Cigarros

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— Por que essa cara tão amarga? — Dabi enquanto acendia um cigarro se pôs ao lado de Kei no bar.

— O que você tá fazendo aqui? — Kei perguntou sem tirar o rosto do punho fechado. O copo e a garrafa praticamente vazios na sua frente às 4h da manhã. — Não tava atrás de um devedor?

— Tive que resolver uns probleminhas. — Dabi soltou uma baforada de fumaça para cima. — Logo volto atrás dele.

— Que beleza. — Kei colocou o restante da bebida no copo, balançou a garrafa vazia até tirar a última gota e fez sinal para trazerem outra. Cabeça fez que não enquanto limpava os últimos copos da noite. — Ótimo. — reclamou e tragou tudo de uma só vez.

Dabi ficou curioso, a ponta do cigarro queimando entre os lábios, depositou as cinzas no copo vazio de Kei e continuou a fumar:

— Por que essa cara de cachorrinho perdido?

— Só se for cachorrinho perdido na mudança. — Kei virou para ele e tomou o cigarro sem aviso. Dabi o encarou ainda mais instigado. — Fui abandonado na mudança. — Deu uma longa tragada e soltou as espirais esbranquiçadas de fumaça para longe. — O cara que eu tô… tava saindo me largou.

— Surpreso? — Dabi aproximou os lábios para que ele devolvesse o cigarro e Kei assim o fez.

O loiro ficou em silêncio por alguns segundos, claramente bêbado, mas não o suficiente para estar fora de si, ele tomou toda aquela garrafa em doses homeopáticas.

— Não sei. — Kei respondeu. — Um pouco? Achei que ele gostava de mim…  só assim o plano daria certo. Mas sabia que em algum momento ele tentaria voltar para a "família" só que não tão cedo. Estragou tudo. Onde eu errei? — Kei estava sério e demonstrando fragilidade, raro, bem raro.

Dabi tinha a resposta perfeita:

— Seu único erro foi não tirar dinheiro do coroa.

Kei deitou a cabeça no balcão.

— Não quero dinheiro. — disse.

— Você podia chantagear ele para que ficasse com você. — Dabi chegou na metade do cigarro.

— Nah. — Kei descartou a hipótese. — Ele só ia me odiar, quero o contrário.

— Então se conforme.

— Já estou conformado! — Kei falou alto demais com a voz embargada. — Aaaaa! — berrou contra a madeira do balcão.

— Você arranja outro velho. — Jogou o que restou do cigarro no cinzeiro. Pegou outro. — Tá cheio de velho enrustido por aí.

Nisso Dabi tinha razão, vez ou outra chegava um desses no bar sempre com olhares avulsos, fingindo que não eram casados, que não estavam no sigilo, que não tinham medo de serem pegos e mostrando o corpo em dia apesar da meia-idade. Quando esse tipo entrava no bar, era seu dia de sorte, todos sabiam que ele já estava automaticamente na mira de Kei. Mas o melhor fica para depois: ao retornarem esperançosos nas noites seguintes, Kei simplesmente dizia que não os conhecia e ignorava-os por completo. Kei nunca repetia com exceção de Dabi e aquele velho grandão que o bartender lhe contou sobre. Bom, agora era somente Dabi mesmo.

— Não quero outro. Quero ele! — Kei resmungou mimado.

Surpreendente aquele velho ter virado o ponto fixo dessa obsessão de Kei com daddies. Coitado. Do homem, é claro. O rapaz quase sorriu no outro trago.

— Vai fazer o quê sobre? — Dabi perguntou.

— Beber todos os meus problemas como um perfeito adulto.

— Que criancinha mais triste. — Dabi zombou e soprou a fumaça na direção do loiro. Kei ergueu o rosto do balcão espantando a coluna branca para longe. — Quer um docinho para melhorar? — Se preparava para soltar outra espiral no rosto dele.

Kei no seu sorriso de canto falou:

— Só se for um pirulito.

Dabi não ficou surpreso, Kei estava deprimido, mas não fora de si.

No carro de Dabi, Kei gemia, estavam no beco atrás do bar, às 5h da manhã com os raios de sol quase se infiltrando pelas janelas fumê. Estavam no banco do passageiro, Kei sem as calças sentado em Dabi que queria os matar ainda fumando lá dentro com apenas uma nesga do vidro abaixado para a fumaça sair.

— Continue… — Dabi sussurrou ao seu ouvido e agarrou ainda mais as nádegas de Kei. Faziam no carro porque antes das dez Dabi queria voltar na sua perseguição e Kei não estava muito afim de procurar um motel. Até um banheiro serviria.

Qualquer um que passasse no beco veria o que os dois faziam pelo balanço do carro. Kei fechava os olhos para gozar quando viu o tal do Shigaraki que entrou pela saída de emergência. Dabi notou a mudança em Kei e olhou na mesma direção.

— Ele está irritado. — Dabi comentou voltando aos movimentos.

— Com o quê? — Kei se fez de inocente. Dabi achou divertido sem saber o porquê.

— O sequestro dele não deu certo.

— Pra ele… — Kei riu contra o ombro de Dabi… se ele continuasse assim não conseguiria pensar.

— Você tem algo a ver com isso, não tem? — Dabi não fazia ideia como e nem queria saber, estava apenas sendo levado pelo fluxo de prazer. — Será que eu devia ter comentado?

— Eu reconheci aqueles homens… Ah! — Kei gozou.

— Talvez você deva me agradecer melhor — Dabi continuava com um Kei arfando. Ele chegava perto do seu limite também. — …você não queria um pirulito?

O Rei E O PassarinhoOnde histórias criam vida. Descubra agora