Gravata

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— Gostou? — Kei passou a mão pelo terno para alisar. — Estou um homem de negócios?

Enji desconfiou, deixou a chave sobre a bancada e perguntou:

— Por que está vestido assim? Vai em algum velório? — Enji nunca viu Kei usar terno para trabalhar.

— Eu fui a uma reunião de trabalho.

Olhou para o garoto de cima a baixo, o terno escuro ficava bom nele, não usava colete e tinha uma gravata azul-marinho bonita em volta do pescoço. Mesmo assim, Kei ainda usava Adidas.

— Com os CEO's da Comissão? — Enji tirou o casaco e pendurou no cabide atrás da porta.

— Também tenho um presente para você.

— Para mim? — Enji cruzou os braços sobre o peitoral.

— Sim. — Kei concordou. — Eu fiquei pensando que não dei nada para você no seu aniversário.

— Não é meu aniversário.

— Por isso mesmo! Tenho que fazer por onde! Eu nunca te dei nada, apesar de que você sempre deixou para mim vários… dinheiros? E uma barriga cheia de leite.

— Moleque…

— É graças a você, meu rei, que eu nunca passo fome. — Deu uma piscadela e apontou para o homem fazendo um estalo com a língua.

— Garoto… — Enji avisou uma segunda vez.

— Então aqui está o presente. — Kei abriu os braços.

— Cadê o presente?

— Está aqui.

— Aqui onde?

— Aqui. — Kei repetiu animado.

Enji analisou o garoto, ele ficava bem de terno, era um corte bonito, mas nem todo terno do mundo tiraria aquela aura relaxada e negligente. Kei ficava bem de terno, mas o terno não ficava bem nele. Parecia um delinquentezinho indo para a audiência de condicional. Analisou-o por mais um tempo.

Ergueu uma sobrancelha, uma ideia passou por sua cabeça:

— Você não escondeu o presente no seu cu? Escondeu?

— Não, meu rei. — Kei parou para pensar por um segundo e então disse: — Mas não é uma má ideia. Quem sabe na próxima?

— Nem pense nisso.

Ficou encarando Kei por um bom tempo atrás do presente.

— Onde está? — Irritado.

— Vou dar uma dica. Preste atenção.

Kei limpou a garganta e ajustou o colarinho da gravata azul.

— Uma gravata? — Enji ergueu uma sobrancelha.

— Qual é? — Kei pegou a ponta dela. — É um ótimo presente. — Caminhou com uma mão no bolso para mais perto de Enji. — É bem coisa de velho ganhar gravatas e é algo que você pode usar. Combina com seus olhos. Foi bem cara.

— Isso parece mais um fetiche bem específico seu. — Enji não baixou o rosto para falar com Kei, gostava de como ele tinha que erguer a cabeça e quase ficar nas pontas dos pés para se encararem.

— Por que não pode ser os dois? — Kei ficou na ponta dos pés. Ainda segurava a gravata.

— Você é doente. — Enji passou um braço pela cintura de Kei trazendo-o para mais perto. — Um pervertido depravado. — Segurou a ponta da gravata junto com Kei. O tecido era nobre, macio ao toque.

O Rei E O PassarinhoOnde histórias criam vida. Descubra agora