Loja de Lámen

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— Você tá bonito. — Satoshi falou ao se aproximar da lápide em que Kei acendeu o incenso.

— Você não tá nada mau também. — Kei respondeu e uma nuvem branca saiu de seus lábios.

— Acha? — Satoshi abriu os braços tirando o peso do corpo da bengala por alguns segundos. — Estou fazendo exercícios.

— Qual a novidade? — Kei perguntou com as mãos nos bolsos do casaco. — Disseram que você tem algo de importante para a Comissão.

— Apenas uns nomes. — O ex-gangster tirou um envelope do casaco, mesmo de noite ele usava os óculos de sol. — Tenho que me manter informado nesse ramo, vocês são piores que a yakuza. Meu pai tava certo ao falar que grandes empresas são o grande mal da sociedade.

— Nós. — Kei corrigiu.

— Não. — Satoshi corrigiu a correção. — Vocês. Eu estou deixando a Comissão. Meu contrato acabou e tenho dinheiro o suficiente para uma vida confortável.

— Vai se aposentar aos 40 e poucos anos? — Kei ergueu uma sobrancelha. Satoshi usava uma bengala para poder andar, porém ainda tinha uma aparência jovem. O ex-gangster era mais jovem que Enji, mas já tinha alguns fios brancos no cabelo negro penteado para trás e rugas na linha do sorriso e ainda usava aqueles paletós grandes por baixo do casaco.

— Enchi o saco desses engomadinhos. — Satoshi explicou. — Ficam mandando e desmandando em toda sua vida, não posso nem sair da cidade sem permissão. Mas agora isso acabou. Só foi uma dor de cabeça assinar todos aqueles contratos de sigilo. Muitos deles envolviam você.

Kei tinha conhecimento de tudo isso. Pouquíssimas pessoas fora do alto escalão da Comissão sabiam do seu passado. Antes da Comissão era como se sua vida não tivesse existido.

Satoshi respirou fundo. O ar condensou sua respiração. Olhou para todas aquelas lápides cobertas por uma fina camada de neve ao redor:

— Vou viver minha própria vida agora. — Ele levou a mão a cabeça no exato lugar da coronhada, a cicatriz era fina, invisível naquela pouca luz e não dava a impressão de que foi a responsável por ele usar bengala até hoje como sequela. Kei lembrou de suas mãos tentando conter o sangue que encharcava o rosto balbuciando. — Você devia viver a sua.

— Minha vida é a Comissão.

— Você é esperto, loirinho. Não acredita nesse papo.

— Essa é a última vez que vamos nos ver? — Kei guardou o envelope no bolso do próprio casaco.

— Se a Comissão deixar… ela provavelmente não vai deixar, então sim, essa é a última vez que vamos nos ver. Você não vem à essa cidade com frequência, não é?

Kei deu de ombros. Só veio a negócios e ficou feliz por eles terem lhe ligado quando seu rei recusou suas investidas no hotel porque senão seria muito difícil atender uma ligação de madrugada empalado em um pau até as entranhas.

— E o que você vai fazer agora? — Kei perguntou genuinamente curioso.

— Eu abri um restaurante de lámen.

— Sério?

— Sim, é do outro lado da rua. — Satoshi apontou com a bengala para um pequeno prédio na subida que estava com as luzes acesas. — A sua primeira tigela vai ser grátis.

— E o frango?

— Vai depender da quantidade.

Kei sorriu:

— Ótimo, eu estou de dieta mesmo.

Gostaram do capítulo novo? Meio curtinho, porém trouxe mais mistérios. A cada dia vamos nos aprofundando mais. Quais os seus palpites? Deixem seus comentários, críticas, teorias e elogios.

Obs: gente, estou pensando em postar uma nova fic de novel pesadona. Pesadona mesmo. Ainda em pensamentos.

Obrigado por lerem!
Bjinhus!

O Rei E O PassarinhoOnde histórias criam vida. Descubra agora