Pai e filho

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— SHOOOOTOOOOOOOOO!

— O que foi, pai de merda? — O filho falou assim que entrou na sala.

— Você continua com esse seu comportamento infantil. — Enji esperou quase meia hora para o filho aparecer na sala comum do colégio. — Se você acha que desperdiçar meu tempo me impedirá falar com você, está muito enganado.

Shoto continuou o fitando com aquela expressão blassê de sempre.

— O que você quer?

— Soube que você perdeu o torneio escolar para aquele moleque de boca imunda.

— E daí?

— E daí?! — Enji se enervou. — Você virou amigo dele depois!

— É.

— É?! — Que raios Shoto queria?! Ficar na sombra de alguém para o resto da vida?! Se ele não se desvinculasse agora, depois seria tarde demais. — Ele é o seu rival!

— Ele pode ser o meu amigo também.

— Quem anda te ensinando essas coisas? — Enji cruzou os braços sobre o peito indignado que toda a educação que deu ao caçula foi para o lixo. — Você sairá do caminho correto.

— Eu sigo meu próprio caminho.

De onde tudo isso saiu? De algum filme adolescente? Enji já rebateria quando um moleque sardento com cara de chorão entrou sem querer na sala:

— Oh, me desculpe! Eu não sabia que tinha gente. — disse parado segurando a porta.

Enji o fulminou com o olhar e o garoto ficou nervoso.

— Eu já estou indo, Midoriya. — Shoto disse. — Só estou falando com o meu pai de merda.

O menino perguntou estranhando toda a situação:

— Você chama seu pai assim?

— Então você é a cria do Yagi? — Enji perguntou olhando para o garoto de cima a baixo tentando encontrar qualquer semelhança. Com certeza não havia nenhum laço sanguíneo como o detetive lhe confirmou.

Shoto esbugalhou os olhos heterocromáticos, então se recompôs e disse:

— Não fale com ele assim.

— Ele também é outro que você deve evitar…

— Mas que caralho, por que você tá demorando tanto para pegar um caderno, nerd de merda?! — A porta foi chutada e no processo quase que Midoriya vai junto. — O cérebro de cabelo tá me esperando… ah, esse velho de novo aqui?

— Trate de me respeitar, moleque.

— Pffff, tá bom. — Biribinha se virou para Midoriya e gritou: — Por que você não foi pegar esse caderno ainda?! Acha que eu tenho o dia todo só porque o professor me obrigou?!

Midoriya se encolheu um pouco revoltado e disse nervoso:

— Você não precisa gritar toda hora. Kirishima vai esperar…

Bakugou apenas elevou mais a voz:

— Por que você não foi pegar o caderno ainda?!

— Você é cruel, Kachan. — Midoriya reclamou.

— Não me chama assim, seu nerd de merda! E vamos logo porque eu não quero ficar aqui vendo raridades do século passado.

Midoriya se apressou, pegou o caderno e correu para o lado do Biribinha.

— Desculpem o incômodo. — Midoriya pediu.

— Ah! — Bakugou exclamou irritado. — Que puxa-saco! Vai lamber as bolas deles também?

— É melhor você aprender a tratar com respeito os mais velhos, moleque. — Enji avisou ao loiro do cabelo espetado.

— Ha! É melhor você aprender o caminho de volta para o museu, velhote! — E então com um baque fechou a porta. Porém ainda deu para ouvir uns dos seus gritos: — Anda logo, nerd! Kirishima deve tá me esperando com aquela cara de idiota dele!

— Não precisa me chutar! — Midoriya grunhiu.

Enji esperou o silêncio retornar para finalmente dizer:

— Esses são os seus amigos. — Ao menos agora sabia mais do que uma coisa sobre o filho, porém não ficou feliz.

— São.

— Uma grande perda de tempo. O que eles têm a oferecer? — Foi uma pergunta retórica pois sabia que não tinham nada: influência, contatos, posses. Nada. Mas esse não era o problema, afinal Enji não nasceu com essas coisas, o real problema é que ele não via como o filho podia se desenvolver com esses meninos ao redor. — Seja cuidadoso ao escolher as suas amizades. Nem todo mundo que você gosta lhe trará benefícios, Shoto.

Enji não soube o porquê se viu pensando em Kei nesse momento.

— Eu não sou que nem você que só usa os outros.

Enji fungou irritado, Shoto desde que a mãe foi internada se tornou muito insolente.

— Você vai se arrepender de não seguir os meus conselhos. — Enji profetizou. Shoto só tinha essa camada externa dura, porém muito ingênuo, apesar de toda a rebeldia continuava uma criança, Enji temia que enganassem seu filho indiscriminadamente através das relações que formava. — Não adianta ser o mais preparado se você se deixa levar pelos outros.

Shoto sempre olhou com admiração exorbitante para os irmãos mais velhos quando brincavam separados dele no jardim por conta das aulas extras que o caçula tomava. Será que ele se lembrava de Touya?

— Você ouviu o que eu falei? — questionou após Shoto simplesmente se virar e ir embora quando Enji terminou de falar. — Entendeu o que eu disse?

Shoto não respondeu, apenas se virou e continuou andando em direção ao dormitório.

— Quando você vai largar esse seu comportamento infantil?! Não poderá ser o nº1 assim! Não poderá realizar nada!

Shoto não se virou, porém parou de andar:

— Qual o sentido disso? All Might tá morrendo. Você já é o nº1. Você ganhou.

As palavras acertaram em cheio Enji. O baque delas o silenciou por completo.

— Não tem mais ninguém para superar. — Shoto tocou o lado queimado de seu rosto.

Enji resolveu que não gritaria, já tinha posto toda a sua frustração para fora seja transando com Kei ou seja destruindo toda a academia de musculação que tinha em casa. No entanto, ela ia e vinha em ondas, não tão forte quanto antes e se solidificando em aceitação. Yagi agora era só um trapo do que já foi.

— Eu não vou deixar de ser amigo do Midoriya e Bakugou porque você quer. Não vou viver minha vida obcecado. Esse é o meu próprio caminho, pai de merda.

— Se é esse jeito estúpido que você quer seguir, faça. — Enji disse de braços cruzados olhando as costas do uniforme de Shoto e o desperdício que esse estava se prestando. — Mas não há como você se livrar do seu destino, Shoto. Mais cedo ou mais tarde você seguirá meus passos. Está no seu sangue.

Shoto ao contrário de todas as outras vezes falou:

— Nem você acredita mais nisso. — E então voltou a andar.

Ele estava certo. Enji apenas não aceitava.

Quando retornou ao trabalho sua mente estava cheia da “conversa” que teve com o filho, contudo trabalhou bem mesmo assim pois era profissional. Trabalhar era tudo o que sabia fazer.

Olá, pessoas bonitas.
Para aqueles que estão desconfiados: sim, aqui é KiriBaku. Mas então com quem o Shoto vai ficar? Veremos nos próximos episódios, mas digo que é um ship não muito famoso.
Gostaram do capítulo?
Obrigado por lerem e obrigado pelos comentários!
Bjinhus!

O Rei E O PassarinhoOnde histórias criam vida. Descubra agora