Consertos

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— Não poderei ir à reunião hoje. — Kei falou como um adulto responsável. — Houve um imprevisto, mas mandei o arquivo.

— O senhor está bem? — Tokoyami perguntou através da ligação.

— Sim, estou. — Kei disse maduro. — Foi apenas um empecilho.

— Senhor Kei, esse barulho é de água?

— Eh… eu passei perto de uma cachoeira!

— Hã? O senhor está mesmo bem? Há algo em que eu possa ajudar?

— Apenas mande o arquivo para a chefia!

— Senhor? Tá tudo bem? O som de água aumentou!

— Eu tô passando por um túnel! Não consigo falar agora!

— Mas na nossa cidade não tem túnel.

— Alô? Alô? Não consigo te ouvir! Tokoyami? Alô? Alô? Tokoyami… Não tô te escutando!

— Mas eu estou escutando o senhor.

— O quê? Quem? Oi?! Tric! Trac! Bruu! Alô? Alô? — Kei desligou a ligação porque não sabia mais quais sons fazer.

Agora só restava Kei com a sua pia quebrada. Como foi que ela quebrou? Ele só girou o registro e a torneira saiu na sua mão com um jato de água quase o afogando.

Após inúmeras tentativas fracassadas de impedir a água de jorrar tentando encaixar a torneira de volta, procurou um encanador na internet e ligou para o número:

— Alô, preciso de um encanador!

— Claro, senhor. — o homem respondeu e Kei se sentiu aliviado. — Temos horário para amanhã.

— Não, tem que ser hoje! — Kei dizia na ligação enquanto tapava a fonte de água porcamente com a palma da mão. — Não dá para esperar amanhã! O quê? Não, não é no banheiro! É na cozinha!

— Infelizmente, senhor, só temos horário amanhã.

— Mas eu preciso para hoje… — Kei não soube como outro jato escapou entre seus dedos e molhou o peito da sua camisa.

A ligação caiu. Kei buscou outro número de encanador enquanto pegou uma de suas blusas para enfiar no buraco do cano da torneira. Não deu certo. O pano pulou longe, Kei sem querer escorregou na enorme poça que se formava no chão e o baque de suas costas foi audível até para quem estava no andar de baixo.

Falando em andar de baixo, se Kei não parasse o vazamento logo os vizinhos reclamariam da infiltração e o síndico viria junto. Mas como é que fazia isso? Não tinha ninguém com essa habilidade por perto?!

Kei se levantou segurando no balcão e fez outra ligação para outro encanador. Ninguém atendia. Já não sabia o que mais fazer. Na última tentativa conseguiu.

Ficou um bom tempo ali tentando impedir o desastre eminente. Seu celular de vez em quando vibrava com uma mensagem que ele não podia ver pois estava ocupado com o dilúvio, toda a cozinha estava encharcada e seguia para a sala quando Enji chegou.

Quando Enji tocou a campainha tudo o que ouviu  junto com o som de água corrente foi:

— Pode entrar. Tá aberta.

As solas dos sapatos do homem chapinharam na lagoa a cozinha virou. Kei se virou aliviado da pia:

— Que bom que você chegou… — Então sua expressão feliz diminuiu e seu sorriso morreu. — Você não é o encanador.

Enji contemplou o rapaz encharcado da cabeça aos pés, a camisa branca grudada contra o peito, a calça jeans escura pela água e a cara de alguém completamente perdido.

O Rei E O PassarinhoOnde histórias criam vida. Descubra agora