Desonra

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— Não conte nada para Keigo ou comente qualquer coisa que possa fazer com que ele descubra até que tenhamos controle da situação. — Mera falou do lado de fora do quarto.

— Em um algum momento ele saberá. — Tsunagu falou.

— A Comissão está cuidando de tudo e hoje será o último exame para saber se ele tem alta. Os ferimentos internos de Keigo foram graves, ele não pode ficar agitado. Provavelmente amanhã estará livre.

Tsunagu nunca desviava o olhar:

— Não vou contar, mas a Comissão tem controle da situação?

— Sim, a Comissão sabe onde o Todoroki está cativo. — O celular de Mera vibrou e ele o tirou do bolso do paletó para olhar. — Tudo já acabou.

O celular de Tsunagu também vibrou ele o tirou do bolso da calça jeans e viu a notificação da notícia.

Líder de gangue é preso após tentativa de sequestro de grande empresário.

E embaixo duas fotos, Shigaraki algemado e o Todoroki com a cabeça sangrando. Tsunagu baixou o celular e sério perguntou:

— Mera, você não avisou a Comissão, avisou?

— Avisei, mas a decisão deles foi outra.

— Deixar acontecer para pegarem Shigaraki e a gangue?

— Você sabe como a Comissão funciona. — Mera concordou distraído mandando mensagem para alguém.

— Poderia ter avisado o Todoroki em segredo. É importante para Keigo.

— E meu emprego é importante para mim. — Lia a mensagem que recebeu em troca.

— Ser honesto com os amigos também é importante. — Tsunagu rebateu. — Enganar quem confia em você não é cavalheirismo tampouco honroso.

Mera guardou o celular o bolso, seu olhar não tinha mais o brilho indiferente, apesar da voz demonstrar o esgotamento e cansaço de sempre:

— Por que você acha que a Comissão pega gente como Keigo e eu?

— Não sei porque você está perguntando isso.

— Acha que realmente é por nosso cavalheirismo ou honra? Não, Tsunagu, é porque Keigo e eu somos dois fodidos. Muito fodidos. Não temos pra onde ir além da Comissão. Então a lealdade é garantida. Faço o que mandam.

— Você pode mudar isso se quiser.

Mera riu, Tsunagu ficou surpreso, o riso do homem era de um divertimento trágico.

— Você já passou fome, Tsunagu? Pela sua cara dá pra ver que não. — Inclinou a cabeça, o sorriso amerelo de café continuava desenhado no rosto exausto. — Eu sou apenas um funcionário, ao contrário de você, não tenho uma família com dinheiro para voltar. Eu só tenho essa merda de trabalho e se eu cometer um errinho sequer, não vou conseguir emprego nem em um caixa de supermercado que sua família é dona.

— Tenho certeza que se eles nos ouvirem…

— Para, para — Mera acenou entediado. — A Comissão não é um parente ou um amigo. Ela é uma empresa. Do pior tipo. Pior que uma seita. O máximo de relação que você tem que ter com ela é trabalhar e receber seu salário. É uma troca. Só.

— É uma troca desproporcional. O estado de Kei…

— Ah. — Mera segurou no ombro de Tsunagu. — Então você entendeu como funciona.

Tsunagu ficou chocado:

— Isso é errado.

— Isso é o que querem. — Soltou o homem. — Que você esteja sempre disposto a se sacrificar por ela. E Kei se saiu perfeitamente como o programa de excelência juvenil ensinou. Quantas vidas valem apenas alguns ienes para um monte de bilionários? Faça como eu e não pense muito nisso.

Tsunagu ficou calado sem saber como reagir, quando entrou na Comissão, Kei já estava lá apesar de ser só uma criança. Achou que o programa visava mesmo ajudar crianças carentes. Hoje elas tinham funções importantes em outras empresas. Hoje elas eram artistas. Hoje elas eram vistas como futuro da política. E ainda trabalhavam para a Comissão. Quantas crianças faziam parte do programa mesmo antes dele ser finalizado?

Mera voltou ao seu modo normal como se não tivesse dito nada.

— Seu contrato encerra mês que vem. — falou voltando a usar o celular. — Já estamos preparando os trâmites para a renovação.

— Eu não sei se quero renovar.

O assalariado apoiou uma das mãos na cintura fina e prosseguiu calmamente:

— E deixar seu amigo sozinho com a Comissão? Que desonroso.

O que acharam do capítulo? Deixem seus comentários, críticas, teorias e elogios.
Nos vemos amanhã!
Bjinhus!


O Rei E O PassarinhoOnde histórias criam vida. Descubra agora