🔪 Capítulo 5 🔪

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Assim que deixo meu filho no colégio, dirijo o mais rápido que posso para o meu trabalho

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Assim que deixo meu filho no colégio, dirijo o mais rápido que posso para o meu trabalho.

Ser legista nunca foi a primeira profissão que tinha em mente. Se for parar e analisar as profissões que cogitei entrar, não vamos ficar nem um minuto conversando, pois não existe uma carreira que sempre tive vontade de cursar. Primeiro, porque não tenho paciência para chefes que por estarem no alto escalão, tendem a abusar da sua posição. E, segundo, porque eu odeio estar com pessoas hipócritas e que se vestem com uma capa de boas. Essas são as que mais me irritam e me fazem sentir uma aversão pela socialização.

Quando fui diagnosticado com o transtorno de personalidade antissocial, cheguei a soltar uma risada de escarnio. Sempre achei que esse problema era uma coisa tola e insignificante, porém, vim descobrir tempos depois que não era como imaginava. Quem tem esse desvio, além de não sentir vontade alguma de conversar com outras pessoas, tendem a ser mais impulsivas, manipuladoras, e principalmente não conseguem administrar passivamente os conflitos a sua volta, acabando por ter uma visão distorcida da realidade, sendo assim levadas para a canalização da violência. Então, tudo que crie repulsa perante os olhos das pessoas "normais", atos violentos e a desconstrução de normas sociais, para nós, é completamente revigorante e muito, mas muito prazeroso...

Ver a desordem nos dá ânimo para continuar existindo.

Por tanto, vi na sala de necropsia, o meu lugar de existir. Quando os corpos chegam, eu me sinto estranhamente bem e completamente impassível. O que vejo na minha frente, é apenas pele e osso. O conjunto externo de um ser que já deixou de existir e está em outro lugar bem diferente daqui.

Tenho sempre em mente que estou apenas trabalhando com uma casca oca e sem vida.

Entro pela porta de trás da sala que trabalho e a primeira coisa que vejo é o meu substituto, Thomas Tunner, terminando de examinar internamente a morte da senhora ali deitada, com a caixa torácica aberta até a sua área pélvica, revelando todos os órgãos em um estado catastrófico, que acaba trazendo um odor fétido ao local.

– Bom dia, Thomas. Qual foi a causa da morte? – Pergunto indo em direção a pia, ligando a torneira para higienizar as mãos.

– Sepse. Ela tinha problemas de obstrução intestinal e deveria seguir uma dieta. Mas não foi isso que fez. – Terminando de passar o álcool em minhas mãos, olho para trás e estreito o olhar para o seu intestino necrosado.

Pego o avental descartável, o colocando e em seguida busco os óculos de proteção e as luvas. Tem corpos que precisamos usar máscaras, por causa do tipo de morte que ele veio a ter, e outros não. Há quem use as máscaras para diminuir o contato direto com os odores liberados pelos corpos, e tem eu, que pouco me importo se a carne fede ou não. Os casos onde o corpo está em putrefação, na fase onde os gases estão sendo liberados devido a decomposição feita pelas bactérias do próprio organismo, é onde tem mais profissionais usando as máscaras com um produto que ajude a dissipar o fedor das vias respiratórias. E quando sou eu que estou tomando a frente nesses casos, fico tão concentrado na busca por respostas para o crime, que simplesmente esqueço cheiros, vozes e só me concentro naquele quebra cabeças que é o corpo em estado de decomposição.

A VINGANÇA DO CAPO - PARTE 1Onde histórias criam vida. Descubra agora