Desmascarando.

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— Você aqui? — Yagi ficou surpreso com o grande homem na porta da cafeteira.

— Preciso falar com você. — Enji foi curto e grosso.

— Claro. — Yagi terminou de trancar as portas. — Mas vamos para a minha casa, já é a hora do…

— Não. — Enji cortou. — É urgente. — Enji se forçava a encarar o doente, as ruínas do que o homem foi.

— É… meus remédios também são urgentes… — Yagi contra-argumentou. — Vamos para a minha casa, é logo aqui atrás.

Enji caminhou com o doente para a tal casa que Kei foi tantas vezes. Há uma semana recebeu do detetive as informações do garoto.

— Pode entrar e se sentar. — Yagi apontou para o sofá cheio de almofadas. — Só vou tomar os meus remédios e volto logo.

Enji sentou afundando o sofá fofo o que trouxe as almofadas para ele. Enji sentiu um desconforto logo embaixo de si, ajeitou as pernas e puxou o objeto que lhe incomodava: era o relógio de Kei. Se levantou imediatamente do lugar e quis lançar o relógio prateado contra a parede com toda a força. Eles fizeram ali onde ele sentou! Só de imaginar o rosto de Kei e o

— O que foi? — Yagi bebia um grande copo d'água. Enji apertou o relógio no punho, Yagi pareceu não perceber nada. — O que você tem que me contar? Sabe, fico feliz que você veio aqui e…

— Se afaste do garoto. — Enji disse.

— Hã? Que garoto? Midoriya?

— Você sabe de quem estou falando. — Por que Yagi se fazia de idiota? — Ele é perigoso.

— Midoriya? — Sacudiu a cabeça. — Não, ele é um bom garoto.

— De quem você tá falando, Enji? Espera aí… é de Keigo?

— Keigo? — Enji enrugou o nariz em incredulidade.

— Quero dizer Kei. — Yagi se corrigiu. — Ele é perigoso? — Parecia realmente confuso. — Acho que ele só é jovem mesmo, ah! Esse sabe aproveitar a juventude!

— Você também aproveita. — Enji resmungou.

— Ah, claro! Ao máximo! — Yagi sorriu ao longe. — Ficava nesse sofá o dia todo e…

— Não quero ouvir.

— Como não? Você não aproveitou também?

— O quê?! — Um choque passou pela coluna de Enji. Kei contou?

— Ué? Quando nós pegamos aquela bola…

— Eu não fiz isso! — As orelhas de Enji ficando vermelhas. — Você fez?! — Quanto os dois tinham avançado?

— Você fez também! Não lembra? Eu estava lá.

— Eu não sei do que você está falando. — Kei fez uma videochamada mandou ao vivo para Yagi?!

— Ora, Enji, das nossas aulas de Educação Física quando éramos jovens. Não lembra? Aproveitamos ao máximo nossa juventude! Uma pena que você nunca saía com a gente.

Enji sentiu o alívio no peito. Que possibilidade horrível foi essa que passou por sua cabeça? Por que ele estava aliviado?

Enji voltou ao que interessava:

— Você tem que se afastar de Kei.

— Kei? Você conhece ele? — Pela primeira vez Enji considerou que para falar sobre Kei ele tinha que mostrar que conhecia o garoto e talvez que sabia dos dois…

— Sim.

— De onde? — Quando foi que Yagi começou a ser tão curioso.

— Não interessa de onde. — Enji respondeu. — O garoto é perigoso. — Tirou o envelope do paletó e entregou para Yagi.

Ele hesitou por um instante antes de pegar o papel, devagar abriu.

— Ué? — Yagi viu os papéis e os virou para Enji, não havia nada além de uma cópia de uma certidão de nascimento sem os nomes dos pais. — Não tem nada aqui.

— Isso não é no mínimo estranho, Toshinori? Não tem mais nada do garoto. É quase como se ele não existisse. Ele esconde algo.

— Por que você tem essas coisas? — Yagi guardou de volta o documento no envelope.

— Ele estava bem interessado em mim — Enji disse esperando alguma reação do outro homem, o que não aconteceu. — Me seguindo e aparecendo nos mesmos lugares em que eu vou, achei estranho e mandei investigar.

Yagi riu e devolveu o envelope:

— Tenho certeza que ele só lhe admira muito. Você é uma grande inspiração para muitos. Só não está acostumado a… — se interrompeu com a voz morrendo aos poucos.

— A o quê? — Enji ficou irritado.

— A alguém gostar tanto de você. — Yagi completou, mas Enji tinha certeza que não era isso o que ele diria. — Quer ficar para ver o bingo na televisão? — desconversou.

Enji fungou em desprezo e tudo o que disse antes de partir foi:

— Patético.

O Rei E O PassarinhoOnde histórias criam vida. Descubra agora