Desde os cinco anos

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Fuyumi voltou para o quarto do pai, ele assistia atento a todas as reportagens sobre a empresa denunciada, ninguém falava sobre Keiichi Kyo no momento, mas ela sabia que ele estava esperando aparecer.

Alguém bateu na porta e não esperou para abri-la, Fuyumi achou ser algum enfermeiro, no entanto, ao olhá-lo pensou ser algum paciente perdido cheio bandagens no rosto. Então finalmente o reconheceu pelos olhos dourados e um pouco do cabelo a mostra. Um homem alto vestido de jeans dos pés à cabeça o acompanhava logo atrás.

— Boa noite. — Kei disse ao entrar no quarto, sua voz arranhava. — Como está se sentindo, grandão?

— Kei? — Enji ficou boquiaberto e Fuyumi, sem palavras.

— E Tsunagu. — o loiro completou com um sorriso.

— Boa noite. — Tsunagu cumprimentou a todos com um aceno educado.

O rosto de Enji que estava entre a surpresa e a preocupação passou para a raiva:

— O que está fazendo aqui?! O que pensa que…

Kei levantou a mão interrompendo.

— Olha, Endeavor-san, eu não quase morri umas oito vezes para chegar até aqui e ser escurraçado. É a minha vez de falar, grandão.

— Morrer? — Enji lembrou do incêndio, das ligações não atendidas e do corpo de Kei sendo levado pela ambulância. Nenhuma notícia em meses.

— Você se importa, Fuyumi? — Kei perguntou casualmente.

Ela ficou sem saber o que responder. Estava nervosa com a situação.

— Eu… eu… não me impor-

— Não ouse meter mais um dos meus filhos nos seus jogos!

— Nós não cruzamos a cidade para brincar com os seus filhos. — foi a vez de Tsunagu interromper. — Kei, tem algo muito importante a dizer.

— Eu viria atrás de você depois de um tempo, grandão. Mas o meu incidente aconteceu e assim que saí do hospital tive uma surpresinha. Vocês assistiram as notícias? — Kei indicou com o queixo a televisão passando o noticiário da noite. É claro que sim.

— Você está bem, Kei? — Fuyumi perguntou apreensiva. Mal conseguia imaginar o inferno que seria sua vida e a dos irmãos se fossem expostos assim.

— Ah, já estou sarando. — Kei apontou para os curativos no rosto. — Estava bem pior.

— O que você quer? — Enji exigiu.

Kei respirou fundo e relaxou os ombros:

— Dizer o que você queria ouvir. É, eu menti pra você, mas não sobre dormir com Natsuo. Eu jamais toquei nele e nada relacionado passou pela minha cabeça. Mas eu menti sobre um monte de coisas. Tá passando na televisão agora mesmo. — Apontou. — Pensei que seria melhor eu esclarecer tudo já que você não vai acreditar em mim mesmo.

— E você veio meter os meus filhos nisso?

— Ou seria agora ou nunca mais. Sei que não vou ter outra chance depois.

— Eu não quero ouvir nada do que você tem para dizer.

— Mas eu não vou sair daqui até dizer. — Kei estava tranquilo.

— Fuyumi, chame os seguranças.

— Eu sou apaixonado por você desde que eu tinha cinco anos, sabia? — Kei começou.

— Pare com isso! Fuyumi! — Enji chamou pela filha.

Tsunagu continuava de braços cruzados testemunhando a situação.

— Você pode ficar para ouvir tudo se quiser, Fuyumi. — Kei sugeriu.

— Minha filha não vai ouvir suas bobagens e nem eu! Os seguranças, Fuyumi!

Ela não sabia o que fazer, olhava tensa para a situação e então resolveu tomar a atitude que sabia ser adequada. Hoje poderia fazer mais pela sua família.

— Pai! Acho que o senhor deveria escutar! — Silenciou todo o cômodo.

— O quê? — Endeavor estava chocado.

— Ele deveria falar, não deveria?! Olha só o estado dele, saiu direto do hospital para vir falar com o senhor e ele tem o direito de se defender do que estão dizendo na televisão para a pessoa que se importa! O assunto é sobre ele! Por que ele não pode falar?!

— Fuyumi… — Enji ficou pasmo. Kei sorriu.

Ela levou alguns segundos para se acalmar. Ao conseguir, pegou o celular e foi para a porta:

— Vou deixar vocês a sós. Por favor, escute tudo, pai. — Ela olhou para Tsunagu que entendeu a deixa e a seguiu. — Demore o tempo que precisar — falou diretamente para Kei — Estou esperando lá fora.

Fuyumi e Tsunagu deixaram o quarto restando apenas o loiro enfaixado e Enji com um curativo na cabeça.

Kei estava com as mãos no bolsos, encarava-o com aquela expressão indiferente de sempre, não parecia que desapareceu durante dois meses e tampouco que brigaram. Porém as bandagens no rosto e o modo como suas bochechas estavam fundas mostraram a passagem do tempo. Kei tinha o aspecto de um doente se recuperando.

Era bom que estivesse vivo, mas não significava que queria ter qualquer conversa com ele. Enji percebeu que as bandagens não cobriam queimaduras e sim hematomas já amarelos e esverdeados. Quem fez isso?, Enji se perguntou.

— Foram as mesmas pessoas que sequestraram você. — Kei respondeu lendo seu pensamento. — Mas no meu acaso, a recompensa era me matar mesmo. Tive uma hemorragia interna no estômago e passei um tempão me alimentando de líquidos, por isso perdi peso, mas já estou bem agora.

Kei trouxe a poltrona dos acompanhantes para mais perto do leito de Enji. Jogou-se nela:

— Ah, eu não dormi com seu filho também. Repetindo caso não tenha entrado na sua cabeça.

— Por que queriam matar você? — Enji não conseguia acreditar e Kei falava sobre tudo com tamanha naturalidade, mas se ele estivesse às lágrimas e berros contando, Enji acreditaria menos.

— Eu vacilei feio com um dos amigos de Shigaraki. Mereci a surra.

— Dormiu com algum dos filhos deles?

Kei apoiou o rosto no punho sobre o braço da poltrona, seus olhos eram tenros, deu um sorrisinho e disse:

— Senti sua falta, meu rei.

— Não me chame assim.

— Tudo bem, daqui a pouco não vou te chamar de nada mesmo. — Verificou as horas no celular e depois o noticiário. — Olha só, é o meu pai de novo na televisão. Ele é muito fotogênico, não acha?

Kei virou o rosto para Enji, a imagem de Keiichi Kyo ainda na tela travava um paralelo entre os dois. Eles eram mais semelhantes em aparência do que Enji com Natsuo, na verdade, mais pareciam versões de universos diferentes do que pai e filho.

— Diga logo o que veio falar e vá embora.

— Eu sou apaixonado por você desde os cinco anos de idade, não é uma hipérbole, é a verdade.

Enji ficou irritado:

— Pare de falar bobagens e comece logo!

— Isso não é uma bobagem. É o começo. — Kei corrigiu calmo e determinado.

Ele reencostou-se na poltrona, respirou fundo e fitou Enji diretamente:

— Minha mãe era uma completa viciada que se prostituía para o vício e para termos o que comer…

E aqui começamos o flashback do passado de Kei! Lembram da parte que eu falei que seria toda na cronologia correta e demoraria um pouco mais para sair? É essa.
O que vocês esperam do passado dele? Desgraça, dor e sofrimento?
O que acharam do capítulo? Deixem seus comentários, críticas, teorias e elogios.
Até logo!
Bjinhus!

O Rei E O PassarinhoOnde histórias criam vida. Descubra agora