Banheiro

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— Kei? — Enji entrou no apartamento após o garoto não atender nenhuma de suas ligações. Queria avisar sobre os papéis do divórcio e após mandar uma mensagem — que deu muito trabalho escrever porque o celular não ajudava — do assunto e o garoto não visualizar imediatamente, Enji desconfiou que algo estava fora do lugar.

Se pegasse o moleque com outro após ter praticamente se humilhado para que Kei não tivesse casos por aí e o aceitasse de volta, o homem teria uma síncope. Mas Kei não trazia mais ninguém para casa e Enji sabia que sua cabeça estava criando coisas, porém Kei não atendeu a porta quando Enji tocou a campainha e nem quando bateu. Teve que usar a chave extra. O máximo que podia acontecer era ele não estar em casa.

Enji deixou a chave no cinzeiro e como não viu ninguém jogado na sala em frente ao videogame foi para o quarto. Vazio. No entanto, do banheiro vinha o som persistente da água corrente.

— Kei? — Enji chamou, não houve resposta e então entrou no banheiro.

Pelo box de vidro, seu coração acelerou ao ver Kei estatelado nu no frio chão asséptico.

— Kei? Keigo? — Enji correu para ele abrindo com um estrondo a porta de vidro e com cuidado o virou para ver seu rosto.

Seus dedos ao tocarem a pele fria vieram sujos de vermelho assim como boa parte do cabelo loiro e rosto dele. Um fio de sangue era levado com a corrente da água do chuveiro para o ralo.

— Kei? — Enji estava ajoelhado no espaço minúsculo com o rapaz no colo dando tapinhas nas bochechas dele para ver se acordava, porém Kei continuava imóvel.

A água caía sobre as costas de Enji encharcando toda a sua roupa, gotas despencavam do seu nariz e cabelo para a face de Kei limpando o sangue acumulado e então o homem percebeu que boa parte do chão estava vermelha por conta de Keigo. Ele não conseguiu ver antes pois o corpo de Kei obstruía o espaço minúsculo, mas tudo manchou de vermelho.

Enji ergueu o rosto e notou que a saboneteira parafusada na parede quebrou ao meio: metade intacta e metade cacos brancos no chão cobertos de sangue. Kei bateu a cabeça nela.

Porém havia muito sangue, tanto que  ele não conseguia encontrar o exato local da ferida de origem e o cabelo de Kei sujo e grudado na testa não seria de grande auxílio. Tinha medo de procurar e achar o real estrago.

— Kei? Keigo? — Enji o chamava ainda sem respostas, o corpo dele mole em suas mãos. — Passarinho? — Os olhos dourados completamente cerrados.

Seu coração disparava, ao contrário da calma aparente, lembrou que a última vez que se sentiu assim foi há muitos anos na morte de Touya. Nunca parou para pensar nisso. Kei seria mais um que morreria nas suas mãos?

Enji pôs o ouvido sobre o peito de Kei… batidas… o coração pulsava… batidas leves… porém contínuas. O nó no seu peito afrouxou um pouco ao ver que Kei ainda respirava apesar do movimento quase imperceptível do diafragma.

Enji enrolou o garoto na toalha pendurada tirando-o box do banheiro e levando-o no colo para a cama. Ligou para a emergência.

O Rei E O PassarinhoOnde histórias criam vida. Descubra agora