Ah, lembrei agora.

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— Vai ficar no celular o dia todo? — Kei tomava seu outro café gelado enquanto esperavam um táxi embaixo de uma marquise.

— Estou trabalhando.

— Tá nada. Você está no Instagram.

— Faz parte do meu trabalho.

— Você é blogueirinha agora? — Kei tomou mais um gole da bebida em lata enquanto carregava duas sacolas de compras: uma da livraria e outra da tal loja de meias que ele não deixou Enji ver.

— Toda vez que você abre a boca eu me arrependo de ter te deixado vir. — Enji bisbilhotava a conta de um dos amigos reprováveis de Shoto.

Kei deu um longo suspiro entendiado e também puxou o celular para ver a própria conta no Instagram o que fez Enji perguntar:

— Você não colocou nenhuma foto minha aí, não é?

— Não, meu rei. Não tenho nenhuma foto sua em lugar nenhum. — Kei falou sem sequer tirar os olhos da tela do celular, respondia uma mensagem. — O que é uma pena.

— Espero que continue assim.

Kei suspirou novamente:

— Claro, meu rei. — Desanimado guardou o celular no casaco.

Enji passava pela timeline da filha, Kei lhe ensinou o termo, então encontrou um comentário dela em uma foto de um garoto com sardas e cabelo verde ao lado de Shoto. Enji nunca viu esse menino na vida. Clicou no perfil dele. Nada de mais, parecia alguém comum que gostava de frases motivacionais e quadrinhos, Shoto aparecia em outras fotos do perfil sempre com o user marcado.

— O que o senhor está fazendo de trabalho no Instagram exatamente? — Kei curioso esticou o pescoço para espiar descaradamente.

— Cuidando do futuro da empresa e do meu filho. Ele não pode assumir se continuar com essa atitude rebelde e relapsa.

— Ele não tem só quinze anos sei lá?

Enji se lembrou das vezes em que discutiu com a esposa sobre as responsabilidades que os filhos assumiriam e por isso não deveriam falhar. Na verdade, era muito mais ele ignorando todos os protestos de Rei e a tirando do caminho. Kei nunca entenderia, por isso não fez questão de explicar.

— É normal desobedecer nessa idade. — Kei continuou. — Hormônios, namoradinhos, puberdade, etc e etc.

— Shoto não deve perder tempo com essas coisas, está num colégio caro e não pode decepcionar.

— Que obsessão. — Kei desistiu entediado.

Havia várias fotos do filho com aquele menino do cabelo verde no perfil. Por que Enji nunca ouviu falar dele?

— Shoto deve ouvir as minhas ordens e conselhos para o próprio bem.

— Aaaaah, só de ouvir você nesse papo eu já fico de saco cheio. Imagina seu filho? — Kei bufou inflando as bochechas rapidamente enquanto os ombros subiram e desceram pelo gesto.

Enji olhou para o loiro:

— Você anda bem abusado. — Passou o recado. — Tem sorte que tenho uma reunião hoje à noite.

— Ou seria azar? — Kei sugeriu com aqueles olhos de ouro que carregava. Ah, o garoto com certeza receberia sua punição mais tarde.

Seguraram o olhar um do outro tensionando o clima ao máximo até os olhos de Kei correrem para o celular que segurava.

— Ei! — Kei falou animado. — Eu conheço esse garoto!

— O quê? — Enji olhou surpreso de Kei para a tela.

— Eu conheço ele!

Se Kei conhecia esse moleque então ele não era boa coisa. Enji nem queria saber o tipo de pessoa que Kei andava pois sabia que não eram sequer exemplos razoáveis.

— De onde? — Exigiu.

— Como assim “de onde”? Você não sabe quem ele é, grandão? É o Midoriya, o protegido de Yagi.

— O quê?!

— Ele trabalha no café do Yagi. Quebrou os dedos várias vezes na máquina, foi bem feio. — Kei sentiu um calafrio ao rememorar a cena e os estalos.

— Protegido do Yagi?

— Sim, muito bom garoto, muito inocente e engraçado, fica vermelho bem rápido. — Kei riu. — Parece um pimentão.

— Ele é filho de Yagi? — Impossível! Enji saberia se seu rival tivesse um filho ilegítimo.

— Não…? — Kei hesitou desconfiado da ideia absurda de Enji.

— É ou não? — O homem se irritou.

— Não é. — dessa vez Kei disse com certeza. — Ele é só um garoto bonzinho que Yagi apadrinhou. Ah! — Kei teve uma luz — Ele é amigo daquele Biribinha também. Vi ele várias vezes no café.

— Como você sabia disso e não me contou?! — Enji se indignou. Como um desconhecido sabia mais da vida de Shoto do que ele mesmo que era o pai?

Kei apoiou o indicador no queixo e naquele tom casual disse:

— Bom, agora que parei para pensar no assunto. Mas que bom que eu contei, não é? — Terminou sorrindo.

Enji expirou estressado. Como seria um bom pai se Shoto lhe evitava a todo custo? Como se aproximaria sem que o filho erguesse as barreiras de sempre?

— Tenho que conversar com Shoto. — falou e depois completou determinado: — E ele vai me ouvir!

— Sério? Por causa do Biribinha e do Quebra-dedo? — O tom de Kei mostrava que ele achava a reação de Enji uma tempestade em copo d'água.

— Você não é pai. Não entende.

— Ainda bem — aliviado —, sou muito novo para isso e um pouco irresponsável. — Kei enfatizou mostrando uma distância mínima entre o indicador e o polegar.

Enji o desprezou e então disse:

— Você vai me contar mais sobre esse Midoriya.

— Ele malha com Yagi. — Kei deu de ombros.

Ele malha com Yagi? Shoto nunca malhou comigo!

— Tem um vício não muito saudável em heróis.

Enji nunca permitiu que o filho se interessasse por essas besteiras, mas sabia que Shoto olhava com grandes olhos para os comerciais desses brinquedos quando passavam na televisão e que Rei comprou escondida um ou dois para o filho. Era isso! Esse moleque estava seduzindo seu filho com essas bugigangas para desviá-lo do caminho correto!

— E fica murmurando sozinho. — Kei terminou de contar. — É tudo o que sei. Você vai me visitar depois da sua reunião de trabalho? — Pulou direto para as suas segundas intenções.

— Estou com um problema sério e você só pensa nisso? — Enji brigou ainda absorvendo toda a informação que Kei deu sobre o tal do Midoriya.

— É que eu queria te mostrar uma coisa… — Kei se balançou junto com a sacola de compras.

— Tem a ver com os meus filhos?

— Não.

— Então não me interessa.

Enji cortou logo as asinhas do garoto que suspirou tristemente:

— Ah, mais uma noite em que passarei jogando sozinho…

— Videogames fazem mal para o cérebro. — rebateu sem dó enquanto procurava o contato do detetive no celular. Nesse momento, o táxi finalmente chegou.

Na manhã seguinte, Enji tinha em mãos toda a informação que precisava sobre Midoriya e Bakugou — verdadeiro nome daquele que Kei chamou de Biribinha —, eram meninos normais e… só. Nada a mais.

Contudo, Enji decidiu que falaria com o filho mesmo assim.

Olá!
O que acharam do capítulo? Quais as expectativas? O que vai acontecer?
Obrigada por lerem!
Bjinhus!

O Rei E O PassarinhoOnde histórias criam vida. Descubra agora