Voltando

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Kei se arrastou para o banheiro e após vomitar pela quarta vez toda a bebida do mundo se perguntou como foi que chegou em casa. Depois da décima sétima bebida não se lembrava de nada.

Olhou ao redor abraçado ao vaso sanitário e depois olhou para si mesmo com a certeza de que não usava essa cueca ontem à noite. E por que estava só de cueca? Quando chegava em casa apenas tirava os sapatos e se jogava na cama. Hoje até cheirava a shampoo!

Deus, deus, deus… como a cabeça doía! Ontem deve ter sido louco, teve até alucinações… tentou segurar, não deu, voltou a vomitar todas as tripas fora e também o fígado. Todo o banheiro agora cheirava ao álcool que consumiu na noite passada, Kei ficou com medo de riscarem um fósforo perto e seu corpo entrar em combustão.

Decidiu que não beberia essa semana, afogaria sua depressão pós pé-na-bunda em outra atividade, talvez mergulhar no videogame, se empenhar mais nos exercícios ou se sentar em algum pau que quem o tirasse de lá seria considerado o novo Rei Arthur. Eram muitas opções. Kei estava destruído, mas com o tempo a ferida não iria mais importar assim como todas as outras que guardava para si fingindo que não existem e seguindo em frente como sempre fez. Como sempre faz.

Já tinha um outro plano: arranjaria um outro daddy… ah! Só falar em daddies já lhe enchia os olhos de lágrimas! Enji idiota! Velho arrogante idiota! Velho estúpido! Velho gostoso com a droga de um perfeito rosto simétrico e maxilar divino! Droga! Nem podia olhar para aquelas estátuas gregas que ficava sentimental! Foi tentar assistir um documentário qualquer para se distrair e a primeira imagem foi dessas estátuas, terminou chorando enquanto se enchia de sorvete de creme e vodka. Patético chorando às 2 da manhã por causa do History Channel.

Mas Kei se recompôs na manhã seguinte e trabalhou, saiu de noite, fez amizade com um mendigo que lhe aconselhou a ficar com gente da sua idade, então Kei virou a noite na rua e na manhã seguinte transou com Dabi dentro de um carro num beco. Sim, estava se recuperando, mas aí voltou para casa, dormiu e acordou chorando no travesseiro o nome de Enji.

Kei sabia que só precisava de um tempo.

E de um abraço. O vaso sanitário cobria essa função, esses dias era quem Kei mais abraçava todas as manhãs.

Após seu estômago dar um tempo entre os lapsos de vômito, Kei aproveitou para recapitular o que aconteceu na noite passada antes de perder a memória: foi para uma boate, ficou com dois caras lá, foi para um bar, foi para uma loja de conveniência, foi para seu fast-food preferido, vomitou seu fast-food preferido numa rua deserta, voltou para a loja de conveniência para limpar a boca com enxaguante bucal que saiu bem caro aliás e por último foi para o bar que sempre ia e não lembra mais.

Porém, chegou em casa, então alguém lhe trouxe ou pegou um táxi, teve um monte de alucinações pelo caminho e a leve impressão que tentou entrar na casa errada. Estava limpo e com outra cueca, Kei não teria a capacidade de fazer isso sozinho, logo concluiu que alguém o ajudou.

Eu trouxe algum maluco para casa? Pensou. No entanto, se desmentiu em breve, porque não importa o quão louco estivesse era certeza de que nunca traria ninguém para o apartamento nem mesmo sua melhor amiga que estava ocupada sendo uma musa fitness pelo mundo. Portanto, só restava uma opção.

Kei ouviu sons vindo de fora do banheiro e elevou a voz ao ouvir eles se direcionando para o quarto e em seguida a maçaneta girando:

— Dabi, é você? — Em seguida voltou a vomitar.

Ele não respondeu parado no batente da porta. Kei limpou a boca encarando todo o líquido transparente que expeliu. Não conseguia erguer muito a cabeça porque toda aquela luz queimava seus olhos.

O Rei E O PassarinhoOnde histórias criam vida. Descubra agora