Cupim

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- Disseram que você ontem você tava com um grandão. - Ele saiu de cima de si e sem a camisa foi até o refrigerador do outro lado da salinha para pegar uma garrafa de cerveja, jogou o dinheiro amassado sobre a mesa de bilhar e na quina dela destampou a bebida.

- É, pode ser. - Kei levantou do sofá fechando o zíper da calça já satisfeito. Foi rápido, mas foi bom como sempre era com ele.

- Você gosta de velhos agora? - Dabi sorri em meio ao gole, ele ainda está só de calça. - Inesperado. - irônico.

Kei foi até o refrigerador e pegou uma cerveja para si, colocou o dinheiro na mesa e voltou para o sofá.

- Não é ruim. - Deu de ombros.

- Ele tem grana? Se bem que isso não é problema para você. - Dabi bebeu mais um pouco recostado numa das prateleiras da salinha particular do bar. Kei sabia que por trás da expressão calma e fria Dabi o analisava com aqueles olhos turquesa, eles tinham muito em comum.

- Nah - desconversou dando a certeza do quanto dinheiro Enji tinha - ele é casado. Somos amigos *ainda*.

- Você se metendo com homem casado? Que novidade.

Kei riu. Nesse caso, a situação era diferente, o casamento de Enji ia aos frangalhos, não fingiria que nunca se envolveu com alguém casado, o que mais tinha nesses bares noturnos eram homens de meia-idade querendo uma diversão no sigilo e nunca mais pensar com quem deitaram. Kei atendia aos pedidos, ficar com alguém somente uma noite era uma coisa, se envolver e ser amante de um cara casado com filhos e um "lar feliz" era outra.

- Logo as coisas podem mudar. - Kei deu um gole na cerveja geladíssima. A cabeça doeu um pouco.

- Ahã. Você parece uma daquelas amantes adolescentes iludidas.

- Ai! Isso doeu. - Fingiu ressentimento.

Dabi respondeu:

- Você gosta quando dói. - Kei abriu o sorriso, ele tinha razão, os dois se entendiam muito bem.

Dabi se aproximou do sofá para pegar a camisa e a blusa caída no chão. Ele as vestiu cobrindo as faixas pretas de tatuagens no corpo, mas nem tanto, elas apareciam até onde chegavam na metade das costas das mãos. Ele tinha tatuagens até no rosto, completamente na parte inferior e meios círculos embaixo de cada olho, não faltavam piercings cirúrgicos nas orelhas, queixo e onde a pele limpa encontrava o pigmento, até Kei achava que precisava muita coragem ou loucura para fazer com o corpo o que Dabi fez no próprio, mesmo assim, ele continuava bonito e apelativo, as modificações complementando-o.

Era o que todo mundo dizia: Kei era doido e Dabi muito mais.

- Posso trazer o grandão para você dar uma boa olhada nele semana que vem. - sugeriu.

- Não, semana que vem tenho negócios para resolver. Um filha da puta me deve dinheiro. - Outra parte dos boatos sobre Dabi eram a profissão. Um gângster. Negócios escusos. Armas e talvez drogas. Se Kei dissesse que nunca teve contato com essas coisas antes também mentiria.

No bar diziam para ele que aquele cara estranho no canto era perigoso, para não se aproximar e o deixar sozinho sem o incomodar com falatórios. Ele tinha uma arma, uma faca, uma ficha na polícia e agora uma bebida que Kei pagou. Fez um brinde de longe e assim tudo começou até chegarem na noite no beco escuro em que as mãos de Kei passaram por aqueles cabelos negros enquanto as bocas se juntavam, depois sobre o peito, calças e zíper. Kei se ajoelhou então foi a vez das mãos de Dabi passarem e segurarem seus cabelos claros.

- Muito dinheiro?

- O suficiente.

- Eu posso pagar.

Dabi riu e disse:

- Não é você que me deve. Vai ser divertido perseguir ele por uns meses.

Kei não falou mais nada, estava com outros pensamentos na cabeça e um deles envolvia alguma desculpa para convidar Enji para sair de novo e a bunda apertada de Enji dentro daquela calça social que ele usava.

- Já vou indo. - Kei ficou de pé e pegou o casaco do cabideiro. - Quando você voltar da sua perseguição, vamos repetir a dose. - Fez um gesto de brinde com a garrafa. - Talvez eu traga o meu grandão para você conhecer.

Dabi segurou a risada e imitou o gesto:

- Se ele não infartar antes.

- Não vai, ele tá em ótima forma.

Kei abriu a porta para o barulho lá fora, mas não deixou de ouvir a última frase sarcástica e bem humorada de Dabi:

- Quem gosta de pau velho é cupim.

Kei segurou o sorriso enquanto fechou a porta, Dabi estava certo, talvez Kei fosse mesmo um cupim porque devoraria todo aquele pau.

O Rei E O PassarinhoOnde histórias criam vida. Descubra agora