e a dúvida de como consegui me arrastar até o canto de leitura me faz pensar e acabar tendo lembranças dolorosas a ponto de me fazer prender a respiração e buscar pensar em coisas diferentes, que sejam no mínimo amenizadoras para afugentar a minha mente e alma ferida.

Mãe... – A palavra simplesmente sai, tão automática e reivindicadora. Minha mente está tão longe, tão mergulhada em um nível profundo dos tempos que eu ficava nessa situação, que me pego chamando novamente por ela. – Mamãe... – Mas ela não vem, ela não está aqui. Estou sozinha, sem forças e com o rosto queimando e dolorido, não sei se pelos tapas ou pelo fios luminosos que entram pela grande janela que clareiam todo o quarto e queimam meu corpo nu; que agora começa a dar os primeiros sinais do que aconteceu, mostrando que não foi um pesadelo vívido e sim a mais pura realidade do que eu só tinha vontade de deixar enterrado a sete chaves dentro do baú do meu inconsciente.

Meus olhos estão totalmente abertos agora, e olhando diretamente para o sol abro um sorriso, um sorriso sem sentido, mas que me mostra que eu posso levantar e tentar novamente superar o que já aconteceu tantas vezes no passado. Meus olhos ardem, tremulam e ainda com os lábios meio abertos pelo sorriso fraco, sinto uma lágrima escorrer e entrar pela pequena abertura de certa forma infundada. O gosto salgado é tão convidativo, que sinto a nova sequência de lágrimas quererem cair, mas, não deixo.

Já é humilhante demais estar aqui, chorar agora não pode ser uma opção.

Levanto um braço e apoio a minha mão no acento acolchoado do cantinho da leitura e forço meu corpo a sentar, mas esse movimento me faz soltar um gemido alto de dor e morder os lábios tão forte que sinto um pedaço seco ser desprendido. Respiro sem controle, o pânico começando a querer me dominar, a sensação de impotência, vozes, gritos e suplicas internas começam a girar e se infiltrar feito um redemoinho, levando consigo a minha calmaria e deixando um resíduo poderoso do puro descontrole de uma alma perdida e sozinha.

Gritos.

Gritos...

Parem de gritar, parem de gritar!

A VINGANÇA DO CAPO - PARTE 1Onde histórias criam vida. Descubra agora