Tácito

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Natsuo não acreditou quando a mãe lhe ligou interrompendo o podcast sobre o pai de Kei e nem no que ela falou depois. Foi mais um motivo para ver Fuyumi no hospital, estava preocupado com o tempo que ela passava lá, por isso levava um bentō bem recheado. Não pretendia visitar o pai, Fuyumi falou que ele estava bem.

Ele andava pelos corredores iluminados pela luz artificial carregando o capacete em um braço e o bentō em outro quando viu Hawks no caminho e ficou paralisado. Hawks também parou junto com o homem que o acompanhava.

— Você? — Natsuo ficou em choque. Não esperava ver Kei ali.

— É, eu. — Kei confirmou com uma expressão estranha e sem empolgação.

— O que você tá fazendo aqui?

— Vim ver o seu pai e falar sobre o meu. Acho que você já deve tá sabendo.

— Sim… — Natsuo ficou envergonhado ao responder que sabia. Passou a tarde toda perscrutando o passado de Kei. A própria vida familiar era uma bagunça e descobrir que tinha gente em situação pior é sempre um baque. — Eu vi nos jornais…

O pai de Kei foi condenado a pena de morte, precisamente à forca segundo boatos, isso era algo que o seguiria por toda a vida. Natsuo odiava o próprio pai, contundo era incapaz de imaginar um fim desses para ele.

— Eu sinto muito… — se ouviu dizendo e não se arrependeu. De repente, não conseguia encarar Kei nos olhos. Ambos viveram infernos na infância, mas um era diferente do outro. Seria possível comparar?

Kei sorriu com certa melancolia:

— Não precisa se preocupar provavelmente não nos veremos nunca mais.

— E quanto a Endeavor?

— Nós também não nos veremos nunca mais. Seu pai já não queria mais olhar na minha cara desde a mansão e agora que sabe de tudo duvido que mude de opinião.

— Você não é responsável pelo o que seu pai fez.

— Eu não sou responsável por um monte de coisas.

Kei não foi sarcástico ou acusatório, apenas aceitando o que houve.

— Eu fiz o que eu pude.

Ele olhou para os próprios pés e então fitou Natsuo com aqueles olhos dourados:

— Me desculpe, Natsuo. — O motoqueiro ficou surpreso com o pedido repentino. O ouro transmitia sinceridade. — Eu não sabia mesmo que Enji era o seu pai.

— É um pouco tarde pra isso.

O loiro deu de ombros:

— Talvez. Mas antes tarde do que nunca. Eu realmente não tinha ideia.

— E se soubesse?

Natsuo não quis sair acusador, mas não conseguiu. Sentiu-se muito mal, Kei estava claramente em uma situação vulnerável tentando muito não desabar a qualquer instante. Kei estalou a língua olhando para cima refletindo. Natsuo ficou muito pior, pois até mesmo nessa situação horrível que Kei se encontrava, ele estava sendo considerável com os seus sentimentos:

— Eu provavelmente não teria virado seu amigo. Endeavor não ia gostar. Ele falava de como a relação com os filhos não era boa e eu nunca quis piorar nada.

Kei inclinou a cabeça, seus olhos boêmios eram compassivos mesmo que avermelhados nos cantos:

— Mas minha amizade por você assim como o que eu sinto pelo seu pai sempre foi verdadeira. Não te usei e não quis te magoar.

O pior de tudo isso era que Natsuo acreditava, Kei nunca pedia grandes informações da sua vida ou tocava em assuntos que lhe chateavam. Podia entender o porquê depois de tudo que viu nos noticiários.

— É melhor eu ir embora. — Kei falou. — Não vai ser bom para o seu pai e nem pra vocês eu ser visto por aqui.

Kei passou ao lado de Natsuo e o homem todo vestido de jeans o seguiu dando um leve aceno com a cabeça para si.

Natsuo virou para perguntar sério:

— O que você falou sobre nunca mais ver Endeavor é verdade?

O loiro parou e olhou sobre ombro:

— É sim. — respondeu e então voltou a andar.

Natsuo respirou fundo, sabia que esse seria o melhor para Kei que merecia alguém bom que não arruinaria sua vida como Endeavor fazia com todo mundo.

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O Rei E O PassarinhoOnde histórias criam vida. Descubra agora