Taças

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— Finalmente chegou. — Fujiwara sorriu ao ver Kei.

Kei tirou o casaco e o pendurou no encosto da cadeira.

— Cheguei no horário marcado. — Kei disse despreocupado.

— Estou falando de você fugindo de mim por aí.

— Fugindo? — Kei sentou-se na cadeira do restaurante. — O que fez Fujiwara-san ter essa ideia? — Apoiou o rosto na mão.

Fujiwara riu.

— Você tem sorte de ser bonito.

— Fico lisonjeado. — Kei passou o indicador sobre a boca da taça distraído. Enji estava jantando com os filhos, o que fez com que Kei tivesse a noite toda livre.

Um garçom chegou de repente e serviu vinho a Kei e depois a Fujiwara para logo depois sumir por uma porta. O loiro pegou a taça movimentado-a para o líquido escuro girar.

— Escolhi especialmente para esta noite. — Fujiwara disse com um sorriso no rosto segurando a própria taça.

Kei decidiu que não havia nada além de vinho na bebida e deu um gole:

— Obrigado. — Seus lábios ficaram manchados de vermelho, os lambeu. — É muito bom.

O sorriso do homem aumentou mais, gostava do modo oblíquo que Kei lhe olhava. Bebeu da própria taça escrutinhando o loiro.

— Como você vai, Kei?

— Nada mal. — Deu de ombros. — E você?

— Vou bem, os negócios com a Comissão estão me agradando bastante. Bem como você falou.

— Satisfação é a garantia da casa. — Kei sorriu e bebeu outro gole.

— Eu não diria que estou plenamente satisfeito. — Fujiwara balançou o próprio vinho. — O que andou fazendo esses meses em que esteve fugindo de mim?

— Eu não fugi de você, Fujiwara-san. — Kei explicou sereno novamente. — Trabalhei bastante, andei por aí, a mesma coisa de sempre.

O mesmo garçom voltou com os menús em mãos, deu um para o empresário e outro para Kei que aceitou com um aceno. Fujiwara lia o cardápio com calma, Kei já sabia o que escolheria e por isso deu uma bela olhada ao redor do restaurante.

Fujiwara-san reservou o restaurante todo só para ele durante uma das noites mais movimentadas da semana, as janelas panorâmicas mostravam as luzes da cidade lá embaixo e os isolava de todo o barulho. Apenas a mesa deles estava disposta no centro do salão e havia pelo menos um par de seguranças nas saídas e entradas do lugar. Isso era pra ser romântico? Kei fingiu ler o cardápio, sem dúvidas a intenção de Fujiwara não era ser romântico.

Ele fez o pedido e Kei fez o próprio. Outro garçom chegou e serviu outro vinho para os dois.

— Quais seus planos para hoje a noite, Kei? — Fujiwara praticamente intimou.

— Estou aqui, não estou? — Não o desagrade foi o que Mera lhe disse antes de ir.

O homem mais velho sorriu lupino, a covinha no seu queixo se destacou. Ele bebeu mais vinho.

— Depois de eu mexer os pauzinhos. — Aconchegou-se melhor no encosto da cadeira e perguntou: — Qual é o cara que você tá dando dessa vez?

— É assim que você trata suas hostess?

— Você não é uma mulher. Vamos direto ao ponto.

— Tá bom. — Kei bebeu mais um pouco. — Ninguém. — respondeu.

— Ha! Quer que eu caia nessa? Sem dúvida você tá dando para alguém. Eu conheço?

— Não. — Kei mentiu. — E não é um alguém em específico.

— Vários então? — Fujiwara bebeu mais da taça. — A Comissão realmente tem muitos negócios. Esse é o motivo de estar tão ocupado para não me visitar mais?

Na verdade, eu só enchi o saco de você.

— Também. — respondeu.

— Eu sempre achei vocês da Comissão tão certinhos. Certinhos demais para as desconfianças do meu avô. Pelo visto, ele estava certo. Vocês são todos putas.

Kei suspirou e reencostou-se na própria cadeira também. Balançava a taça em movimentos circulares:

— Naquele tempo, os meus interesses e os interesses da Comissão convergiram. — Outro trago. — A Comissão geralmente não negocia assim.

— Sei. — Fujiwara brincou. — E onde estão seus interesses agora? Pretende ficar na Comissão para sempre?

— Você quer tanto me comer assim? — Kei perguntou.

— Ah, você entendeu. Coitado dos homens que se enganam com seu rostinho.

— É isso que pensa de mim? Que eu seduzo homens por aí?

— Não é o que eu penso. É o que é. Você nunca me enganou.

— E você caiu no truque mesmo assim.

Fujiwara riu, bebeu mais vinho e disse:

— Estou disposto a te dar o dobro que você recebe na Comissão para vir trabalhar comigo.

— Igual as suas “secretárias”? — Kei deixou a taça de lado.

O homem lhe analisou antes de dizer:

— Você seria diferente. Útil de verdade e não apenas alguém para eu foder.

— Nossa, isso foi quase uma declaração de amor. — Kei pegou a taça de água. — Estou tocado.

— Estou sendo direto com você. Somos dois homens. Pra quê mentir?

— Não pretendo deixar a Comissão não importa o salário. — Kei fez um brinde com a taça.

— Vejo que os contratos da Comissão realmente são bem interessantes…

— Nem imagina. — Bebeu mais um pouco de água. — Não pretendo dormir com você também. — Kei esclareceu.

— Vai dizer que não se divertiu naquelas semanas?

— Foi divertido. — Kei disse. — Mas conheço pessoas como você muito bem, se eu der uma vez, vai querer outra e outra e mais outra. Uma chatice sem fim.

— Tem bem experiência nesse assunto pelo visto. — Fujiwara brincou.

— Você nem imagina.

As refeições chegaram, quando os garçons terminaram de servi-los, Fujiwara falou:

— Você não quer entrar na minha empresa agora, mas em breve isso mudará. Porém, não serei tão receptivo como hoje.

— Terei que arrastejar de quatro implorando?

O homem deu um longo sorriso:

— Basicamente.

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Bjinhus!

O Rei E O PassarinhoOnde histórias criam vida. Descubra agora