Últimas palavras

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— Mãe? — Kei entrou pela porta com Tsunagu logo atrás.

Estavam em uma casa moderna no subúrbio, levaram quase uma hora para chegar lá, Tsunagu olhou ao redor para a sala de estar limpa e bem organizada, apesar dos poucos móveis.

— Mãe? — Kei chamou mais uma vez ao subir as escadas e desaparecer no topo.

Depois de alguns segundos ele desceu e foram para o resto dos cômodos, Tsunagu reparou que não havia nenhuma foto na casa ou algo muito pessoal.

Kei foi para a cozinha, havia um molho de chaves e embaixo dele uma folha de papel. Kei pegou-o com uma mão e começou a ler a letra da mãe.

Keigo,

Eu sei que não fui uma boa mãe para você, vi o que os jornais passaram sobre o seu pai. Nenhum de nós foi bom para você.

Não te visitei no hospital pois você não ia querer isso e eu não conseguiria fingir que era o certo a se fazer.

Alguns repórteres me pararam hoje de manhã no trabalho. Todos já sabem o que seu pai fez, acho que seria pior se descobrissem que eu era uma viciada que te abandonou e depois te vendeu por causa do vício. Eu te amo, Keigo, apesar de tudo o que fiz e não consigo olhar você no rosto e dizer isso porque vai parecer hipocrisia. Mas eu te amo assim como sei que você está melhor sem mim. Não quero mais atrapalhar a sua vida. Ir embora e não causar problemas é a única forma que posso demonstrar isso.

Não se preocupe comigo e nem pense em mim. Eu estou bem. Nós sabemos que você está melhor assim.

Você foi uma das únicas coisas decentes que eu fiz na vida. Você é muito melhor do que um dia eu já fui.

Tenho orgulho de você, Keigo.

Adeus,

                       Sua mãe.


Kei encarou os últimos kanji da carta.

— O que houve? — Tsunagu perguntou se aproximando.

— Minha mãe foi embora de novo. — Kei olhou para o amigo. — Mas dessa vez, eu me sinto aliviado.

Suspirou e foi como se um grande peso saísse de suas costas. Tomie ficaria bem, ela já estava há cinco anos limpa e o namorado era um bom cara.

— Quer ler? — Ofereceu a carta para Tsunagu.

Ele acenou negando educadamente. Kei deixou a carta de volta no lugar e perguntou:

— Você trouxe os lanches, não foi? Vamos comer.

Ambos pegaram os lanches do carro e esquentaram no microondas da casa. Sentaram no chão da sala para comer.

— Acho que vou vender esse lugar. — Kei disse pegando uma batatinha.

— Essa casa é sua?

— Sim. — Kei respondeu mergulhando a batatinha frita no ketchup. — A Comissão fez um concurso dentro do programa estudantil. Todos dele tiveram que participar e tinha esse prêmio em dinheiro. Foi uma baita propaganda para a Comissão, eles me deram meu primeiro cheque gordo. — Comeu a batatinha. — Gastei todo comprando essa casa pra minha mãe e com o troco comprei frango frito. Não sobrou quase nada, então foi tipo só uma asinha frita com um punhado de sal.

As recompensas da Comissão eram grandes porque os sacrifícios eram muito maiores.

— Não se sente mal pela sua mãe? — Tsunagu perguntou preocupado sem qualquer acusação.

— Não. — Kei foi sincero. — É menos um assunto pessoal para me preocupar. Tenho muitos para resolver. — Foi brutalmente honesto.

— Sinto muito que tudo isso tenha acontecido.

— Tudo bem. Apesar de eu estar claramente ferrado, me sinto… sei lá, meio que de certa forma leve? Todo mundo sabe do meu pai agora e não preciso mais fingir que nada daquilo aconteceu. Eu achava que se esquecesse, estaria limpo de tudo. — Pegou o hambúrguer de frango e finalmente deu uma mordida. — É, eu tava errado. Parando pra pensar, o triste de tudo é que não foi eu a desenterrar esse meu passado.

Tsunagu refletiu sobre o que o amigo falou e o seu significado.

— Mera ainda não ligou? — Kei limpou com o polegar o molho do canto da boca e depois lambeu. — O escritório deve tá pegando fogo. Vamos ficar aqui esperando?

— Mera não deu o endereço do seu novo apartamento. Não sei onde fica. Perdoe-me.

Kei deu mais uma mordida faminta no hambúrguer:

— A gente devia ter comprado uns energéticos. Tem energéticos no hospital em que Endeavor-san está?

Eeeeeeeeeeeeeeeeeee! O que esperar agora?
O que acharam do capítulo? Deixem seus comentários, críticas, teorias e elogios!
Até amanhã.
Bjinhus!

O Rei E O PassarinhoOnde histórias criam vida. Descubra agora