Baratas envenenadas

124 25 18
                                    

Atenção: violência e abuso infantil à frente.
Leia com cuidado!

Keigo sonhava com a mãe quando ouviu alguém xingar.

— Porra! — Kyo sussurrava e grunhia baixinho. — Filho da puta!

Acordou na hora. Se apoiando nas paredes na penumbra, Kyo se arrastava pelo apartamento pressionando um ponto da barriga.

— Filho da puta. — xingava mordendo os lábios.

Ele foi cambaleando para o banheiro, acendeu apenas a luz do banheiro. Keigo curioso o seguiu e dessa vez foi ele que parou na porta.

Kyo estava sentado ao lado da pia e seu rosto mais pálido do que nunca escorria suor gelado. Ele segurava um ponto da barriga que subia e descia pesadamente.

— Ah, você tá aí. — Ele só havia percebido a presença do menino agora. Carregava um sorriso cansado no rosto. Olhou para a própria barriga. — Merda.

Seus dedos estavam vermelhos e quando tirou-os do ponto pressionado a mancha escura na camisa preta cresceu.

— Eu vou morrer aqui, Keigo? — Riu.

A mão suja buscou alguma força na pia, mas tudo o que conseguiu foi espalhar uma palma sangrenta na porcelana verde. Keigo não se mexia.

Kyo tirou a jaqueta fazendo uma careta de dor e depois a camisa xingando muito mais. Keigo não conseguia dizer de onde era o ferimento, todo o torso pálido do homem estava manchado de rubro e manchava mais espalhando entre as lajotas.

— Esse merda achou mesmo que me levaria pro inferno com ele? — Kyo riu de novo e procurou na jaqueta por algo.

Dos bolsos dela tirou uma garrafinha escura, gaze, algodão e bandagens. Suas mãos empapadas no próprio vermelho abriram a garrafa e ele despejou o conteúdo sobre o ferimento, cheiro de álcool e sangue infestaram o banheiro, Keigo viu a origem do ferimento. Um corte centímetros perto do umbigo apenas alguns dedos acima, assim que foi limpo cuspiu mais sangue.

— Uma toalha limpa. — Kyo mandou respirando pesado, a cabeça apoiada nas lajotas frias.

Keigo correu para fazer o que ele pediu e voltou correndo também, Kyo pegou a toalha com mãos ensanguentadas das suas, despejou o líquido sobre o tecido e pressionou-o contra o ferimento. Logo a mancha vermelha surgiu na toalha, mas não se espalhou tanto. A respiração dele continuava pesada e os lábios azuis. Ele parou de pressionar a toalha e checou a nova boca que tinha no corpo.

— Acho que não atingiu nenhum órgão.

— Hospital? — Keigo perguntou descalço no meio do sangue e remédio. Não conseguia ver o ferimento dali.

Kyo riu e com dificuldade se levantou. Keigo ficou com medo que ele caísse pois seus passos eram erráticos e arrastados, ele pingava sangue por onde ia. Tão fraco e tonto quanto as baratas que Keigo espirrava veneno pelo apartamento. Pegou a bolsa e se deixou desabar no chão, abriu-a e as mãos ensanguentadas vasculharam até encontrarem uma bolsinha menor dentro.

Dentro dessa bolsinha menor, Kyo tirou um rolo de linha e uma agulha que parecia um gancho. Ele enfiou a agulha na pele atravessando-a do outro lado e puxou a linha.

— Presta atenção que um dia isso vai ser útil para você. — Kyo riu enquanto suor frio escorria de sua testa e ele costurava a própria carne. — Quem diria que eu seria um pai melhor que o meu?

Aos poucos a linha grossa foi fechando o ferimento em uma boca mal-humorada. A mão manchada apontou para a bolsinha.

— Tesoura.

O Rei E O PassarinhoOnde histórias criam vida. Descubra agora