Campanha de Marketing

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— Já chegou? — o homem coçava a nuca sonolento.

Keigo saiu de perto da mesa e se encolheu contra a parede de novo.

— Trouxeram meu molho? — Ele abriu a sacola plástica e tirou as embalagens de papel de dentro. — Tá aqui. Que horas são? — ele olhou para o próprio relógio no pulso.

Sentou na mesa e abriu uma das embalagens de comida chinesa. O estômago de Keigo ainda roncava e o cheiro da comida quentinha só piorava a situação.

— Ei, você. Vem aqui. — O homem pegou a outra embalagem junto com os hashis descartáveis. — Vem logo.

O menino se aproximou devagar, seus olhos grandes iam da embalagem de comida para o homem repetidas vezes. Dava um passo relutante atrás do outro, o homem continuava com o braço esticado sorrindo pela situação, a criança parecia um bichinho desconfiado. De repente, o menino avançou, com as duas mãos erguidas deu o bote na embalagem de papel e saiu correndo de volta para a parede como se lá fosse seguro.

O homem deu um risinho e voltou a comer.

Keigo enfiava tanto macarrão na boca que mal conseguia mastigar. Sua pelúcia estava sentada ao seu lado vendo tudo, Keigo ofereceu um pouco para ela e depois continuou comendo.

— Qual o nome que aquela doida te deu? — o homem perguntou para o menino assim que terminou de comer.

O menino segurava a embalagem vazia num braço e a pelúcia no outro. Ele sussurrou gaguejando:

— Kei… go.

— Ah, agora que eu te dei comida você fala. É Keigo? É isso?

— Sim. — Keigo acenou concordando e se encolhendo.

A cara do homem contorceu.

— Que desgraça. Aposto que seu nome se escreve com os mesmos kanjis que o meu. A mulher é uma doida mesmo. Sabe quem eu sou?

Keigo fez que não.

— Ótimo. Keiichi Kyo. Já ouviu falar nesse nome?

Fez que não novamente.

— A maluca te teve mesmo eu dizendo que não e ela não te falou meu nome nenhuma vez? — Ele riu.

Então levantou da mesa e disse:

— Vou voltar a dormir.

Estava sozinho de novo na sala, Keigo espiou esticando o pescoço para ver se o moço tinha entrado no quarto mesmo. Ficou de pé e com cuidado recolheu as embalagens da comida para jogá-las no lixo. Abriu a geladeira e com ambas as mãos pegou a garrafa de água na porta servindo-se de um copo. Por pouco não derramou, a garrafa era pesada demais para suas mãozinhas pequenas. Bebeu e subiu no banquinho perto da pia para lavar o copo e colocá-lo de volta no lugar.

Aconchegou-se na parede para continuar vigiando o moço, mas o estômago cheio de massa falou mais alto e ele dormiu com o rosto contra o brinquedo.

Keigo acordou com frio, sua cabeça doía e se sentia fraco. Suor frio escorria por sua testa quando acordou, era o meio da noite e o moço Kyo mexia em alguma coisa na mesa da sala que fazia seus olhos verdes refletirem a luz azul. Não conseguiu ficar acordado mais tempo do que poucos segundos e apagou por completo.

O cheiro de ovos fritos fez Keigo despertar, Kyo estava na frente do fogão usando a frigideira:

— Olha só quem acordou. Curtindo o chão, pirralho?

Keigo assustado ficou de pé como um raio, não se sentia mais fraco. Agarrou a pelúcia.

— Vai tomar banho. Seu fedor tá impregnando nos ovos.

O Rei E O PassarinhoOnde histórias criam vida. Descubra agora