Milkshake

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— Eu me comportei bem, não foi? — Kei apoiava o cotovelo na bancada do food truck. — E é um milkshake vegano. Sem todas aquelas coisas gostosas que causam câncer.

— Vegano? — Enji pegou a bandeja com os pedidos.

— Você sabe o que é vegano, meu rei?

— Não sou idiota.

— Claro que não. — Kei puxou a carteira para pagar o pedido.

— Eu pago. — Enji pegou o cartão de crédito, quando terminou, Kei o olhava com as pupilas dilatadas.

— Estou amando nosso encontro. — Kei suspirou encantado.

— Não é um encontro. Estamos do outro lado da rua do seu apartamento.

— Parece um encontro pra mim. Conhecendo novos lugares, tendo novas experiências, criando novas lembranças…

— Só atravessamos a rua.

— Me sinto em um romance… — Kei praticamente saltitava para uma das mesinhas que o food truck montou na calçada. — Será que terá uma trilha sonora? — Kei já vasculhava no celular. Deu play em uma música francesa.

Enji tomou o celular da mão dele parando a música:

— Não estamos num encontro.

— Ah! — O garoto ficou cabisbaixo, no entanto, logo se animou: — Quando vai ser o nosso encontro então?

Enji guardou o celular do loiro no bolso do casaco já arrependido de ter descido para comprar esse milkshake com ele.

— Você me deve um encontro, meu rei. — Kei pontuou e finalmente sentou na cadeira de plástico.

Enji respirou fundo e sentou também, pretendia voltar logo para o apartamento, mas Kei iniciou todo aquele papo sobre encontros lhe deixando um certo peso na consciência. Depois da “reconciliação” Kei dormiu três dias seguidos de bruços e Enji realmente lhe prometeu um encontro naquela época.

— O que você fez com os lençóis? — Enji perguntou constrangido, suas orelhas quentes. Haviam pequenas manchas de sangue no jogo de cama.

— Que lençóis? Ah, daquela vez que você me arrombou sem dó nem piedade? Mandei lavar. Faz tempo isso, grandão. Eles estão como novos igualzinhos a uma coisinha, mas isso você já sabe, meu rei. — Kei deu uma piscadela para ele.

O homem expirou irritado. Por que ainda tentava?

— Tome seu milkshake. — e completou: — Calado.

— Mas não vai ser um encontro se a gente não conversar. — Kei pegou o copo frio de plástico biodegradável.

— Não. Estamos. Num. Encontro. — Enji falou entredentes.

— Ou você prefere só olharmos apaixonadamente um para o outro? — Kei simplesmente o ignorou. — Estou olhando apaixonadamente para você agora. Está gostando? O que acha? — Brincou com as sobrancelhas.

— Que é melhor você ficar calado. — Pegou o próprio milkshake. Há quantos anos não tomava um?

— Vivo para obedecer, meu rei.

Kei viu a expressão do homem mais velho para a bebida enquanto mexia ela com o canudo e disse:

— Não se preocupe, tem zero açúcar e gordura. 100% saudável. Não vai estragar esse seu corpo sensual que…

— Já entendi. — Enji interrompeu irritado.

Experimentou o milkshake e não era de todo ruim, lhe lembrava as vitaminas que tomava antes de malhar.

O Rei E O PassarinhoOnde histórias criam vida. Descubra agora