Mamãe tem que ir

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— Keigo, Keigo… mamãe tem que ir.

Ela segurava os dois ombros do menino parado bem no meio da sala com seu boneco de pelúcia. Estava agachada na altura dele, seus olhos alinhados.

— Eu… eu… — ela pausou e então voltou a falar: — Você entende, não? Mamãe precisa ir.

Keigo balançou a cabeça afirmando que sim.

— Sabe, tudo isso é culpa sua… tudo o que aconteceu é culpa sua… eu não quero mais isso.

Ela levou a mão à alça da grande bolsa que carregava, seus cabelos loiros caíam-lhe sobre o rosto escorregando de trás das orelhas delicadas.

— É por isso que eu vou embora. Não quero mais ficar aqui. Não posso levar você comigo. — Gordas lágrimas saíam de seus olhos dourados trilhando caminhos úmidos pelas bochechas altas e rosadas. Ela fungou com o nariz arrebitado de ponta vermelha. — Você é um bom menino. Você vai ficar bem.

— Eu vou ficar bem, mamãe. — Keigo concordou.

— Eu tenho que aproveitar essa chance. Aproveitar. — ela repetiu com os braços envolvidos no próprio corpo. Tremia.

E Keigo concordou novamente.

A mulher ficou de pé, deu uma última olhada na sala e uma última olhada no filho, virou o rosto mordendo os lábios e num giro deu as costas saindo da casa e abrindo a porta com força. Keigo viu a silhueta esbelta da mãe dele delineada pela luz do dia, os cabelos dourados balançando ao vento como trigo que viu naquele filme e então a porta se fechou com um baque. Mas ele não se assustou por Keigo era um bom menino e esperaria quietinho a mãe voltar do trabalho.

Foi a última vez que Keigo a viu.

O Rei E O PassarinhoOnde histórias criam vida. Descubra agora