Pela manhã

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— Já vai? — Kei suspirou e se encolheu embaixo dos lençóis abraçando mais os travesseiros.

— Tá carente, é? — Dabi segurou e ergueu seu queixo. — O seu grandão te faz solitário?

Kei murmurou em desgosto, afastou a mão de Dabi que o soltou e foi para o banheiro se lavar da noite anterior. Kei ouviu o chuveiro sendo aberto:

— Você não se cansa desse tiozão, não? Brincando de ser amante?

— Se você visse ele, entenderia.

Kei bufou contra o travesseiro. Eles nem eram amantes, Enji o pegou algumas vezes e nada mais. Eles nem tinham um lance de daddy e sugar baby ou encontros em restaurantes. Nada. Enji vinha o comia, o culpava depois de gozar e depois ia embora sem dizer muita coisa, só aquele olhar de "isso não vai se repetir" então retornava dois dias depois. Kei deitou a bochecha no travesseiro:

— Você não quer ficar para tomar café?

Ouviu a risada dúbia de Dabi sob o chiar da água.

— Nossa, você tá muito solitário.

Kei achou injusto, ele sempre pagava bebidas para Dabi, o único com quem ficava várias vezes e convidava para ir a sua casa, além de Enji é claro. Mas, os dois casos eram diferentes.

— Vai querer ou não?

— Eu tenho coisas para resolver.

Ótimo, mais uma vez *sozinho*, Kei lamentou. O que ele tava fazendo? Logo teria que trabalhar por mais que fosse em casa. Kei fechou os olhos para dormir, ouviu Dabi se vestindo e abrindo a geladeira para pegar algo.

— Vejo você na próxima, rapariga. — Bateu a porta ao sair.

Kei fechou os olhos por poucos segundos esperando o sono chegar, então ouviu batidas na porta. Dabi esqueceu alguma coisa com certeza. Se enrolou nu no lençol e levantou da cama, as batidas ficando mais fortes.

— Não precisa derrubar a porta! — falou enquanto se arrastava para abri-la. — Vê o que você esqueceu… — Kei calou-se ao ver que do outro lado parado de braços cruzados estava Enji com cara de poucos amigos. Não que ele tivesse muitos.

Enji o escrutinou com olhar afiado.

— Quem estava aqui?

— Hã? — Kei ficou confuso.

— Quem estava aqui? — Enji entrou no apartamento como numa inspeção militar.

— Ninguém. — Kei respondeu.

Enji deu uma volta na sala e cozinha checando os arredores. Retornou para Kei:

— Quem estava aqui?

— Ninguém.

— Mentiroso. Esse cheiro tá impregnado em você. — Enji num gesto firme e forte feito um raio e arrancou o lençol dos ombros de Kei.

— Mas que porra! — Kei surpreso tentou cobrir suas partes com as mãos. — Enlouqueceu?!

Enji encarou o rapaz de cima a baixo novamente com um olhar de alta desaprovação antes de partir para o quarto e praticamente arrombar a porta ao escancara-la. Verificou no armário, embaixo da cama e depois o banheiro com o lençol ainda embolado e preso entre os dedos.

— Quem estava aqui?

— Ninguém, porra! Tá maluco?! — Kei desistiu de cobrir suas partes, estava muito irritado para isso.

— Você mente tanto que a cara nem treme. O porteiro me contou tudo!

— Hã?

— Que você trouxe um amiguinho todo mau encarado para comemorar o aniversário.

O Rei E O PassarinhoOnde histórias criam vida. Descubra agora