Encontro Fortuito

998 106 22
                                    

— Então você é o senhor Enji. — o garoto se aproximou da mesa junto com um dos acionistas da empresa que o apresentou.

— Você tem idade para estar aqui? — Enji respondeu ao tom relaxado do garoto de olhos despreocupados. Esse tipo de atitude era péssima para o ramo deles.

O garoto sorriu com as mãos no casaco marrom oliva, Enji não soube dizer se o sorriso era pretensioso ou não.

— Tenho. — ele respondeu.

Enji tirou o celular do bolso para checar os e-mails e dar a dica para o moleque ir embora.

— Muito ocupado? — o garoto perguntou se inclinou.

Enji não respondeu.

— Já que está muito ocupado, não vai se importar de eu sentar aqui, vai? — ele puxou uma cadeira da mesa e fez sinal para o garçom que trouxe o cardápio. — O que eu vou comer? — o garoto lia as opções. — O que você pediu? Ah, vou querer o mesmo que o dele. — Devolveu o cardápio.

Enji achou que após o garoto fazer o pedido ele tentaria puxar assunto, mas ele também pegou o celular. Não durou muito.

— O que você quer? — Enji perguntou sem paciência, um monte de gente vinha atrás dele querendo algo. Um emprego, uma indicação, um autógrafo.

O garoto deu aquele sorriso indulgente novamente enquanto apoiava o rosto na mão:

— Nada.

— Você quer que eu dê uma chance para ser um investidor da sua empresa mixuruca?

Surpreso, ele esbugalhou os olhos claros e de repente jogou a cabeça para trás numa gargalhada.

— Não, não! — ele ainda ria e enxugava as lágrimas de diversão, então ajeitou a postura e voltou a dizer: — Eu não quero nada, bom, talvez uma coisa.

Ele aguardou, então curioso:

— Não vai perguntar o que é?

— Não me interessa. — Enji digitava determinado a resposta a um incompetente que logo seria dispensado.

— É uma pena. — o garoto voltou a apoiar o rosto na mão. — Você quer saquê? — Ele chamou o garçom e pediu uma garrafa.

— Não bebo.

— Sem problema, eu bebo por nós dois. — Ele recolheu para si o copo que serviu para Enji logo depois de beber o próprio.

Enji viu o entusiasmo do garoto para a bebida e perguntou:

— Você tem idade para beber, garoto?

O garoto parou o copo no meio do caminho, fitou o empresário e num meio sorriso respondeu:

— Eu tenho idade para muita coisa. — Virou o copo.

Eles almoçaram o mesmo prato com Enji ignorando o intruso do mesmo jeito, tentou pagar a refeição, mas o moleque se meteu na frente e pagou para os dois com aquela expressão despreocupada de sempre. A conta era cara, o moleque queria mesmo surpreender o empresário. Enji não agradeceu apenas se levantou e foi embora, era bom o garoto guardar a mixaria que tinha senão acabaria comendo em qualquer bodega de esquina. Ele tinha cara de quem comia nesses lugares mesmo.

Enji percebeu que o garoto pegou o mesmo elevador e pelo vídeo viam descer os andares do prédio luxuoso. Esse moleque era filho de alguém que ele conhecia? O pai mandou para incomodá-lo? Descobrir algo? Qual era a do garoto? Queria que um de seus filhos tivesse esses culhões, o mais novo por pura rebeldia se recusava a obedecer qualquer coisa que dizia e quando o fazia era pelos "próprios motivos". Próprios motivos? Enji quis rir, Shoto podia até negar, mas ele sabia que seguiria o seu sonho.

O Rei E O PassarinhoOnde histórias criam vida. Descubra agora