Esperando o delivery

448 60 48
                                    

— Uau. — Kei disse impressionado sentado ao lado de Enji que estava encaixando o cano. — Você é incrível, meu rei.

Enji queria acreditar que o garoto estava sendo irônico ou zombando de si, porém a expressão do rapaz brilhava admiração e qualquer coisinha que Enji fazia o deixava boquiaberto. Ele saiu de baixo do balcão e preparou a tubulação para encaixar a torneira.

— Onde você aprendeu essas coisas, meu rei?

— Eu já te disse. — Enji encaixou a torneira e tudo pareceu bem. — Pare de tagarelar e libere o registro para ver se está tudo certo.

— Claro! — Kei saiu saltitando carregando a caixa vermelha de ferramentas.

— Tudo certo. — Enji gritou ao ver que a torneira e o cano não vazavam quando abriu a corrente de água.

— Que maravilha, meu rei! — Kei surgiu ao seu lado e pulou no seu pescoço de tanta alegria.

— Você precisa aprender essas coisas. — Enji disse enquanto desenrolava as mangas da blusa social.

— Não, não. — Kei rebateu. — Prefiro deixar com profissionais tipo você. — Ele esfregou o rosto no pescoço de Enji como um passarinho buscando aconchego.

— Chega. — Enji disse afastando o garoto. — Você tem que limpar essa bagunça. Pegue panos e um balde.

— Você vai me ajudar?

— Claro que não. Isso é responsabilidade sua.

O homem não tinha a mínima ideia de como parou aqui enxugando o chão junto de Kei. Torceu o pano molhado pela última vez no balde, Kei fez o mesmo e assim que acabou perguntou:

— Você quer comer? Posso pedir comida.

— Nada de frango.

Enji se levantou e foi para o banheiro lavar o rosto, quando saiu o garoto estava deitado na cama usando o celular. Enji sentou do outro lado.

— Você gosta de comida francesa?

— Nada de frango. — Enji repetiu.

Kei deu um longo suspiro.

— Tá bom, tá bom. Fiz o pedido.

— Se vier frango…

— Não é frango. É um peixe que parece frango.

— Garoto. — Enji lheu deu o olhar de aviso.

— É peixe! Juro! — Kei ergueu as mãos em defesa.

Enji manteve o olhar por mais alguns segundos até se dar por satisfeito com a expressão do mais novo e depois voltou o rosto para a parede. Estava muito cansado, porém não fisicamente, consertar aquela pia e a bagunça de Kei não era nada comparado a sua rotina de exercícios na academia. Apenas Fuyumi respondia suas mensagens, Shoto o ignorava e Enji não mandou sequer nenhuma para Natsuo. E se mandasse, seria o quê? Pensou nisso por dias. Queria ser um pai melhor, mas como tudo na vida: a prática é mais difícil que a teoria.

Enji apagou a tela do celular sem nenhuma nova notificação. Deitou na cama com as pernas dependuradas para fora.

— Você quer sobremesa, meu rei? — Kei se inclinou até ele, as mechas loiras soltas quase encostando no rosto de Enji.

— Escolha o que você quiser. — Enji falou.

Kei arqueou feliz as sobrancelhas.

— Nada de frango. — Enji foi categórico.

Logo a expressão do loiro azedou e ele voltou ao seu lugar na cama.

— Nada de frango. Nada de frango. Você acha que eu só penso nisso?

O Rei E O PassarinhoOnde histórias criam vida. Descubra agora