O Rei E O Passarinho

Todas as vezes

Kei trazia as roupas para a mansão para lavar nas máquinas e acabava ficando mais, principalmente nos finais de semana. Agora eram raras as noites deles dois no depósito assim como as de Kei sozinho.

A maioria dos finais de semana eles passavam sozinhos por completo. Shouto quando saía do dormitório preferia ficar com a mãe. A relação com o filho mais novo era uma ponte ainda em construção que demoraria muito tempo e talvez não desse fruto algum.

— O importante é tentar. — Kei dizia ao erguer o rosto do seu peito e lhe dava um beijo na bochecha.

Fuyumi estava feliz pelo pai e o namorado dele, sempre visitava os dois e era óbvio que Kei estava praticamente morando ali. Ficava feliz por o pai não estar sozinho o tempo todo.

Em um dia enquanto marcava pelo telefone um jantar na mansão com os dois, Natsuo apareceu do nada atrás dela e disse:

— Vou com você.

Ela ficou surpresa. Shouto acabou indo junto, quando não estava ocupado na escola, ele sempre a acompanhava nos jantares, mas dessa vez o jantar não era somente com o pai.

— Estou indo só pra checar se ele não fez nada contra Kei. — Natsuo falou desviando o olhar.

Por mais que não fosse um avanço real, ainda era alguma coisa. Fuyumi sorriu em compreensão para o irmão.

Natsuo achou que Kei ficaria desconfortável ao vê-lo, mas o loiro ficou feliz e perguntou muito próximo como estava. O nervosismo de Natsuo voltou todo de uma vez, Kei estava com o cabelo cortado, sem o cavanhaque, uma leve cicatriz na bochecha e mais radiante do que nunca. Como alguém assim se apaixonou perdidamente pelo seu pai? Natsuo nunca entenderia, mas se Kei estava feliz e o velho não estava fazendo nenhum mal a ele, estava tudo bem.

Sentaram-se na mesa, Natsuo vigiava Enji mais observador do que nunca quando Shouto perguntou de repente:

— Por que tem tanto frango e energético na geladeira?

Fuyumi parou de mastigar tensa, Natsuo estava igual, ambos se olharam.

Ele não sabe?!

Você não contou? Natsuo encarou a irmã.

Achei que ele soubesse. Você não contou? Fuyumi encarou de volta.

Não!

Nem eu! Achei que ele soubesse de tudo! Como pode ele não saber?

Eu não sei! Conta pra ele!

Conta você!

Você!

Você!

Ficaram em uma disputa silenciosa, então olharam para o pai e o namorado alheios à toda situação. Enji enchia o prato de Kei com salada e esse flertava descaradamente com o homem enquanto mastigava um aspargo. Fuyumi suspirou e deu de ombros com a expressão de "deixa eles resolverem esse assunto". Natsuo concordou também lavando as mãos do problema.

— Até o pai de merda tem um melhor amigo. — Shouto falou quando deixaram a mansão.

— É... melhor amigo... — Fuyumi disse sem graça.

Natsuo deu uma olhada para trás ainda preocupado, o pai estava de braços cruzados com a cara fechada vendo-os partir, Kei ao lado pulou de repente para agarrar o pescoço dele. O pai não desfez a cara amarrada e nem descruzou os braços, porém não pareceu se incomodar nenhum pouco quando Kei lhe deu um beijo na bochecha e permaneceu pendurado em si ficando no chão só com as pontas dos pés. Natsuo torcia mesmo para que Kei fosse feliz.