Varanda

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— Você fuma ou não? — Enji observou Kei pegar um cigarro da gaveta da cômoda. Agora o loiro estava com ele acesso entre os dedos enquanto estavam na varanda do apartamento.

— Geralmente não, mas hoje tá muito frio. Você se incomoda? — Gesticulou para Enji. — Eu posso jogar fora.

— Meu filho fumava escondido — Enji se viu perdido em pensamentos —, quando descobri dei uma surra nele.

— Que bom que eu não sou seu filho. — Kei soltou a primeira espiral de fumaça e bateu as cinzas fora. Limpou a garganta.

— Cigarro faz muito mal à longo prazo.

— Isso é verdade. — Kei concordou pouco se importando.

— Eu não queria que ele ficasse doente. — E eu detesto qualquer coisa relacionada ao fogo perto deles. — Fuyumi me disse que era porque ele estava estressado com a morte do mais velho e queria fazer algo de adolescente.

Foi a primeira vez que tocou no assunto de Touya com Kei.

— E você? — Kei perguntou do nada jogando as cinzas fora. — Estava estressado?

— Não havia momento em que eu não estivesse estressado. — Enji foi verdadeiramente sincero. Suas palavras viravam ar congelado na sua frente.

— E agora? Você tá estressado?

— Não sei. — Eu me sinto exausto.

— Um pouquinho só então? — Kei apoiou o rosto na mão livre.

— Talvez.

Kei riu, Enji não entendeu o porquê.

— O que foi?

— Você tem dificuldades em relaxar.

— Não posso relaxar. Estou sempre trabalhando. Tenho que manter o nível da minha profissão.

— Pode ser. — Kei fumou mais um pouco. — Comigo é o contrário: como tô sempre trabalhando, vivo relaxando por aí porque se for só quando não tiver mais trabalho vou relaxar nunca.

— Metade das coisas que você diz não faz sentido.

— Pode ser também, pra mim faz.

— Nada do que você fala faz sentido. — Enji enfatizou.

Kei riu e disse:

— No orfanato, os cuidadores iam fumar na dispensa que tinha uma janelinha. Um dia esqueceram uma guimba de cigarro lá e começou a pegar fogo nos cobertores. Ninguém se machucou e não foi grande coisa, eles disseram para os bombeiros que deve ter sido uma das crianças, mas todo mundo sabia que eles fumavam lá dentro. Ninguém falou nada para ninguém. Fumar lá dentro era proibido, mas nenhum deles obedecia. Brigaram com a gente um tempão, isso não me impediu de fumar.

— Conversar com ele resolveria. Ele já me detestava. Talvez se a mãe conversasse adiantaria algo, mas ela estava muito ocupada com Shouto e apresentando alguns problemas.

Kei meneou entendendo.

— Meu filho mais velho morreu há alguns anos. Touya. — Ainda era muito desconfortável falar em voz alta.

— É um nome bonito. Você que escolheu?

— Sim, eu escolhi. — Foi a primeira vez que disse o nome em anos. Sentia-se revirando a terra de um túmulo esquecido.

— Como ele era? — Kei perguntou calmamente, Enji entendeu que a pergunta não era para a curiosidade própria.

— Ele era franzino, os outros dois eram mais altos mesmo sendo mais novos. Tinha o cabelo da cor do meu e por algum tempo achei que ele teria um boom de crescimento. Ele era dedicado, se frustrava fácil e cabeça-dura.

O Rei E O PassarinhoOnde histórias criam vida. Descubra agora