Câmeras

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— Posso conversar um instante a sós com Kei, Tsunagu? — Mera carregava uma pequena sacola de lembranças numa mão.

— Claro. Permita-me. — Tsunagu acenou educadamente e se retirou do quarto.

Mera esperou alguns segundos depois do homem sair e virou o olhar para Kei. Aproximou-se suspirando cansado.

— É um absurdo não poder fumar em hospitais. — reclamou e olhou para o detector de fumaça no teto junto com o sprinkler. — Sem ofensas, é claro.

Kei segurou o riso, foi justamente um cigarro que salvou a sua vida junto com a vontade hedionda de viver.

— Como está se sentindo? — Mera perguntou já caminhando para a garrafa de café para os acompanhantes.

Kei digitou sua resposta no aparelho, a voz robótica falou:

Bem. — Na verdade, se sentia bem mais ou menos.

— Soube que removeram a sonda da urina e já consegue ir ao banheiro sozinho.

Tsunagu me ajuda a ir até o banheiro e lá me viro.

— Gostou do “presente” da Comissão?

O aparelho?

— O bônus. — Mera bebeu do copo descartável. Seu rosto até ficou mais relaxado.

Eh. — A voz robótica não tinha sequer um terço da ironia que Kei queria passar.

O assalariado deixou o copo de lado e voltou a se aproximar do leito de Kei:

— A renovação do seu contrato está quase pronta, a Comissão vai esperar a alta para que você assine. É muita gentileza. — falou indiferente.

Seria melhor trazer logo.

— Acho que algum dos figurões se sensibilizou com você ou não quer que nada vaze. Fica ao seu critério. Bem que poderiam me dar um aumento também.

Se jogue em um prédio em chamas.

— Infelizmente não tenho a sua dedicação. — Mera falou apático e então passou a observar Kei. Suspirou e ofereceu a sacola para o loiro — Recuperei algo para você.

Kei pegou a sacola de papel, seus dedos não estavam mais inchados e nem mais trêmulos. Colocou a embalagem no colo, havia uma caixa de veludo dentro, Kei a pegou e abriu o fecho de metal. A corrente de ouro brilhou na almofada escura da caixinha de jóias.

Kei instintivamente levou a mão às orelhas para sentir os brincos que Enji lhe deu, não estavam mais lá assim como o anel que ganhou do professor não estava mais no seu dedo. Enquanto estava desacordado teve que fazer uma bateria de exames em máquinas de raio-x, os médicos tiraram todas as jóias.

— Dá para comprar umas três casas com isso. — Mera falou. — É um fetiche bem caro.

Kei acenou concordando sem tirar os olhos da corrente. Sentia saudades do seu rei, durante o incêndio a imagem dele foi o que mais queimou na sua mente.

— Ei, vocês terminaram, não foi?

Desperto de seus pensamentos, Kei meneou confirmando.

— Sei que ele te deu um fora pois entrou em contato direto comigo — Mera bufou cansado ao sentar na poltrona do acompanhante — exigindo não ter mais nenhum tipo de contato com você. O que aconteceu?

Kei pareceu refletir um pouco antes de responder, fechou a caixinha com a fortuna que Mera precisaria trabalhar cinco anos consecutivos para conseguir e digitou no aparelho:

O Rei E O PassarinhoOnde histórias criam vida. Descubra agora