Dois amigos

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Kei tinha assistido a tantos vídeos sobre jeans que acabou virando um especialista no assunto. Tudo graças a Tsunagu que os colocava em listas na televisão. Kei agora sabia qual o melhor corte de jeans para o seu corpo, as diferenças de espessura e lavagem e toda a história mundial desse tecido, e sinceramente, era bem interessante.

Era também graças a Tsunagu que não morria de tédio, ele passava o dia todo com Kei e muitas vezes as noites. O homem trazia o trabalho para a cama de acompanhante do quarto e quando terminava, assistiam juntos aos vídeos sobre jeans, Tsunagu fazia muitos comentários perspicazes sobre o tema e carregava consigo um croqui, lápis e borracha. Mostrava suas criações para Kei e este descobriu que Tsunagu criava tudo o que vestia.

Eles conversavam bastante, bom, só Tsunagu falava, as cordas vocais de Kei estavam tão machucadas que mal conseguia gemer de dor direito e queria gemer muitas vezes. Mas gostava de ouvir Tsunagu falar sobre o que tanto gostava.

O homem era tão cavalheiro que conseguiu um pequeno quadro em branco e um pincel preto para Kei escrever e poderem se comunicar. Kei não usava tanto o quadro quanto queria, pois quando Shigaraki arrancou suas unhas, os ferimentos infeccionaram e os dedos incharam. A infecção foi curada no hospital, mas os dedos ainda doíam e lhe causavam calafrios quando o vento ou qualquer coisa encostava na pele nua e sensível onde haviam as unhas. A médica lhe falou que elas cresceriam novamente sem qualquer problema.

Kei estava sentado no leito dobrado nessa posição, suas costelas trincadas doíam e seu tornozelo estava enfaixado como o resto do corpo, não conseguiria sentar se não fosse o leito e a ajuda de Tsunagu com os travesseiros assim não tinha que chamar o enfermeiro. Ao menos agora não precisava dos respiradores nos pulmões e olho desinchava conseguindo abri-lo direito, porém ainda recebia oxigênio por uma máscara.

Sua dieta também deixou de ser intravenosa, contudo continuava líquida. Pelo menos era uma sopa de frango batida no liquidificador, seu estômago não conseguiria lidar com alimentos sólidos ainda e mesmo se conseguisse, sua boca não daria conta. Os dentes pareciam bambos e doíam, porém o odontologista lhe disse que não estavam moles, era apenas a sensação e doeria mastigar durante um tempo.

Tudo doía, contudo, não era nada comparado a sua preocupação com Enji. Mera e Tsunagu afirmaram que avisaram ele sobre os planos de Shigaraki. Kei queria avisar ele mesmo, no entanto, duvidava que Enji quisesse o ver e sequer escutasse o que tinha a dizer.

Kei suspirou, vivia cansado e semidopado. A única coisa interessante do seu estado é que não precisava levantar para usar o banheiro, enfiaram um cano no seu pau para isso e usava uma fralda. Tsunagu era tão educado que se retirava do quarto quando o técnico vinha lhe trocar e lhe dar um banho de gato.

— Você precisa focar na sua recuperação. — Tsunagu falava depois da fralda trocada.

Kei estava totalmente focado, se recuperaria, tentaria falar com Enji e voltaria para sua vida normal com o bônus gordo que a Comissão lhe deu. Mera veio lhe falar sobre o valor já depositado na sua conta corrente. Não deram um celular novo para Kei, aquele se perdeu no incêndio, era óbvio que não queriam que Kei soubesse nada do mundo exterior. Até os vídeos de Tsunagu passavam longe do tema.

Tudo bem. Consigo ficar uns meses assim.

Tsunagu tornava tudo melhor, Kei não morria de tédio e o homem até ajudava a passar os remédios nas queimaduras das costas junto com o técnico em enfermagem.

De repente, Tsunagu se levantou do sofá-cama do acompanhante.

— Perdão, preciso buscar algo, todavia, volto logo.

Kei acenou concordando e o vídeo sobre o porquê vestidos jeans bordados seriam a nova tendência continuou passando. Tsunagu perderia a melhor parte.

O homem retornou como o combinado, tinha uma pequena caixa retangular de papelão na mão.

— É um presente da Comissão para você. Eu que sugeri. — Tsunagu deixou o pequeno pacote no colo de Kei, já estava aberto e fora do isopor de proteção.

Kei ficou feliz ao pegar o objeto que parecia um tablet simplificado. Era um conversor de palavras escritas em faladas. Kei abriu um sorriso, seu rosto doeu um pouco, mas valia a pena. Ligou o aparelho e digitou a primeira palavra:

— Obrigado. — a voz robótica disse e Kei riu mais.

— Não há de quê. — Tsunagu replicou educado.

— Não sei como agradecer tudo o que está fazendo por mim.

— Amigos são para essas situações. E você já me salvou de muitas.

— Mesmo? — Kei não se lembrava de nada específico.

— Lidar com Senhor Fujiwara foi uma delas. — explicou.

Kei lembrou que foi por causa de algo que Tsunagu falou para o homem que ele teve que resolver as coisas com o empresário. Fujiwara Chise era alguém de péssimos modos, por isso Tsunagu não se deu bem com ele. Kei conseguiu os negócios, mas repassou a comissão para Tsunagu porque achava que qualquer um que precisasse lidar com o empresário tinha que ser pago.

Hahahaha. — Kei digitou a risada, mas ela saiu robótica e meio irônica sem querer, o que fez somente Kei rir mais. Escreveu com a mão boa: — Não há de quê! É bom ter você como amigo assim como esse varinha aqui.

— Varinha?

— Carinha. — Kei corrigiu e riu junto com Tsunagu. — Quanto tempo acha que vou ficar aqui?

— Dois meses.

— Muito tempo.

— Não se preocupe, ficarei com você o tempo todo.

— A Comissão mandou?

— Não, só não acho que devo deixar alguém sozinho assim em um hospital. Somos amigos e sei que faria o mesmo por mim.

Kei sorriu e disse:

— Obrigado, Tsunagu. Você é tão incrível quanto seus jeans.

— Estou pensando em um jeans para você. Gostaria de ver?

— Claro!

Kei acenou e Tsunagu mostrou o croqui. Kei estava feliz naquele dia e não só por causa dos jeans.

E o ano para essa fanfiqueira(o) se encerra aqui! Feliz 2022, pessoal! Felicidades e alegrias para todos! Eu não ia encerrar o ano com um capítulo triste, vejam Kei feliz com o seu novo amigo!
Gente, escrevi muito hoje e tô só o pó da rabiola, então vou descansar um ou dois dias e continuaremos com a maratona até o fim da fic! Obrigado pelos votos e comentários — podem sempre comentar muito, leio tudinho — e nos vemos em breve!
O que acharam desse capítulo e da maratona até aqui? Deixem suas críticas, comentários, teorias e elogios.
Até logo!
Bjinhus!

O Rei E O PassarinhoOnde histórias criam vida. Descubra agora