Papo de loja

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— Eu tiro o meu cavanhaque? — Kei acariciava o queixo enquanto se olhava no espelho da loja.

— Você vai parecer duas vezes mais twink do que já é. — Mirko também analisava no espelho as próprias coxas no jeans que usava. — Toda essa preocupação por causa do seu daddy?

Kei sorriu decidindo deixar o cavanhaque, Mirko estava certa, se tirasse pareceria ainda mais jovem e Kei sabia que Enji não estava preparado para isso.

— Você tem que me recompensar, seu otário. — Mirko puxou o celular do bolso e tirando Kei da tela começou a fazer um storie anunciando as roupas nos cabides da loja.

— Minha companhia não é recompensa o suficiente?

— Com certeza não. Não sou fã de galinhas traidoras.

— Como se você nunca tivesse me trocado facilmente por qualquer mulher peituda. Eu ainda lembro do ano passado.

— Ela usava óculos, tá legal? Escolhe algo pra você. — Mirko disse assim que terminou de publicar o stories. — O publi vai dar o cachê e roupas.

— Uau. — Kei fingiu ficar impressionado. Pegou um casaco verde.

— Viu como eu sou boa amiga? Tô até bancando seu sugar daddy. Que tal reconsiderar minha proposta?

— Que bondade a sua, Miruko. Mas meu ano novo tá ocupado. — Kei procurava uma blusa para combinar com o casaco.

— Você não se cansa de destruir lares? — Mirko escolhia calças para o inverno. — Deixa ele passar o ano novo com a família certinha e venha meter o louco comigo. Aquele cara de meia-idade do canal de investimentos vai à festa, ele é bem seu tipo. Velho, endinheirado, solitário e de caráter duvidoso.

— Realmente, ele é meu tipo. — Kei lembrou dos vídeos em que Mirko participou no canal do homem grisalho de barba bem feita. — Mas meus planos de ano novo continuam de pé.

— Esse velho deve mesmo estar louco em você. Não vai passar o feriado com a família… espera! Ele é daqueles velhos ricos e solitários, certo? Eu sabia! Tá explicado.

Kei não negou que Mirko não tinha errado. Gostou da blusa vermelha, colocou-a sobre o antebraço junto com o casaco, dava para comprar todas as refeições de um mês com o valor daquelas duas peças.

— Chama seu velho para a festa. — Mirko sugeriu.

— Não dá. — Kei falou casualmente.

— Eu sabia que ele era casado. — A influencer concluiu.

Kei deu de ombros.

— Você não mudou nada desde o ensino médio. — Mirko o olhou como quem já estava acostumada. — Aquele professor foi só o primeiro. — Ela olhou para o anel no indicador dele. — Você sabia que ele casou mesmo?

— Não. — Kei respondeu a verdade. Há anos não pensava no homem, Mirko tinha razão: ele só foi o primeiro de muitos.

— Que cara podre. — Ela escolheu uma bela calça curta. — E agindo todo nobre pra todo mundo. Coitada da esposa dele. Bom, ex-esposa, separaram uns quatro anos depois.

— Você tá bem por dentro das coisas, não é? — Kei pegou uma blusa de um tecido macio e leve que ele não sabia dizer qual. — Eu nem lembro mais direito o rosto dele.

— Mas aposto que o pau não esqueceu. — a amiga rebateu.

— É, não dá para esquecer. — Kei relembrou de momentos-chave daquele tempo e nenhum era apropriado para menores. Nunca foi um adolescente ajuizado, Tokoyami sem dúvida era dez melhor do que Kei na mesma idade. — Eu até poderia dizer que estava fora de mim, mas seria mentira.

— Você era tão sedento por ele que fiquei em choque quando não fez nada quando ele apareceu noivo.

— Ele não precisava casar comigo para o que eu queria fazer.

Mirko ficou em silêncio observando melhor as roupas até que:

— E quando você pretende terminar com esse velho?

Kei fez um ruído alegre na garganta antes de responder:

— Vamos deixar rolar.

A boca da amiga quase caiu:

— Fala sério! — Ela bateu atônita num dos expositores. — Você tá apaixonado por ele? Você?!

Ele apoiou os dois braços na arara de roupas e disse com seu sorriso de rapina:

— Eu sempre fui apaixonado por ele.

A cara toda de Mirko se contorceu como se quisesse vomitar:

— Essa é a coisa mais burra que você já disse e você vive dizendo coisas muito burras.

— Talvez. — Kei concordou sem dar importância. — Mas é promissor.

— Acha mesmo que ele vai casar com você ou sei lá o quê? — perguntou incrédula cheia de ironias. — Você não é burro, Hawks. Tá ficando agora?

— Ele não precisa casar comigo, me dar uma casa e uma família. Eu não sou idiota. Tá bom do jeito que tá. Eu só quero aproveitar enquanto é tempo.

— E quando ele te largar? Você sabe que ele vai te largar por qualquer motivo: filhos, voltar com a esposa, casar com alguém que a sociedade vai aceitar ou até mesmo porque se cansou de você.

— Eu sei que é questão de tempo. — Kei falou com o gosto amargo na boca, mas não deixou transparecer. Enji já havia lhe metido o pé na bunda, nada impedia que fizesse novamente, por mais que na viagem ele deu a entender que não. Seu rei era como o sol aos seus olhos, mas até o sol se põe e palavras são levadas com o vento. Kei não era nenhum tolo, nem quando adolescente. — Só quero curtir.

— Então curta bastante e depois desapareça como sempre faz assim você não se machuca.

— Eu tenho meus planos. — Quando Enji fosse embora, Kei aceitaria dessa vez sem tanto choro. Dessa vez estava preparado. Foderia com Dabi até perder a consciência. Decidiu isso quando o homem voltou. — Não se preocupe. — Kei tranquilizou.

— Eu não me preocupo. Você come homens como esse no café da manhã.

A amiga estava correta. Kei se relacionou com muitos caras, todos diferentes, todos iguais. O relacionamento mais estável que teve na vida foi com a Comissão e provavelmente seria só esse mesmo. Kei voltava à primeira questão: Enji vai embora, mas quando? Uma data de validade indefinida pairava sobre os dois.

— Quando acabar, acabou. — Kei falou. — Aí eu parto para o próximo velho e depois outro e depois outro…

— E você está mesmo apaixonado? — Mirko zombou mostrando a língua.

— Claro, qual parte do “eu sempre fui apaixonado por ele” você não entendeu?

— Pobre homem. — Mirko pareceu tocada. — Não quero nem saber quais seus planos ardilosos para ele.

Kei sorriu:

— Eu só tenho as melhores intenções. — Pegou outra camisa e pôs sobre o peito.

Três capítulos na mesma semana?! Que loucura!

AVISO: Eu já avisei no primeiro capítulo dessa fic, mas vale avisar de novo: isso é ficção, não se tratam de pessoas de verdade. Na vida real, menores de idade não devem se relacionar sexual ou romanticamente com adultos.

O que acharam do capítulo? Deixem suas críticas, comentários, elogios e teorias.

A parte 2 do especial do dia dos Namorados está chegando…

Bjinhus!

O Rei E O PassarinhoOnde histórias criam vida. Descubra agora