Omomori

240 35 14
                                    

Natsuo olhava para todos os cantos na rua que levava ao templo não tão cheio de turistas quanto no primeiro dia. Estava sentado sobre a moto estacionada, com o capacete sobre a cabeça para não ser reconhecido e a chave na ignição. Sabia que se o pai veio no primeiro dia do ano, não viria mais, porém Fuyumi avisou que os dois se encontrariam hoje o que tornava toda aquela busca de Natsuo ainda mais ridícula e sem propósito. Porém, seu corpo não se acalmaria até voltar ao templo e checá-lo como a cena de um crime.

Várias pessoas deixavam o templo, contudo, uma chamou sua atenção. Um rapaz carregando uma sacolinha de papel em uma mão e mexendo no celular com a outra. Cabelo loiro penteado para trás e rímel. O coração de Natsuo socava sua caixa torácica.

Kei parou de usar o telefone como se sentisse que alguém lhe observava, isso não era bom. Mera lhe avisou que a gangue de Shigaraki estava a um passo de descobrir que ele era o responsável pela derrota de vários planos e pela queda de Twice. Kei olhou para onde estava sua surpresa e era só um motoboy mal-humorado numa jaqueta vermelha berrante de empresa. Oh, conhecia o motoboy.

— Natsuo! — Kei acenou do outro lado da rua.

O rapaz nunca pensou que um simples gesto faria com que guiasse a moto tão depressa.

— Quer beber algo? — Natsuo praticamente berrou ao levantar a viseira do capacete.

— Por que não? Conheço um lugar.

Foram imediatamente para onde Hawks sugeriu, ele segurando sua cintura fazia o coração palpitar ainda mais. Torceu para que ele não tivesse percebido. A cafeteira tinha um charme e era toda vegana, fizeram os pedidos, pegaram a bebida e sentaram na mesa.

— Então você tá mal. — Kei disse bebendo sua vitamina de abacate, morango e leite de soja.

— Eu? — Natsuo perguntou surpreso. — Eu não! Quer dizer… por que acha isso?

— Eu tenho um certo instinto. — Kei falou casualmente, mas Natsuo queria que ele estivesse brincando. — Você parece pensativo, do tipo reflexivo.

— Você acha? — *Eu sou tão óbvio assim?*

— É esse vinco entre as suas sobrancelhas. — Kei sorriu com o canudo entre os dentes.

O vinco de Natsuo se desfez na hora enquanto seu queixo caiu levemente. O canudo entre aqueles dentes… Sacudiu a cabeça para se recuperar e tentou não vincar as sobrancelhas de novo.

— Você vive sorrindo. — Kei disse. — É incomum te ver assim de cara franzida. O problema é comigo? — Kei brincou dessa vez.

— Não! — Natsuo fechou os punhos sobre a mesa. — Não é você! — Percebeu o que fez e escondeu as mãos embaixo da mesa. Ficou feliz por Hawks ser essa pessoa despreocupada que não ligava muito para as sua reações exageradas.

Natsuo engoliu em seco e depois engoliu um pouco da própria vitamina para fingir que não tinha engolido em seco. O gosto de abacate com morango era no mínimo exótico.

— Oh, então tem haver com alguém?

— Bom, é que… é que… é um pouco complicado. — Natsuo segurava o copo da vitamina nas duas mãos tentando organizar os pensamentos enquanto sentia o frio do plástico. — Eu meio que tava procurando alguém. — admitiu.

— A sua namorada? — Hawks foi rápido demais para o próprio bem de Natsuo. Igual ao que era nos jogos.

— O quê?! Não! — Meneou nervoso. — Não era ela. Por que acha isso?

O loiro deu de ombros. Cada movimento dele era pura descontração, o motoboy gostava.

— Sei lá. É comum ver quem você tinha um relacionamento antes e sentir ciúmes. Pensei que podia ser o seu caso.

O Rei E O PassarinhoOnde histórias criam vida. Descubra agora