No ponto

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— Pai! — Fuyumi ofegante e determinada entrou na cozinha.

Enji a encarou surpreso, não esperava ela ali hoje muito menos com o rosto tão focado. Parou de mexer os legumes que fritava na panela.

— Temos que conversar. — a filha anunciou sem espaço para questionamentos ou objeções.

— Aconteceu alguma coisa? — Enji apagou o fogo da panela. Estava intrigado. Jamais viu a filha assim.

— Sim! Não! — Ela sacudiu a cabeça. — Quer dizer... é sobre Kei!

A expressão do pai mudou de cabisbaixo para triste e envergonhado. Não sabia o que falar.

— Eu sinto muito...

— Por que está pedindo desculpas? — Fuyumi foi firme. — Não há nada para se desculpar. Por que pedir desculpas quando se gosta de alguém? Mamãe já considerava o casamento de vocês acabado há anos, só faltava o divórcio.

— Fuyumi...

— Eu fico feliz que o senhor tenha encontrado alguém, não importa o sexo dessa pessoa! Qual o problema em gostar de alguém e querer viver isso?

— Mas Natsuo e Kei... — Enji tentou, mas foi interrompido.

— Eles nunca dormiram juntos! Natsuo me confirmou! — Uma bola de frustração foi cuspida da sua garganta e sentia-se aliviada. — Natsuo só não quer dizer porque está magoado com o senhor.

— Por causa de Kei?

— Por causa de tudo! — Fuyumi revelou e não parou por aí. — Ele acha que magoar de volta o senhor é a solução para a raiva que ele sente.

Enji sabia dos sentimentos do filho do meio sobre ele, seu peito subiu e desceu dolorido.

— Mas não é! — Fuyumi rebateu a ideia. — Nunca é! Ele não entende direito o que tá fazendo porque tá muito triste desde a morte de Touya, mas todos nós estamos tristes! Eu quero essa feliz, feliz de verdade! Independente de como.

Fuyumi aproximou-se do pai. Sua voz enchendo-se de compaixão:

— E eu sei que o senhor só será feliz quando resolver esse assunto.

— Não acho que...

— Se martirizar não trará nada pra ninguém, pai. Eu sei. — A respiração de Fuyumi pesou. — Fiquei anos pensando se as coisas seriam diferentes se eu tivesse agido diferente. Mas nada disso adianta, nós temos que nos mover no presente. — ela falava o que sempre guardou para si durante anos e jamais ficou tão aliviada. Todos os nós do seu peito e garganta se desfaziam um atrás do outro. — Fiquei muito tempo tendo muita raiva do senhor, muita mesmo e eu concordo com muita coisa que Natsuo e Shouto falam. Mas eu não podia ficar assim para sempre. Ninguém pode. É preciso lidar com isso fugindo ou encarando.

Fuyumi continuou. Sua voz tremia:

— Eu preferi encarar porque não queria viver com esse sentimento toda vez que pensava na minha família. Não significa que eu esqueci tudo o que aconteceu como Natsuo acha ou que eu perdoei tudo. Mas se há um modo de ajudar minha família, eu quero tentar. Ninguém me ensinou isso ou precisou falar. Mas eu não posso sozinha.

Enji mastigou todas as palavras da filha e o sabor agridoce que elas possuíam.

— Touya... ele...

— Touya se foi, pai. — Ela segurou uma de suas mãos. Comparadas fazia Enji lembrar que a filha também era grande. — O senhor tem que deixar ele ir.

O polegar dela massageou as costas da sua mão.

— E seguir com o que tem. — ela completou.

Lágrimas desceram pelas bochechas de Enji.


Outro capítulo surpresa! O que acharam? Deixem seus comentários, críticas, teorias e elogios.

Sério, deixem comentários para eu saber o que acham!

Até amanhã!

Bjinhus!

O Rei E O PassarinhoOnde histórias criam vida. Descubra agora