ESPECIAL DIA DOS NAMORADOS

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Enji estava bravo, chamou o assistente mais de duas vezes e ele não apareceu, teve que sair da sua sala para encontrá-lo e ele não estava na mesa. Hoje o dia estava sendo cheio e estressante, primeiro com aquele trânsito horrível de manhã e depois com aqueles vendedores de flores no semáforo, agora o assistente ousava lhe ignorar! Além do que Kei estava agindo estranho! Ele era muito grudento, mal o via e já se agarrava todo tagarela no seu braço e ficava o encarando com aqueles olhos que lhe devoravam a alma, mas ontem somente abriu a porta, ficou no computador a noite toda, foi deitar duas horas após Enji e resmungando sobre o dia de amanhã, no caso hoje, além do mais não se embrenhou no seu corpo, apesar de terem acordado abraçados. Ele estava brabo? Não, raríssimo. Estava mais para chateado. Chateado consigo? Cadê esse assistente? Enji o demitiria, por isso ele mesmo foi o procurar. Andou quase todo o andar até que passou pela cozinha e ouviu a voz do assistente:

— Meu namorado ficou bravo porque eu não comprei nada para ele no dia dos namorados ano passado — Enji se deteu na porta — Então esse ano farei uma surpresa para ele. — Hoje era dia dos namorados? Era por isso que Kei estava daquele jeito? Quem liga para essas datas além de desocupados e adolescentes…

A outra assistente que estava com ele respondeu:

— Essas datas são importantes! Se você não mostra que se importa, logo é trocado por outro! Tem que dar uns presentes, tipo flores, essas coisas.

Que história era essa? Eles estavam em uma empresa ou num programa idiota de conselhos sentimentais?

— Ainda mais que ele é mais novo. — ela complementou. — Eu me separei porque meu ex-marido não ligava para mim. — Foi inevitável para Enji pensar qual foi o último presente que deu a Kei e constatar que nunca deu nada para ele e que Kei já lhe deu até gravata! A que usava! Claro que não foi um modo comum de dar um presente.

— Ele vai te largar se não for algo bom. — ela falou.

— Eu sei, mas já planejei tudo. — o assistente dele respondeu. — Deixa eu voltar para o trabalho! O horário de almoço tá quase acabando!

Enji olhou para o relógio no pulso constatando que chamou o assistente no horário de almoço de tanto que ficou tragado no trabalho. Enji voltou para a sala antes que o assistente percebesse que ouvia toda a conversa estúpida deles.

No entanto, a conversa estúpida ficou na sua cabeça junto com um Kei chateado. Kei o deixaria por algo assim? Era um péssimo momento para lembrar do "vou te trocar por um mais velho, mais rico e mais bonito". Mas tudo isso era uma grande bobagem, Kei não parecia ser do tipo que se importava com essas coisas, nunca o viu assistir romances, falar sobre amor ou de casamento. Ele sempre era do tipo "meu rei pra cá", "meu rei pra lá", "está gostando, meu rei?", "menos força, meu rei", "mais força, meu rei" e "deixa eu fazer isso com a minha boca, meu rei", nunca diferente e se algo não o agradasse logo fazia aquela cara de animal ferido e se tornava uma criança mimada.

Tinha certeza que ele não se importava com a data, mandou uma mensagem para Kei e quando não foi visualizada na hora nem seguinte a preocupação surgiu. Enji não mandaria um "você está me ignorando?" seria ridículo, nem um "pare de agir como criança e leia as mensagens!" muito menos um "o que você quer para parar com essa palhaçada e ficar feliz?". Mais duas horas se passaram e nada de resposta ou visualização. Então, mandou "Vamos sair hoje. Te pego às sete".

Foi aí que Kei visualizou e respondeu: "Claro, meu rei <3".

***

— Olá, grandão. — Kei sorriu na porta e quando esticava os braços para envolver o pescoço do homem todo de preto, esse pôs entre os dois um buquê de rosas amarelas.

O Rei E O PassarinhoOnde histórias criam vida. Descubra agora