Baldes, armas e escolhas

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Keigo andava pelas calçadas tentando não pisar nas riscas, segurava uma maçã enquanto Kyo mordia outra. O menino acertou quase todas as latas hoje,eles foram à loja de conveniência comprar bolinhos e Kyo decidiu levar uma maçã e lhe deu outra. Keigo carregava a fruta brilhante nas duas mãos e pulava as riscas com rapidez pois Kyo nunca esperava ou diminuía o passo.

As mordidas de Kyo na maçã faziam os ouvidos de Keigo estalarem. Kyo parou de andar de repente, Keigo bateu sem querer nas suas pernas e olhou para cima.

— Olha só quem tá aqui. — o cara de casaco de tigre estava a poucos centímetros deles. — Você me fez de otário.

— Fiz? — Kyo perguntou mordendo a maçã.

— Quem pensa que é?! — Agarrou a jaqueta de Kyo.

— Você é muito arrogante pra um delinquente de baixo escalão. Satoshi não mandou você parar de encher?

— Foda-se Satoshi! Você não tem ideia de com quem mexeu! — Apertou e puxou mais a gola da jaqueta de Kyo. Então os olhos dele pararam por um instante. — Eu te conheço de algum lugar.

Kyo jogou a maçã mordida para Keigo e disse:

— Pirralho, vai pra casa.

O menino hesitou, porém assim que Kyo terminou de falar toda a sua atenção foi para o delinquente que lhe segurava. Keigo correu para o apartamento.

Como não tinham lhe dado a chave, Keigo não pôde entrar, ficou sentado abraçando as pernas até elas começarem a formigar. A tarde estava no meio quando Kyo chegou.

Uma bochecha dele estava inchada e o lábio machucado, Keigo ficou de pé na hora ao vê-lo subir as escadas com o rosto batido e duas grandes sacolas nas mãos.

— Você não comeu a maçã? — Kyo perguntou ao abrir a porta e entrarem no apartamento.

Keigo fez que não, ficou preocupado de Kyo não voltar.

— Tive que deixar ele me bater. — Kyo explicou colocando as sacolas sobre a mesa. Ele trouxe vários rolos de sacolas de lixo, fita adesiva e garrafas de vidro turvo. — Não é pra beber isso. — avisou.

— Você tá bem? — Keigo não conseguia tirar os olhos do rosto ferido de Kyo.

— Ainda não, mas vou ficar muito melhor. — Ele sorriu abrindo o primeiro rolo de sacolas de lixo.

Eles jantaram e assim que terminaram, Kyo pegou a grande sacola de lixo azul a abriu no meio com um canivete, fez o mesmo processo com a outra e as uniu em um pedaço maior com a fita adesiva. Mandou Keigo pegar a tesoura, cortar a fita e colá-la nas junções das sacolas. Keigo andava pela grande manta plástica que faziam no chão. Ela ia da porta de entrada fazendo um caminho ao banheiro.

— Tá bom. — Kyo falou assim que bateu meia-noite. Ele enrolou a manta e a guardou no quarto.

Keigo assistiu televisão até seus olhos arderem, caiu no sono no sofá, mas Kyo permanecia totalmente concentrado no computador.

Os dias foram passando, o rosto de Kyo estava melhor e assim que acordava saía todas as tardes em que Satoshi não aparecia. Ele trouxe mais garrafas daquelas e alguns baldes com tampas. Um dia ele trouxe um martelo e uma serra.

Kyo checou o armário vazio embaixo da pia, tirou uma das prateleiras e fez Keigo entrar no espaço vazio.

— Até sobra espaço. — falou e sinalizou para que saísse de dentro.

Ele também comprou um pequeno caderno e um lápis que sempre levava consigo quando saía só.

— Sabe o que é isso, Keigo? — Kyo mostrou um desenho para ele.

O Rei E O PassarinhoOnde histórias criam vida. Descubra agora