Kei conversava ao longe com um homem, o mesmo da outra vez. Os dois eram jovens e falantes, Kei não tirava nem por um instante o sorriso faceiro da cara salpicado pela sem-vergonice, é claro que aquilo não acabaria ali.
Enji tomou mais um copo de água enquanto os outros falavam ao seu redor alheio a qualquer uma daquelas bobagens ou as tentativas pífias de fazer amizade. Negócios eram negócios e pronto, não tinha o porquê de forçarem uma amizade.
Lembrou de como Yagi antes era cercado por esses mesmos babacas que ele tratava muito bem, porém o seu melhor amigo era um policial meia-boca bem comum.
Kei se aproximou mais um passo do homem, Enji conhecia aquele olhar de baixo para cima que o garoto dava prestes a devorar quem estava a sua frente. Foi o mesmo olhar que deu antes de cair de boca no pau de Enji ontem. O homem notou e se aproximou também, não o suficiente para suspeitarem, mesmo assim Enji via que era como se somente os dois estivessem ocupando o espaço do salão.
Alguém chamou Enji tentando o colocar ativamente na conversa, nesse instante ele perdeu a dupla de vista. Esses jantares de negócios eram apenas perda de tempo. Enji varreu com o olhar a sala e não os encontrou de volta. Não estava interessado em nada daquele papo, levantou do sofá e foi em direção à varanda que impedia o frio da noite entrar pelas portas de vidro, notou pela brisa fria que tocou seu nariz que elas estavam abertas. Saiu por elas.
Enji caminhou por todo o jardim do prédio observando as luzes da cidade noturna, então entre uma planta ornamental e outra no escuro viu duas silhuetas muito próximas quase um só, mudou de ângulo e percebeu o que se tratava: Kei e o empresário se beijando como adolescentes escondidos dos pais.
O homem estava de costas para Enji, mas Kei não e como um predador devorando sua presa, seus olhos abriram e observaram Enji. Duas luas cheias no escuro, dois bicos de rapinas perfurando direto a sua carne, Kei não parou de beijar o rapaz e não parou de encarar Enji.
O homem mais velho não soube quanto tempo ficou parado lá até acordar quando eles se retiraram do local sem que o outro rapaz percebesse a presença de Enji. Kei lhe deu uma última olhada com aqueles olhos baixos e boêmios.
Enji voltou para a sala principal e fingiu, mas nem tanto, dar atenção ao que aquelas moscas zumbiam ao seu ouvido. Não encontrou mais Kei e outro durante um bom tempo até ir ao banheiro. O rapaz quase deu de frente com Enji.
— Desculpe. — falou um pouco assustado, desviou o olhar e deu um passo para o lado para sair do caminho. Enji notou que o rapaz estava um pouco ofegante.
Enji entrou no banheiro para usar o mictório quando uma das portas da cabine abriu e Kei saiu de uma delas com as bochechas e a boca vermelhas. O homem sabia o que significava. Enji o ignorou e foi ao mictório, não adiantou muito pois o garoto o seguiu e usou o do lado.
— E aí, grandão? — Kei sorriu enquanto abria a calça, abria não, já estava aberta, ele só puxou a cueca para baixo. — Tá hidrato, hein? — Ergue uma sobrancelha ao observar diretamente a parte do homem para fora. — Bebi nada hoje. — Kei terminou primeiro, deu uma sacudida e foi lavar as mãos.
— Sabe — Enxugava as mãos com papel toalha —, a noite só tá começando, não quer beber algo mais tarde? — Kei perguntou casualmente como quem perguntava as horas.
Enji puxou o zíper, ajustou a calça e foi usar a pia que infelizmente ficava no mesmo balcão de mármore da pia que Kei usava na frente de um grande espelho. O homem não se deu ao trabalho de responder ao garoto que se olhava no espelho ajustando o cabelo bagunçado e a roupa amassada na gola.
— Isso não é um motel. — Enji falou.
Kei encheu a mão em concha com a corrente de água na pia e enxaguou a boca. Então sorrindo disse com pena:
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O Rei E O Passarinho
FanfictionUma fanfic para sedentas (os) sem cronologia. Enji nunca foi um bom pai ou bom marido, a vida para ele sempre foi chegar ao topo do mundo profissional, apesar de que todos os seus esforços só o levaram ao 2º lugar, frustrado tentou passar a ambição...