Brincadeira de criança

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— É… tchau.

Adeus, Natsuo. — a pessoa do outro lado encerrou a ligação e Natsuo ficou olhando encucado para o celular do irmão. Que trote foi esse? Era um número não registrado na agenda de Shouto.

Natsuo deixou o celular na mesa da sala de visitas e olhou pela janela as crianças brincando na pracinha ao lado do apartamento de Fuyumi.

Elas gritavam animadas e chutavam a bola de futebol entre os times. Uma caiu e começou a chorar com o joelho ralado. Natsuo riu, não porque era engraçado, apesar de ser, mas porque ele e os irmãos nunca choravam quando ralavam os joelhos, no entanto, Natsuo abria o berreiro quando os irmãos o excluíam sem querer das brincadeiras por serem mais velhos.

A criança lá fora se levantou com a ajuda de outras, lavou a ferida e logo voltou a jogar bola como se não tivesse parado o campinho com o choro.

Quando eles e os irmãos caíam no futebol, a brincadeira não acabava porque o quintal era todo de grama, então era bem difícil machucar. Mas quando Touya caía sozinho e do nada era outra história.

— Quer brincar, Touya-nii? — Natsuo entrou no quarto empolgado segurando a bola embaixo do braço.

— Tá bom. — Touya deixou o mangá de lado e levantou da cama. Eles foram correndo para o quintal onde Fuyumi colocava a rede de gol.

Natsuo estava muito animado, o irmão voltou da escola especial de férias, parecia feliz, não falava mais coisa com coisa e nem chorava do nada. E agora deixavam ele até cortar o próprio pão! *Naquele tempo, eu não sabia que Touya não podia ficar perto de objetos afiados, mas já desconfiava.* Porém, ele não foi brincar mais nenhuma vez com eles. Por quê? Porque ficar trancado o dia todo aí quando podiam brincar lá fora? Ontem ficaram a noite toda acordados lendo mangá e a noite anterior também. Por que Touya continuava lendo mangá hoje?

Ele e Touya contaram contas embaixadinhas que Fuyumi conseguiu fazer sem errar, foram 32, um novo record. Os três corriam e brincavam pelo quintal há quase duas horas, Natsuo jogou a bola para o seu irmão que a pegou e saiu correndo para o gol sorrindo. Então Touya caiu.

Ele não usou sequer as mãos para aparar a queda, simplesmente caiu de cara na grama e ficou imóvel. Fuyumi e Natsuo correram para acudir o irmão, viraram ele para cima enquanto chamavam por ele. Os olhos de Touya estavam desfocados, a pele suada agora era fria e do seu nariz saía uma linha de sangue.

Senhorita Kotona chegou acompanhada de outros empregados e pegou Touya nos braços. Natsuo e Fuyumi foram atrás deles que levaram o garoto de volta para o quarto.

O coração de Natsuo não parava de palpitar. Touya havia morrido? Nunca viu sangue sair do nariz dele quando estava mal, um pouco ficou na sua camisa.

— O que aconteceu? — o velho chegou mal-humorado, seus passos pesados ecoando por toda a casa.

— Touya teve uma crise. — Kotona respondeu na porta do quarto.

— Achei que estava demorando para ele dar outro show de pirraça. — Cruzou os braços fortes sobre o peito.

— Foi uma crise pelo esforço. — Senhorita Kotona esclareceu.

— Que esforço? — A expressão de Endeavor se tornou ainda mais sombria. Natsuo achava o pai tão alto que o rosto sempre estava distante cheio de sombras e os olhos brilhando em chamas. — Ele passou todos esses dias no quarto descansando.

— Ele está bem agora. Todos os remédios estão em dia. Gostaria de vê-lo, senhor?

— Não. Pode ser uma pirraça dele.

— Ele está dormindo agora. — Senhorita Kotona esclareceu. — Acho que só acordará amanhã. Foi apenas um acidente.

Endeavor fungou discordando:

— Duvido. Touya anda quieto demais, ele não pode crescer achando que conseguirá o que quer se se machucar o suficiente.

Fuyumi gaguejou de repente, o pai a encarou, ela engoliu e seco e falou bem baixinho:

— Ele estava brincando com a gente, pai… — Fuyumi segurava as próprias mãos nervosa evitando olhar para o homem.

Os olhos de Endeavor se estreitaram quase que milimetricamente.

— Ele dormiu ontem? — Endeavor perguntou para a governanta ignorando a filha.

— Ontem eu peguei ele e Natsuo lendo até tarde. — Senhorita Kotona respondeu.

Endeavor respirou fundo e olhou para Natsuo:

— Foi você que chamou Touya pra correr por aí? — intimou.

Natsuo não conseguiu responder, Touya-nii estava mal por sua culpa.

— Foi? — Endeavor insistiu irritado. Natsuo acenou concordando tentando não chorar.

Endeavor expirou irritado.

— Você está atrapalhando seu irmão. — Endeavor falou pontuando cada palavra. Natsuo se encolheu, não queria fazer mal a Touya.

Nesse dia, Touya foi separado para outro quarto. As crianças lá foram continuava a brincar.

— Natsuo, na loja não tinha molho picante. — Fuyumi abriu a porta do apartamento e colocou a sacola sobre a mesa, ela estava vestida com a roupa do trabalho. Logo voltaria para ele.

— Tudo bem, vai dar para fazer mesmo assim. — Natsuo ainda observava as crianças.

Fuyumi olhou para onde o irmão se mantinha focado. A voz dela ficou animada:

— Aah, lembra quando a gente jogava futebol?

— Você trapaceava.

— Você que não sabia perder. — Fuyumi brincou tirando os itens da sacola.

— Lembra quando Touya passou mal e ficou três dias de cama?

— Lembro, achei que ele fosse morrer. — É claro que Fuyumi lembrava. Foi o dia em que Touya e Natsuo pararam de dividir o quarto e o pai não deixou nenhum deles chegar perto de Touya até que melhorasse.

— Eu também. — Natsuo falou perdido em pensamentos.

Ele respirou fundo e virou para a irmã com o rosto animado:

— Vamos fazer o almoço que logo você tem que trabalhar!

— Cadê Shouto?

— No banheiro, ele demora bastante lá. Você sabe.

— Parece com alguém. — Fuyumi comentou rindo.

— Meu cabelo não vai se ajeitar sozinho. — Natsuo rebateu.

Um capítulo com o final mais suave depois do de ontem. O que acharam? Deixem seus comentários, críticas, teorias e elogios.
Até daqui a pouco (Sim! Mais um capítulo para hoje!)
Bjinhus!

O Rei E O PassarinhoOnde histórias criam vida. Descubra agora