Reverberando na chuva

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Natsuo ainda sentia-se muito mal.

Na sua semana de folga do trabalho, resolveu sair com os amigos da faculdade no último dia.

— Será que vai acontecer alguma coisa com aquela empresa? — eles comentavam enquanto Natsuo tomava seu milkshake de morango.

— Aquela que era patrocinadora de vários times de baseball?

— Essa mesmo.

— Não sei. Surgiram vários escândalos, não foi?

— Sim, você viu aquele do assassino? Tão dizendo que ele só não foi enforcado ainda porque a tal empresa interviu. Umas histórias horríveis.

O motoqueiro ficou alerta no lugar, seus amigos continuaram conversando:

— Lançaram um monte de vídeos na internet sobre ele. Já viu?

— Eu não, não gosto dessas coisas.

— Aaaah, mas você já viu ele? — trinou. — Tem um monte de garotas loucas por ele.

— Não, por quê?

— Como assim??! Espera aí que eu vou te mostrar. — Ele tirou o celular do bolso, digitou algo e mostrou para o outro.

— Nossa. — Ficou impressionado. — O cara é presença.

— Já viu, Natsuo?

— Já, valeu. — Acenou negando o celular.

— Se eu fosse bonito desse jeito, viraria modelo e não um bandido. — Guardou o celular.

— As mulheres gostam de um bad boy. — o outro concordou e eles partiram para o próximo assunto.

É claro que Natsuo viu Keiichi Kyo, o que mais falavam era de como ele era lindo, sem dúvidas era um cara bonitão, mas achava que Kei fosse muito mais, apesar de ambos serem muito parecidos. Havia algo estranho nos olhos de Keiichi Kyo em todas as fotos que foram tiradas dele. Claro que havia, ele era um criminoso perigoso.

O encontro acabou e Natsuo se preparava para visitar a mãe, o capacete pendurado no braço e já sentado na moto. Mandava mensagem avisando quando uma notificação do app de notícias surgiu no topo da tela.

Saiba por onde andou Takami Keigo, o filho escondido de Keiichi Kyo.

Não era um site famoso, seu algoritmo apenas se moldava ao que procurava na internet. Natsuo sabia o que Kei fez todo esse tempo, estava tendo um caso com Endeavor. Não precisava clicar, mas clicou.

Kei havia se formado cedo pelo programa estudantil de excelência da Comissão e logo em seguida começou a trabalhar. Dentro dela ganhou vários prêmios e era visto como garoto propaganda da excelência da empresa. Mas desde o escândalo desapareceu, ninguém sabe onde está, com quem está ou o que está fazendo. Nenhum dos repórteres conseguiu contato.

Natsuo abriu as mensagens e clicou no perfil de Kei, nada. Ele deveria estar péssimo... Natsuo sentia-se péssimo só de observar.

— Estão dizendo que vão enforcar Keiichi Kyo hoje. — um dos seus colegas comentou com o outro enquanto segurava o celular.

Todas as entranhas de Natsuo reviraram ao ouvir o que o homem falou enquanto almoçavam. Tudo em si parou de funcionar. Como Kei ficaria?

— Ah, não. — o homem corrigiu. — É mentira, mas bem que poderiam enforcar logo ele. Por que deixar uma cara desses vivo às custas do governo?

Natsuo terminou o almoço, pegou o capacete e voltaria ao trabalho. Mas sua expressão começou a amarrotar mais e mais e não sobrou nenhum gosto na sua boca além daquele sapo salgado que engolia à força. Olhou para o relógio no pulso, ainda dava tempo.

Subiu na moto com a entrega e partiu para um endereço divergente do outro lado da cidade.

A última vez que esteve aqui pegou o pai no flagra. Entrou na mansão pelos jardins ainda molhados da chuva vespertina. Sabia que ele estava em casa hoje, Fuyumi lhe contou que desde o dia em que ela veio de repente a esse lugar, ele passava mais tempo em casa.

Natsuo cruzou os corredores que tanto conhecia, olhou para o quarto de Touya e suspirou ao ver o memorial. Seus ombros pesavam. Continuou caminhando até o escritório, ele estaria ali e no final, estava.

— Natsuo? — Tirou os olhos da pilha de documentos.

— Eu não vim conversar. — Firmou bem os pés no chão como se ainda fosse uma criança prestes a levar um tapa. — Só vim dizer que Kei e eu nunca tivemos nada. Nada mesmo. — Desviou o olhar. — Nós só jogávamos juntos. Não sei de onde você tirou que a gente teve alguma coisa. Se bem que você não precisa tirar nada de lugar nenhum pra fazer o que bem entende, né?

Natsuo ergueu o rosto:

— Era isso. Tô indo embora. — Girou nos calcanhares e andou a passos largos para fora do escritório. — Não arruíne a vida de Kei dessa vez como fez com todo mundo.

— Natsuo! — Enji foi até a porta atrás dele.

O filho parou de costas para si a alguns metros, sua respiração pesada fazia subir e descer seus largos ombros.

— Você não tem que me perdoar. — Enji falou.

— Eu sei. — Natsuo cuspiu olhando-o de soslaio. — Você nunca vai ser perdoado, não por mim.

E ele continuou caminhando para fora da mansão que tanto odiou.


Natsuo finalmente fez! O que acharam do capítulo e da atitude dele? Deixem seus comentários, críticas, teorias e elogios.

Até amanhã!

Bjinhus!

O Rei E O PassarinhoOnde histórias criam vida. Descubra agora