Shigaraki

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Kei estava com o rosto apoiado no punho fechado vendo a paisagem passar pelo vidro do carro sem a ver de verdade. Sua cabeça estava cheia da conversa que teve com a Comissão.

“Talvez seja melhor você sair da cidade por um tempo ou quem sabe do país.”

Kei não queria nada disso, tinha que resolver sua briga com Enji e pela primeira vez considerou primeiro seus assuntos pessoais do que os profissionais.

“O grupo de Shigaraki sabe tudo sobre você e Twice. O melhor para você e a Comissão é se manter afastado, pensamos em um lugar muito bom para a sua estadia…”

Não queria ficar tanto tempo afastado de Enji por mais que ele não quisesse mais lhe ver nem pintado de ouro, mas permanecer na mesma cidade ao menos lhe dava alguma tranquilidade. Kei teve que desativar suas redes sociais e a partir de hoje para onde andava seguranças iriam juntos. A Comissão fingia que se importava com a segurança de Kei e não com as informações que ele poderia vazar, e ele fingia que acreditava.

— Hoje está um belo dia, não acha? — o motorista do carro comentou tirando Kei da espiral de pensamentos.

— Sim, um belo dia para a praia. — Kei respondeu imaginando Endeavor-san na água do mar. Suspirou.

O segurança sentado do lado oposto do banco de Kei não disse nada, porém pareceu incomodado com a conversa repentina. O segurança do banco da frente limpou a garganta.

— Alguém tem cigarro? — Kei perguntou.

— Parei de fumar faz anos. — o motorista falou. — Recomendo muito, minha saúde só melhorou.

— Ah, eu não fumo muito. — Kei falou lembrando que estavam no fim do mês e não tocou em um cigarro nenhuma vez, mas bebeu duas garrafas de saquê como se fosse água. — Talvez eu devesse parar de uma vez ou começar de verdade.

O segurança do banco do passageiro limpou a garganta novamente incomodado com a conversa.

— Ou talvez outro alguém devesse parar de fumar. — Kei comentou se reencostando no assento de couro voltando a observar pela janela a cidade escura pela madrugada que em uma hora ou duas amanheceria.

Sentiu o celular vibrar, Kei queria ter a esperança de ser Enji lhe mandando um texto para se encontrarem, porém, seu até o seu eu sonhador era realista demais para isso. E pensar que andaria descalço sobre brasas por esse homem.

Continuar a conversa, até Kei e os seguranças perceberem quando eles cruzarem uma via um carro vindo com tudo na direção deles do lado do segurança e do motorista. Pegou o celular no bolso do casaco e viu que era uma mensagem de Mirko. Ah, mais tarde respondo. Guardou o celular e fechou os olhos desesperado por um frango frito e energético de café gelado.

Não demorou dois minutos e o celular vibrou novamente no seu bolso. De novo. De novo. E mais uma vez. Para de encher, Mirko.

— Nenhum cigarrinho? — Kei olhou para o segurança sentado ao seu lado do banco.

Ele olhou para o segurança da frente que não fez nada e logo em seguida enfiou a mão no terno. Tirou um cigarro barato de lá e passaria para Kei quando o carro freiou no sinal vermelho fazendo o cigarro cair no espaço entre as pernas dos dois.

— Eu pego. — Kei disse acenando e destravando rapidamente o cinto de segurança, se inclinou para pegar o objeto. Era ele que queria fumar afinal. — Peguei. — Kei encaixou o cinto de volta e se reclinava para a postura normal ao ver pela janela do segurança um carro se aproximando no cruzamento deserto. — Cuidado! — gritou.

O impacto foi tão rápido que Kei mal teve tempo de fechar os olhos, o som do metal contra metal se chocando e recurvando fez parecer que seus tímpanos estourariam e os outros órgãos reverberarem a batida. O corpo foi lançado para o lado com força e sua cabeça atingiu algo com tanto empuxo que jurou que a coluna se comportou feito um chicote.

O Rei E O PassarinhoOnde histórias criam vida. Descubra agora